sábado, novembro 07, 2015

Geografia do caminho da lama da barragem da Samarco em Mariana


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Um rio de lama passou por cima de Bento Rodrigues

Distrito de  Bento Rodrigues - Mariana-MG
POR: JOÃO CRUZUÉ
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Nasci em um sítio no  Córrego do Bubu,  no antigo distrito de Xopotó. Ali passa Rio do Carmo que fazia divisa do sítio do meu avô Sebastião Vitorino Cruzué com outros sitiantes. Naquela época (1956) meu pai era recém-casado e também morava por ali. Minha mãe e eu chegamos a tomar banho nas águas encachoeiradas deste Ribeirão do Carmo que descia de Barra Longa, Ouro Preto e Mariana/MG. Eu soube que, nos anos 50, no tempo de descanso (secas) das atividades agrícolas, o povo do campo ia batear ouro nas areias do Ribeirão do Carmo - antes chamado de "Corgo" do Ouro. 

Nesta primeira semana de novembro de 2015, um desastre ocorreu em duas barragem de mineração, para cima de Mariana, chamou a minha atenção (e a do mundo inteiro), tal fora a violência  com que um rio de lama vermelha desceu, arrasando tudo pelo caminho, a partir do povoado chamado Bento Rodrigues. 

Curioso, fui estudar a Geografia do negócio, pois tenho ouvido muita tolice sobre o caminho da lama, previsto para chegar em Governador Valadares depois de domingo.

De uma forma bem simples, e com apoio dos mapas do Google maps, a coisa é assim: Uma barragem da Samarco Mineradora estourou (Fundão) e levou consigo também a lama da barragem de Santarém que fica a jusante, 15 km acima do distrito de Bento Rodrigues. O curso d'água nesta região é o Rio Gualaxo do Norte. Este Rio desce  (de Oeste para Leste) até a cidade de Barra Longa e se torna afluente do Rio do Carmo ou Ribeirão do Carmo como se dizia antigamente. 

O Rio do Carmo segue em direção à cidade de Rio Doce, passando pelo sítio do meu avô paterno (já falecido), para se juntar com o Rio Piranga, que vem da cidade de Ponte Nova-MG. Na junção das águas destes dois Rios forma-se o Rio Doce. 

Daí para frente, vem outras cidades, com destaque para Ipatinga, Governador Valadares, Conselheiro Pena, Resplendor e Aimorés no Estado de Minas. Depois, no Estado do Espírito Santo vem Baixo Guandu, Colatina e Linhares.

Em nenhum momento o Rio Piracicaba entra no curso desta desta lama. Apesar de passar muito perto, ele saí de outra vertente, 30 km ao norte da lavra de mineração da Samarco. Em lugar de descer para o Rio do Carmo, o Rio Piracicaba segue em direção a João Monlevade, passando por Nova Era, descendo para Tímoteo, Cel. Fabriciano, até se juntar ao Rio Doce na cidade de Ipatinga. 

A lama também nunca iria atingir a cidade de Ponte Nova, pois não poderia subir pelo Rio Piranga acima, a partir da sua junção com o Rio do Carmo lá embaixo.

Clique nas fotos abaixo para que elas se abram totalmente para você analisar melhor o caminho da lama que começou com o desmoronamento de uma barragem, que por sua vez estourou outras duas no município de Mariana-MG

Matéria atualizada em 11.11.11: Notícia importante. Hoje veio ao conhecimento  da sociedade brasileira que as licenças ambientais da Mineradora Samarco (Vale do Rio Doce)  estavam vencidas. Sendo isto verdade, não havia fiscalização alguma por aquelas bandas...



Fonte das Fotos: Google Earth;
Edição do Mapa: João Cruzué;
Fonte da localização das Barragens: Corpo de Bombeiros/MG

Foto 1 - Barragens da Samarco

As Barragens do Fundão e Santarém desmoronaram. A Barragem Germano ainda está de pé.


 Foto 2: Como aconteceu
                                       
A Barragem Fundão desmoronou, a lama desceu e extravasou a Barragem Santarém que estava no caminho.  No caminho da lama estava Bento Rodrigues, um Distrito da cidade de Mariana-MG. Depois de Bento Rodrigues, a lama chegou ao Rio Gualaxo do Norte. O Rio Gualaxo do Norte é afluente do Rio do Carmo, o encontro das águas fica antes da Cidade de Barra Longa. O Rio do Carmo, ou Ribeirão do Carmo, segue até as proximidades da Cidade de  Rio Doce onde suas águas se unem com as do Rio Piranga, que vem da cidade de Ponte Nova; juntos, os dois rios formam o Rio Doce que sobe até a cidade de Ipatinga onde recebe um grande afluente, o Rio Piracicaba, que vem das vertentes de Itabira/João Monlevade. Depois o Rio Doce continua indo para o Norte até Governador Valadares, onde muda de direção para o Leste, seguindo para o Estado do Espírito Santo onde desemboca no mar. Segundo notícias veiculadas na imprensa, a lama tirou todo oxigênio da água e, por onde passou, matou todos os peixes do rio.


Foto 3: o Rio Gualaxo do Norte desagua no Rio do Carmo na cidade de Barra Longa-MG


Foto 4:  o Rio Carmo se junta com o Rio Piranga  para formar o Rio Doce, no município de 
Rio Doce, antigamente conhecido como Alto do Rio Doce.



Mapa 1: Junção do Rio Piracicaba com o Rio Doce na cidade de Ipatinga-MG
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Rio Piracicaba x Rio Doce




Foto 5: A casa onde nasci, perto do Rio do Carmo

Ela fica a 500 metros do Ribeirão do Carmo
Córrego do Bubu
a 5 km da antiga estão de trem de Xopotó.



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13 comentários:

Anônimo disse...

Matéria de excelência como é praxe, mas essa ganha uma notoriedade, o sr.conheceu a região, vivenciou descer as águas do Ribeirão do Carmo. Parabéns pela riqueza do texto. Grande abraço.

Fred disse...

Parabéns

Joao Cruzue disse...

Pastor Vanelli, retribuo o abraço. Eu não ia escrever nada, mas comecei a ver muita tolice, falando que a lama iria passar por Ponte Nova (lama não sobre rio acima) (onde fui registrado) depois por Nova Era que é cortada pelo Rio Piracicaba vem de uma vertente completamente, Aí, só me restou escrever algumas linhas. Estas matérias atuais trazem novos leitores para nossos blogs. Obrigado Pr. Vanelli.

Joao Cruzue disse...

Abraço, Fred.

Anônimo disse...

Estava querendo entender melhor a trajetória da lama e encontrei esclarecimento no seu texto. Obrigada.

Unknown disse...

Matéria de excelente qualidade e muito esclarecedora. Parabéns ao seu autor. Resido também em Minas Gerais e graças à providência divina, fora da rota da destruição, imposta pelo mau uso dos recursos naturais pelo inescrupuloso ser humano. Lamento profundamente pela situação de desespero pela qual estão passando os nossos irmãos no caminho da rota de lama. Que DEUS tenha misericórdia deles, fazendo suprir as suas necessidades.

Unknown disse...

Boa tarde, ando um pouco preocupada com a trajetória da lama da barragem do Germano. Caso essa barragem vier a se romper, haveria alguma possibilidade de atingir o distrito de Vargem Linda, cortado pelo Rio Prata? Caso consiga me informar, ficaria agradecida.

Anônimo disse...

A primeira barragem a romper, a de Santarém, é a que está próximo a palavra Google na foto 1 ?

Wilma Rejane disse...


Um desastre que poderia ter sido evitado, mas infelizmente faltou responsabilidade. Fica o alerta e o luto pelas vidas que se foram.

Triste, o homem governa com direitos de cuidar da terra que Deus deu, contudo, é o mesmo homem que mata e destrói.

Clovis disse...

Boa Noite!
Acho que a lama poderia ter sido retida nas usinas hidrelétricas e/ou barragens a partir do momento que se soube do rompimento.
Se a lama não ficasse retida na primeira, poderia ser retida na segunda ou terceira. O que acha? Daria tempo de prepara a população.

João Leão LYRIO disse...

UHE Baguary, a montante de Valadares, ficaria assoreada e s/ máquinas (150MW) de fluxo, inoperantes ...

Joao Cruzue disse...

Clovis, Acho que a lama depois que chegou ao Ribeirão do Carmo se tornou em água barrenta. Dessa forma, as barragens das Usinas Hidrelétricas não receberam lama na forma com que elas vazaram na origem, mas aquela água amarelo-avermelhada. Se fosse apenas lama, teria ficado pelo meio do caminho no fundo dos rios. O que me deixou surpreso, foi que na Barragem de Mariana, a água que corre continua barrenta. Como deve estar chovendo naquelas cabeceiras, temo que a lama que vazou daquelas barragens de Mariana continue a correr pelo Rio Doce durante meses. Aniquilando qualquer vestígio de vida que houve por ali. O que pode ajudar na recuperação, é que os afluentes do Rio, com exceção do Ribeirão do Carmo vão povoar de peises outra vez o Rio Doce. O Governo mineiro poderia incluir um Programa em seu Orçamento para 2016, que eliminasse a burocracia (IBAMA) que impede os sitiantes de fazer pequenas barragens no tempo das águas para criar peixes. Por exemplo, eu vi uma quantidade enorme de cascudos mortos. No tempo das águas, toda aquelas enchentes que passam pelos sítios, poderiam ser aproveitadas em pequenas barragens para criar peixes. Na hipótese de desastres ambientais, como este de Mariana, a repovoação poderia ser feita com a metade do tempo.


É uma situação jamais enfrentada.


Obrigado pelo seu comentário







Joao Cruzue disse...

Abraço, João Leão Lyrio. Obrigado pelo comentário.