Introdução do Blogueiro:
Vou deixar, abaixo, as (más)impressões de um jovem pastor, presente na última
Convenção da CGADB em Vitória/ES, abril de 2009. Também vou deixar
registrado aqui, hoje, 09/10/12, que certamente a Imprensa vai estar
presente em 2013, pois o pleito assembleano é tão grande quanto uma cidade de 30
mil habitantes. Creio que este simples post de forma alguma trará
algum interesse para os protagonistas da Convenção do ano que vem.
Entretanto, quero registrar que não me surpreenderia
se o resultado destas eleições fosse matéria de capa da Revista Veja.
Torço sinceramente para que nessa reunião não se repita os mesmos fatos já rotineiros de outras ocasiões, pois podem desmoralizar àqueles que perderem a
compostura. A Convenção já não é mais assunto restrito a quatro paredes. Ela estará sendo exposta à luz do meio-dia. Quem tem ouvidos... ouça. Ponto. (João Cruzué).
Eis o texto:
Pastor E. L.*
"Sou
um jovem obreiro da Vinha do Senhor, hoje com 32 anos, casado e pai de
um menino lindo. Entrei no Seminário teológico aos 17 anos; concluido aos
20. Fui ordenado ao Ministério com 27 anos e, mesmo antes disso, já
desenvolvia diversas funções na estrutura da igreja. Sou neto de pastor
(tanto por parte de mãe quanto de pai), meu pai era Presbítero da Igreja
(dirigiu várias igrejas), sobrinho de pastor, irmão de pastor... Enfim,
sou a terceira geração de pastores dentro da Igreja.
O Senhor me deu o
privilégio de ter uma formação Teológica sólida e em escolas de
excelente qualidade. Meus diplomas não são comprados pela internet.
Escrevi seis livros, publiquei artigos (inclusive no Mensageiro da Paz).
Tenho o privilégio de servir ao Senhor em uma excelente igreja com um
excelente Pastor presidente e lá desenvolver a vocação que o Senhor me
concedeu. Estou escrevendo estas informações pessoais para dizer que,
embora jovem, possuo raízes profundas.
Talvez quando os meus
cabelos embranquecerem, eu olhe para trás e leia este artigo e então
perceba que na juventude deveria ter sido mais ponderado em minhas
palavras... Mas o fato é que neste momento em que escrevo estas
palavras, sentado na cadeira apertada deste avião, percebo que não é
somente os espaços diminutos das cadeiras que incomodam as minhas
pernas, mas o aperto que sinto no meu coração é mais apertado e incômodo
do que estas cadeiras.
Estou voltando da 39ª AGO da CGADB no
estado do Espírito Santo. Volto desta AGO com marcas profundas.
Sinceramente, não sei se em minhas orações peço a Deus para que apague
estas marcas ou para que as deixe para que eu nunca mais me esqueça do
que aconteceu, dos sentimentos que tive sentado naquele auditório. Não
seria elegante de minha parte relatar algumas das palavras ditas (bem
feias, diga-se de passagem) e nem algumas cenas deploráveis que
presenciei.
Talvez alguém diga: “ele ficou assim porque o vencedor do pleito não foi o que ele votou”. Tenha certeza, esse não é o problema.
As
marcas com que saí desta AGO me dizem que está banalizado o Ministério
Pastoral. Todos nós somos pecadores e estamos sujeitos ao erro. Não
foram poucos os erros apresentados naquela plenária, sobre tudo em
relação a balanços financeiros “maquiados”, informações falsas, e que
ficou comprovado.
Mesmo assim não houve nem um pedido de desculpas, perdão.
Nem
uma palavra como: “por favor, em nome de Jesus me perdoem, foi um erro
acidental, não uma prática comum”. Nada disso. Pelo contrário. Fomos
brindados com uma “pérola”: “isso é prática comum nas convenções e
presidência de ministérios”! Só se na convenção ou ministério de quem
disse isso!! Na igreja em que trabalho não!!! Na Mesa, nem uma palavra
sobre isso. Assistiam a tudo imóveis (pelo menos essa era a impressão
que se tinha do plenário); nem um pedido de perdão, desculpas... Talvez
para eles pastor pedir perdão não seja ético.
No final, 80% da
chapa foi eleita. Sem desculpas, sem maiores explicações... mas a culpa
não é deles... talvez estejam certos... talvez realmente seja prática
comum... a maioria aprovou a continuidade... e uma continuidade a mais
de 20 anos... é... talvez realmente seja prática comum. Tão comum que a
maioria nem se espanta quando nem uma retratação pública é feita.
As
marcas que saí desta AGO também foram feitas por “cabos eleitorais”. Me
perdoem a franqueza, pareciam mais “Pit buls” enfurecidos a berrar nos
microfones: “prevaricou, prevaricou, prevaricou!!!” A impressão que
tenho é que nunca vou esquecer o olhar, o rosto de um deles vociferando
no microfone e em direção a câmera que transmitia as imagens para o
telão. Nesse momento alguns de nós se sentiram como “ovelhas no meio de
lobos”. Ainda fecho os olhos e vejo aquela face raivosa vindo em minha
direção.
As marcas que saí desta AGO me confirmam que o poder
corrompe, e que as pessoas se apegam a ele. Também me diz que Jesus não
criou a igreja para ser uma instituição tão poderosa que amizades de
anos se percam nesta disputa. Alguns tem a ousadia de dizer que no
plenário vale tudo, os nervos se exaltam... Mas do lado de fora não...
é... Talvez seja verdade, talvez Jesus só esteja mesmo do lado de
fora...
As marcas da saída desta AGO me fizeram lembrar das
palavras de Jesus: “o que adianta ganhar o mundo intero e perder a sua
alma”? Estas marcas me fazem lembrar que perder a alma não é só ir para o
inferno. Você perde a alma quando perde a sua família, seus amigos.
Você perde a alma quando se vende para a instituição, para a
politicagem, para a disputa sem escrúpulos, quando se vende para o
poder. Quando isso acontece, os sentimentos se entorpecem, a mente
cauteriza... Ganha-se o mundo... Perde-se a alma, perde-se o libertador
da vida.
As marcas desta AGO me fizeram lembrar de um texto do
livro “Sete Hábitos das Pessoas Muito Eficazes”, escrito por Stephen R.
Covey: “Quando olho para as tumbas dos grandes homens, qualquer
resquício de sentimento de inveja morre dentro de mim; quando leio os
epitáfios dos magníficos, todos os desejos desordenados desaparecem;
quando me deparo com o sofrimento dos pais em um túmulo, meu coração se
desmancha de compaixão; quando vejo a tumba dos próprios pais, lembro-me
de como é vão chorarmos por aqueles que logo seguiremos; quando vejo
reis colocados ao lado daqueles que os depuseram, quando medito sobre os
espíritos antagônicos enterrados lado a lado, ou os homens sagrados que
dividiram o mundo com suas discussões e contendas, medito cheio de dor e
surpresa, sobre a pequenez das disputas, facções e debates da
humanidade. Quando leio as variadas datas dos túmulos, algumas recentes,
outras de seiscentos anos atrás, penso no grande Dia, no qual seremos
todos contemporâneos, e faremos nossa aparição conjunta”.
As
marcas desta AGO me dizem que a sedução do aplauso é vã. As disputas e
invejas nos igualam aos homens maus. Para os que entram na corrida por
posição e triunfo, não há vencedores, é uma corrida perversa que no fim
esmagará a nossa alma. O Reino de Deus é diferente, o maior é o menor; a
matemática de Deus é diferente, Ele deixa noventa e nove ovelhas para
buscar uma; revira toda uma casa arrumada para encontrar uma simples
drácma perdida. Os valores do Reino são superiores, não podemos
trocá-los pela moda do dia ou por um poder temporal. Somos chamados a
sermos ovelhas.
Houve um homem na história, filho de um bom pai,
educado nos princípios religiosos que seus pais haviam recebido de Deus,
mas que não conseguiu compreender os princípios do Reino de Deus. A
história não o perdoou. Esse homem é Esaú. A história acusa Esaú de
trocar a benção futura por um prazer imediato (Hb 12.16), dando a ele um
adjetivo: profano.
Não sei se vale a pena orar a Deus para que
apague estas marcas. Não quero ser lembrado como PROFANO. Quero tentar
entender o Reino de Deus. Quero aprender a me arrepender das minhas
mazelas. Quero aprender a pedir perdão. Não quero perder a minha alma."
*Julguei conveniente resguardar o nome do Pastor.