CRÔNICA DO DIA SEGUINTE
(The Day After)
Por: Pastor Edson e Ilana Mesquita
Primeira Igreja Batista de Blumenau
Blumenau vive um momento trágico. Não há precedentes na história de nossa cidade. Palavras jamais poderiam expressar as cenas diante de nossos olhos.
Finalmente, consegui um ponto de internet, depois de dois dias ilhado, totalmente isolado de minha família e dos irmãos. Fomos celebrar um casamento sábado à noite no interior da cidade vizinha de Gaspar e não conseguimos mais retornar. Minha esposa ainda está lá, longe de casa, até que as estradas sejam liberadas. Cheguei à minha casa um pouco a pé, um pouco de carona, passando por muita lama, barreiras, áreas alagadas... Graças a Deus encontrei meus familiares bem. Vários irmãos que estavam em retiros no final de semana estão ilhados e isolados desde sábado.
O que aconteceu em Blumenau é algo inexplicável. Os montes simplesmente vieram abaixo. Não foi uma enchente como todas as outras que já atingiram nossa cidade no passado.
Para que vocês tenham uma idéia, vou tentar explicar: As enchentes acontecem quando o Rio Itajaí Açu transborda. Aos poucos a água vai atingindo os pontos mais baixos a partir do rio, ou seja, de baixo para cima. As enxurradas são águas que vêm de cima para baixo. O que aconteceu aqui foram as duas coisas.
Há três meses chovia sem parar em toda a região. Era uma chuva fraca, mas, aos poucos, foi encharcando o solo até que ficou sem a possibilidade de absorver mais a água que caía. No sábado à tarde, dia 22, uma enxurrada caiu sobre a cidade e as montanhas começaram a cair, arrastando casas inteiras com as famílias em seu interior. Mas isso foi apenas o começo. Depois daquela, sucessivas enxurradas começaram a cair durante toda a noite de sábado e o dia de domingo. Os ribeirões, afluentes do Rio Itajaí, transbordaram, ao mesmo tempo em que o nível do Rio Itajaí subia com as águas que desciam das chuvas que caiam no Alto Vale. As águas da enxurrada não tinham vazão e a correnteza foi arrastando tudo o que vinha pela frente.
Olhando ao redor, parece que não ficou um ponto onde os montes não deslizaram. Não são áreas de risco, desmatadas, mas áreas com vegetação espessa, abundante, bem florestadas, que vieram abaixo. A vegetação não segurou as montanhas. É inexplicável e indescritível toda essa situação. Ricos e pobres foram atingidos.
Estamos dando suporte às pessoas atingidas na medida do possível. Milhares de pessoas perderam suas casas com tudo que tinham. Diferente das outras enchentes, elas não tem para onde ir agora. Os que conseguiram sair de suas casas apenas com a roupa do corpo estão agradecidos a Deus por suas vidas.
Ainda estamos, aos poucos, tomando conhecimento da situação. A comunicação é bem precária. Não há água potável nem luz. E não se tem previsão certa de quando tudo será normalizado. O lodo cobre a maioria das ruas e casas.
Como profetas, sabemos que tudo o que acontece no reino físico é uma mensagem do reino espiritual. Assim como Jó, no momento da aflição, se aproximou de Deus para depois conhecê-Lo na intimidade e dizer: “Agora meus olhos te vêem...”, cremos também que esta tragédia inclinará o coração desta cidade para Deus. Blumenau será chamada Cidade do Senhor.
O Senhor mudará nossa sorte! Não só nos restituirá, mas nos levará debaixo de um temor nunca antes experimentado para uma restituição em dobro, assim como fez com Jó.
Temos plena consciência de nossa responsabilidade sobre este território. Não ignoramos o que pode causar as catástrofes. Por favor, orem por nós, orem pela igreja em Blumenau, para que haja arrependimento. Orem pelos sacerdotes, para que exerçam seu papel de chorarem entre o pórtico e o altar e cessarem as competições, e divisões, e invejas, e amarguras..., para que venha a restauração e a restituição. Orem pela nossa unidade, pois é assim que conquistaremos esse território e veremos todo joelho se dobrando e toda língua confessando que Jesus Cristo é o Senhor.
Obrigado por ouvirem nosso apelo.
Fiquem na paz,
CRÔNICA DO QUINTO DIA (SEGUINTE)
(Amados Irmãos)
Por Ap. Edson e Ilana Mesquita
Primeira Igreja Batista de Blumenau
Graça e paz, irmãos
Hoje é o quarto dia consecutivo de sol, contrariando as previsões meteorológicas! Isso ajuda bastante na limpeza da cidade, porém em alguns lugares ainda há até um metro e meio de lama. As máquinas não conseguem fazer um trabalho mais rápido enquanto não secar.
Das mil e oitocentas ruas da cidade, mais de oitocentas foram danificadas e ainda há trezentas totalmente bloqueadas.
O Exército continua controlando o acesso às áreas de risco. Trinta e cinco por cento do território da cidade é agora considerado área de risco. Sessenta por cento das áreas desocupadas não poderão mais ser ocupadas. Os abrigos estão lotados ainda (escolas, igrejas, creches, centros sociais). As pessoas não têm para onde ir, pois perderam suas casas, móveis, mas também o terreno; diferente das outras enchentes que, após baixarem as águas, todos retornavam às suas próprias casas e a vida voltava ao normal.
Alguns conseguiram lugar em casas de familiares, parentes e amigos, ou conseguiram alugar as últimas casas e apartamentos disponíveis. Agora não há mais casas para alugar. Os que estão nos abrigos terão que ficar lá até que novas casas sejam construídas. Muitas pessoas estão indo embora da cidade, voltando para suas cidades de origem, pois ficaram traumatizadas com a tragédia, e também porque não têm mais moradia.
O fornecimento de água e energia elétrica, aos poucos, vai voltando ao normal. Em alguns lugares nasceram verdadeiros rios que ainda correm pelo meio das ruas e estradas. A revista Veja usou o termo "dilúvio" para denominar o acontecido. Agora temos uma pequena noção do que significa um dilúvio. O fenômeno climático que causou o que está sendo considerada a maior catástrofe natural do Brasil não pode ser explicado. Explica-se como aconteceu, mas não o porquê. Foi simplesmente um mistério!
"As águas te viram, ó Deus, as águas te viram, e tremeram; os abismos também se abalaram" (Sl. 77:16).
Pouco mais de uma semana depois, o Conselho de pastores da cidade, criou um comitê de técnicos para elaborar um projeto de construção de casas populares. A prioridade emergencial do poder público, agora, é a recuperação da malha viária.
Os pastores, conscientes de seu papel profético e sacerdotal, têm a grande oportunidade de se posicionarem como pastores de uma cidade e não mais de uma igreja local.
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COMENTÁRIOS DE JOÃO CRUZUÉ
De todos os relatos que li e ouvi nenhum mostrou um retrato com tanta clareza da situação de nossos irmãos Catarinenses quanto ao do Pastor Edson Mesquita da Primeira Igreja Batista de Blumenau. O que aconteceu ali, pareceu-me com outro desastre, da mesma magnitude, no mês de maio dos irmãos de Myanmar sobre o que aconteceu depois da passagem do Ciclone Nargis. Dias depois quando as águas baixaram, e as pessoas tentavam voltar para suas casas, muitos não as achavam mais; às vezes, nem mais existia o terreno onde foram construídas.
O propósito deste post é afirmar com muita convicção que a ajuda aos nossos irmãos catarinenses não poderá ser restrita a uma ou duas semanas de campanhas e generosidade. As necessidades ali são imensas. Para reconstruir o que foi levado, é possível que dois anos não sejam o bastante. Essas necessidades continuarão ainda mais reais e cruas por muito tempo, principalmente depois que o foco da grande mídia passar. Não foram somente casas, vidas e terrenos que desapareceram. A economia do Estado de Santa Catarina foi seriamente atingida pela enchente.
É por isso, que nossa atenção pelos irmãos catarinenses não pode se dispersar. De antemão peço licença ao Pastor Edson Mesquita e Irmã Ilana para reproduzir nesta espaço algumas das crônicas que eles têm escrito de Blumenau, para não nos esqueçamos de orar, de contribuir e de ajudar a carregar o duro fardo que muitos irmãos catarinenses estão levando.
SP 03.12.2008
cruzue@gmail.com
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Um comentário:
Graça e paz irmão! Vim visitar seu blog e pergunta-lhe se posso linkar no meu.
Convido-lhe para me visitar. Deixe sua passagem registrada e me faça feliz com um comentário.
Um grande abraço, e linda sexta!
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