quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Uma passagem de volta para o profeta Jonas

Profeta Jonas
João Cruzué
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Um dos profetas antigos que mais se contextualiza nossos dias é o profeta Jonas. As Igrejas estão cheias de Jonas. Homens que pensam que Deus é mais justiça que misericórdia. Mas há um lado animador nessa história: Quando  Jonas foi confrontado por Deus e passou por um processo de reeducação ele  aprendeu colocar a sua vontade em segundo plano. Vamos pensar juntos sobre isto.

Jonas era como um teólogo moderno. Achava-se mais sábio que Deus. Não que todo teólogo seja assim, mas grande parte deles são pessoas que acham que conhecem tudo. Mas graças a Deus por eles, tanto pelos noviços quanto pelos que já provaram na própria pele a pedagogia de Deus, através de experiências duras. E Jonas, como costuma fazer muitos teólogos presunçosos, posicionou-se como um crítico da vontade de Deus.

Jonas estava cheio de razão e seco do Espírito. Apesar de ter vocação de profeta e chamada de profeta, ainda estava envolvido por demais com as opiniões dos judeus da sua época. Em lugar de arranjar mais tempo para ouvir a voz de Deus, Jonas ouvia as razões da sua própria consciência. Jonas era livre, independente ou pelos menos achava que era.  


Hoje é tudo do parecido. Fazemos tudo correndo. Até a oração tem que ser rápida. Bem diferente da prioridade dos primeiros apóstolos que ao se acharem envolvidos com muitos assuntos administrativos e sociais, separaram sete homens probos para servir às mesas  e voltaram à oração e pregação da Palavra. 

Quando não temos tempo para ficar na presença do Senhor, perdemos a direção e depois a compaixão. Compaixão é  olhar com os olhos do Espírito de Deus. É o profundo entendimento de Deus das fraquezas humanas. Quando a compaixão sai, fica apenas o grande desejo de criticar do formalismo religioso. Se Jonas queria de fato a destruição do povo de Nínive,  é porque já não mais enxergava com os olhos do Espírito.

Por que Jonas não foi substituído? 


Deus poderia muito bem ter  chamado outros profetas para pregar em Nínive. Havia dezenas ou centenas deles em Israel. O fato é que a boa obra que Deus começara em Jonas não iria deixá-la inconclusa. Jonas fora criado para um grande propósito: anunciar as palavras de juízo aos ninivitas e servir de exemplo às futuras gerações de profetas. Quando propositalmente não foi, o plano B de Deus entrou em ação. Jonas mudou de atitude porque tinha somente duas alternativas: ou ia ou morria.

Jonas não era um pregador eloquente. Ele repetia apenas uma frase: "Em quarenta dias, Nínive será subvertida". Era isto que queria. Mas era a mensagem de Deus. Jonas pregava desejando que o juízo sobreviesse e destruísse os ninivitas. Mas Deus tinha outro desejo: queria que houvesse  arrependimento. Era uma pequena possibilidade. Parece que Deus queria dar uma lição em Jonas. Este tinha certeza que em 40 dias a cidade ira virar cinza e fumaça, mas Deus tinha um olhar diferente. Um propósito diferente. Ele via uma multidão de pessoas arrependidas.


Por que há tantos Jonas nas Igrejas? Porque estamos passando por uma época de pregações de um evangelho distorcido. Assim como Jonas, Deus criou cada um para um propósito santo. Todavia, há um evangelho humanista que vem pregando apenas para satisfazer a o desejo de cada crente. Tenho visto, por repetidas vezes, ao final de mensagens nos cultos, pregadores conclamando e até mesmo forçando as pessoas para virem à frente dos púlpitos para deixarem seus problemas. E nada acontece.

Quando cristãos passam por lutas continuadas, a primeira coisa que deve ser analisada são as causas e não apenas as consequências. Pode ser que estejam no "ventre da baleia" passando por um processo pedagógico, para um breve desbaste de suas próprias vontades. Se esta for a causa, não há oração que os tire de lá a não ser que primeiro façam um compromisso de obediência com Deus.

Se é o seu caso, verifique atentamente se não está ocioso na obra do Senhor. Se não está fugindo da vontade do Senhor. Ou se está querendo receber bênçãos sem cumprir os compromissos de fidelidade. 
Quando você se batizou deve ter ouvido  de  esta pergunta: "Você promete ser fiel a Deus enquanto viver? Por isso, antes de mais nada, se está pensando em ir para bem longe da vontade do Senhor, pense no caro preço que Jonas pagou pela sua viagem de volta.







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sábado, fevereiro 11, 2017

A depressão na era eletrônica


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HALL 9000
João Cruzué

A era da massificação digital já começou. Quem assistiu o filme "O Substituto" de Jonathan Mostow, protagonizado por Bruce Willis vai entender como é. Seres humanos isolados e deprimidos em suas casas, sendo representados por sósias-robôs, avatares humanos, sempre jovens, bem vestidos, representando socialmente durante o dia. E quando vem a noite, voltam para seus cabides, enquanto seus "originais" levantam-se sozinhos em uma casa vazia. Sozinhos, com milhares de seguidores zumbis no Twitter e no Facebook. A era do paradoxo real-digital.

A família não mais se comunica verbalmente. A filha, no quarto, pede um remédio para a mãe, na cozinha, por um SMS. A vizinha  tem um perfil no Facebook onde coloca as fotos da última viagem, que o esposo ainda nem viu.

O artista decadente digita algumas vezes por dia  seus bilhetes no Twitter que a maioria não lê. Envia centenas de pensamentos e frases pelo Facebook, que a maioria não presta atenção.

Todo mundo postando e pouca gente lendo.

Todos se comunicando e relacionando em um processo    relacionamento social de faz de contas - que na verdade não passa de um monólogo transmitido por programas-robôs, como no filme "Matriz". A massificação de mensagens que leva ao fastio.

Para onde isto nos leva?

Creio que já podemos observar alguma coisa. A coisificação dos relacionamentos sociais. twitters, faces, whatsapp, instagran, viber.  Uma geração de protagonistas digitais generosos, comunicativos, espirituosos. Por outro lado, na vida real estas pessoas são diferentes:  Egocêntricas, críticas ao extremo, frias, insensíveis e anti-solidárias, despossuídas de sensibilidade humana e de verdadeiro  espírito solidário. Este descompasso entre o digital e o real, o ser-o-que-não-é, ao meu sentir, é um gatilho perfeito para a solidão e a depressão.

Uma geração de potenciais depremidos, cujo excesso de tempo junto às maquinas faz desaprender como se relacionar de verdade.

Eu percebo que quanto mais trabalho com recursos eletrônicos mais automatizado vou ficando. O homem como extensão de um dispositivo eletrônico. Um apêndice. Esta interação eletrônica excessiva pode me tornar insensível e frio como a máquina.

Creio que estamos mesmo caminhando para sermos comandados por máquinas. Não por robocops, homens de ferro ou darth vaiders, mas por algo do tipo "Hall 9000" de Stanley Kubrick. A potencialidade da IA (Inteligência Artificial) já é uma realidade. Tudo nas sombras. Você não vê, não ouve, não sente, mas aquilo está "te" monitorando lá. Aliás, isto não é nenhuma novidade: Quando você abre uma conta no Face ou no Google, seus dados e seus hábitos de consumo estão registrados lá. Se o "Hall 9000" já era inteligente e desconfiado, imagina o que os algoritmos de nossa era possam fazer em um processador moderno...

Estamos perdendo o hábito da solidariedade. Cada um por si e Deus por todos. Os insensíveis da parábola do bom samaritano estão se replicando em nossos dias. Hoje, os sacerdotes e levitas apressados e individualistas estão na casa dos milhões. E os feridos e necessitados também andam pela casa dos bilhões. O déficit de solidariedade só aumenta e a falta dela brota incontida dentro de cada família.

Como podemos nos precaver do pior?

Não sei se isto é possível, mas alguém precisa ensinar o uso racional e mostrar o perigo oculto do uso excessivo dos eletrônicos. Eles foram criados para nos oferecer facilidades, mas estão criando dificuldades, pois viciam. Fazem perder a noção do tempo. Nos levam a procurar ambientes fechados e isolados para  fazer nossa "comunicação"  às centenas. Milhares. Mas perdemos a habilidade de dar bom dia ao pai e a mãe dentro da própria casa.


A falta de comunicação pelo excesso de comunicação.  A depressão colhida pelo descompasso entre a realidade e a imaginação. Sozinhos e deprimidos em meio a milhares de "amigos"
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2001: A Space Odissey (música) - Beautiful Blue Danube - De Johann Strauss II