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Sammis Reachers
Desde
a minha mais tenra infância, a Segunda Guerra Mundial foi o evento
histórico que mais me fascinou e, como tal, eu lia e via tudo a
respeito. Há algum tempo, tomei a resolução de elaborar uma pequenina
antologia de poemas sobre a Segunda Guerra, da lavra de significativos
poetas de todo o globo, com a condição de terem sido contemporâneos ao
conflito. Ainda que trabalhos correlatos existam em inglês, não são nem
um pouco comuns em nosso idioma, e minha ideia é sempre, para usar uma
expressão tão marcial, franquear tudo gratuitamente na internet, publicando em formato de e-book.
Ideia
puxa ideia, e acabei escrevendo, há algum tempo, uma série de três
poemas sobre a Segunda Guerra (A Neve/O Trigo /A Náusea). Pretendia
publicá-los com notas explicativas (necessárias para aqueles que
desconhecem detalhes do conflito, para facultar a plena compreensão dos
fatos citados nos textos) em algum blog. E por fim, pensando em tais
notas, me veio a ideia de escrever mais alguns textos assim, ambientados
seja na 2° Guerra, seja também em outras guerras ou regiões/períodos
conflagrados. E numa mesma semana vieram uns 7 ou 8 poemas... E assim
foram emergindo. Somando-se a alguns outros, mais antigos, mas de
temática ou roupagem de fundo bélica, eis aqui formado este estranho
libreto de poesias tristes...
Os
poemas aqui reunidos foram escritos sob a égide existencialista, à
sombra ou estranha luz de uma profunda percepção da Queda, e a angústia
inolvidável que a condição humana (angústia que numa guerra é holisticamente potencializada ao seu nível máximo – e eis daí meu interesse na guerra máxima) influi em cada uma de suas partes, cada um de nós. Tudo é vaidade, diz o Eclesiastes, tudo é dor, diz Schopenhauer: Cristo é Tudo por ser a única coisa anti-dor
que jamais existiu em nossa Realidade pós-Queda - do Absurdo o escape,
Porta e Única Porta para devolver ao homem/Universo o estado de Graça
primordial.
O
pano de fundo aqui, como dito, é a Guerra, diluída narrativamente em
diversas (no tempo e no espaço) guerras já travadas; a grande maioria
dos poemas fala na primeira pessoa, e a persona é o soldado, ou melhor, o
soldado-vítima, pois o que combate em meio a tanta dor,
retroalimentando-a, é ele próprio as primícias das vítimas do caos. Um
dos títulos para esta pequena série de poemas seria mesmo Poemas de Soldados Mortos, mas declinei, pois nem todos conseguem aqui escapar pela morte.
Datas e locais foram afixados na maioria dos poemas; mas fora os três
primeiros textos que abrem o livro, evitei estender-me em notas
explicativas sobre os demais. Sei que seriam necessárias. Mas afinal
este é um livro eletrônico, e tem-se sempre ao alcance dos dedos a
Wikipédia, e tudo o mais que o Google pode oferecer.
Dividi o livro em duas partes, Omnia Funera (‘Todas as Mortes’), com os poemas ambientados na Segunda Guerra; e Omnia Fragmenta (‘Todos os Fragmentos’),
com os demais textos. Nestes, estamos num momento encurralados em Diu, a
fortaleza portuguesa encravada durante séculos na Índia; somos em
seguida um samurai ferido numa fortaleza em chamas do Japão feudal,
absorto entre ser ou não ser; caímos numa estrebaria imunda na imunda
Guerra do Paraguai, ou escapamos do Vietnã durante a Queda de Saigon (ou
a Libertação, pois como qualquer poema, depende tudo do coração de quem
lê); somos um cão humano marchando para a corte de Luís XVI, ou um
soldado solitário de Esparta a profetizar sobre coisas que
desconhece...
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