quinta-feira, setembro 04, 2025

O Último Capítulo do Livro de Jó


Jó e seus amigos

Por: João Cruzué

O último capitulo do livro de Jó nos apresenta o final de uma das mais intrigantes histórias da Bíblia. Ele perdeu tudo: bens, filhos, saúde, amigos e até a tranquilidade de sua alma. Em meio à dor, buscou respostas e não as encontrou. Debates e acusações se arrastaram por dias, mas a angústia permanecia. No último capítulo, porém, vemos algo extraordinário: Jó não recebe uma explicação de Deus, mas algo muito maior: a presença de Deus. Sua maior bênção não foi receber o dobro de tudo quanto possuiu no passado, nem a devolução da família com dez filhos de volta. Jó alcançou uma compreensão bem mais profunda da grandeza do Senhor.

Depois de reclamar da vida e dos amigos Jó finalmente fala com Deus e Deus não responde um "a", ao contrário: lhe faz uma série de questionamentos. Jó reconhece a verdade: que o Senhor é soberano e Seus planos não podem ser frustrados. Ele percebe que havia falado do que não compreendia. Antes, conhecia a Deus apenas de ouvir falar, mas agora O conhecia de perto. Esse foi o momento da mudança de visão. A dor não foi capaz de destruir sua fé, ela se tornou muito mais madura. Jó entende que a vida não se trata de dominar todas as respostas, mas de confiar em Quem tudo governa. E é justamente quando aceitamos que não sabemos tudo é que passamos a enxergar Deus de mais perto.

Esta descoberta leva Jó à humildade. Ele deixa de buscar justificativas e para de se defender. Diante da grandeza de Deus, a melhor resposta é se render. Essa atitude nos ensina muito, porque todos nós, em algum momento, passamos por situações que não compreendemos. E, então perguntamos: “Por que eu, Senhor? Por que agora?” Mas muitas vezes, em vez de respostas, o que recebemos é a presença de Deus que nos sustenta. E essa presença vale mais do que qualquer explicação. Jó saiu do campo teórico para descobrir isso na prática: quando o coração se cala diante de Deus, nasce uma paz que a dor não consegue apagar.

Neste mesmo capítulo, Deus se volta contra os amigos de Jó. Eles falaram muito sobre Deus, porém os discursos e as réplica deles estavam assentados em um saber formalista e distorcido do verdadeiro Deus. Por isso, o Senhor os repreende e manda procurarem por Jó para  que interceda por eles. Esse detalhe é muito importante: o homem que havia sido acusado por eles é quem deve orar por eles. É uma cena de reconciliação, de perdão e de restauração. Jó, que tinha todo motivo para guardar mágoa, escolhe orar e abençoar. Isso nos mostra que a cura do coração muitas vezes passa pelo perdão, mesmo quando parece impossível. A visão de seus amigos estava errada. Pareciam como Saulo de Tarso a caminho de Damasco. Depois da repreensão e da humilhação, certamente seriam bons consoladores.

A Bíblia diz que o Senhor mudou a sorte de Jó quando ele orava por seus amigos. A bênção veio depois da intercessão, mostrando que o perdão abre espaço para a restauração. Deus devolve em dobro o que Jó havia perdido, concede-lhe novamente filhos e filhas, e prolonga seus dias. Mas a restauração não apaga o passado, porque os filhos que se foram não voltaram. O que acontece é ainda mais profundo: Jó experimenta que a fidelidade de Deus é capaz de escrever novos capítulos de alegria, mesmo depois de uma estação cheia de perdas.

As filhas de Jó recebem destaque no texto, algo raro naquela cultura. Elas são citadas pelo nome, descritas como mulheres de grande beleza e recebem herança junto com os irmãos. Isso mostra que a restauração de Deus não é apenas devolver o que foi perdido, mas também trazer novidade, justiça e sinais de renovação. O livro termina mostrando Jó vivendo muitos anos, vendo gerações nascerem e partindo em paz. Depois da tempestade, ele encontra descanso. É como se a vida dissesse: “O sofrimento não foi a última palavra.” Deus sempre tem o poder de reescrever nossa história.

Os designos de Deus são insondáveis. Em tempos de Teologia da Prosperidade seria um contrassenso descobrir que Jó só ouviu a voz de Deus depois que perdeu tudo e não tinha mais nada: riquezas, família, saúde, dignidade nem amigos. Todavia ele, assim como Saulo de Tarso, alcançou o que pouquíssimos conseguem: ouvir a voz do próprio Deus e andar na presença dele.

Satanás (o diabo) foi o causador das perdas e do sofrimento de Jó. Foi também o maior derrotado. Os amigos formalistas não o perceberam, nem Deus disse coisa alguma sobre isso para Jó. Entrou anônimo e soberbo e voltou ao anonimato derrotado. Pensou que iria debochar de Deus por causa da fraqueza humana. Não foi Jó o grande vencedor, foi o Senhor Deus de Israel.

O último capítulo do livro de Jó nos mostra que o maior tesouro não foi o dobro de riquezas, nem mesmo os anos de vida que ganhou, mas o conhecimento mais profundo de Deus. O sofrimento, que parecia sem sentido, se tornou o caminho para uma fé mais madura e para uma experiência mais íntima com o Senhor. Assim como Jó, muitas vezes nós não recebemos respostas prontas para nossas dores. Mas, podemos receber algo ainda maior: a certeza de que Deus está conosco e que nenhum dos seus planos pode ser frustrado. A história de Jó termina com esperança. Assim como o Senhor Deus de Israel que restaurou  a Jó, Ele é o mesmo que cuida de nós hoje e sempre.



SP-04.09.2025