quarta-feira, junho 13, 2012

Tributo ao Pastor Laerço dos Santos

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Pastor Laerço dos Santos - 13/09/1944 a 12/06/2012
 João Cruzué

Hoje de manhã, antes de sair para o trabalho, recebi um SMS do filho de um amigo e companheiro de trabalho dos anos 80s. Diante dos olhos estavam duas linhas: "Irmão quero tomar pouco tempo, meu pai passou para a Glória hoje". Foi dessa forma que soube desta grande perda. Com ele não tinha assinado e o telefone era diferente do usual, eu respondi deixando meus sentimentos, mas perguntando quem era. E ele respondeu, Laylton cabeleireiro. Assim que cheguei à noite do trabalho,  vim  fazer aqui minha homenagem ao Pastor que conheci como  - o Irmão Laerço.

Conheci o irmão Laerço nos tempos da JUADSA - Juventude Unida das Assembleias de Deus de Santo Amaro e Congregações, no início dos anos 80s. A partir de 1988 fui congregar na Igreja Assembleia de Deus do Jardim Colégio, no Bairro do Capão Redondo - Zona Sul de São Paulo.

Eu já estava no terceiro projeto de evangelismo, a convite do Pastor Antonio Linares. Irmão Laerço era um cooperador tal como eu, mas tinha uma função importante na AD do Capão Redondo: Era o Superintendente da maior Escola Dominical do Ministério, que na época recebia a presença de mais de 300 alunos. Irmão Laerço era muito organizado. O hino da Escola era de sua composição. Nas tardes de domingo, uma hora antes da Escola, havia uma reunião com todos os professores para debater a lição. Irmão Laerço me deu para cuidar da Classe de novos convertidos.

Eu cooperava com ele na Escola Dominical e ele levava no final da escola muitos irmãos para trabalhar conosco nos pontos de pregação ao ar livre.  Em cada um dos lugares nós levávamos duas cornetas de altofalantes enormes, um aparelho Delta, tudo ligado na bateria da minha Caravan. Cada domingo tínhamos um ponto diferente circulando os bairros a partir da Sede da congregação. Deste trabalho, lembro-me bem que ganhamos dois alcoólatras pra Jesus. O irmão Toninho e o irmão Geraldo. Irmão Geraldo era de uma família espírita que tentou por muitos anos livrá-lo da bebida. Ficaram muito admirados com a libertação do moço em apenas uma semana.

Do meio daquela boa turma de evangelização foi criado um trabalho especial de evangelização pelas madrugadas nas ruas do Bairro do Capão Redondo. Uma vez por mês, sob a liderança do irmão Paulo Simão, mais tarde genro do Irmão Laerço, nós nos reuníamos primeiro para orar de joelhos nos bancos da Igreja para depois sair a campo. Em um lugar sabidamente perigoso, nunca houve qualquer incidente. Daquela evangelização guardo várias recordações, mas lembro-me especialmente de uma, quando um pessoal que bebia em um bar próximo da Igreja resolveu zombar, começando a cantar o hino "Segura na Mão de Deus". De repente o ambiente do bar começou a parecer com um culto. Em pouco tempo eles pararam de beber e o estabelecimento fechou antes da hora.

Irmão Laerço era o melhor cabeleireiro do Capão Redondo. Sua casa, com o Salão à frente, recebia com muito calor a maioria  dos membros (mais de 400) da Igreja do Capão. Eu mesmo tomei muito café, cevada e bolos na mesa da cozinha do Pastor Laerço e da esposa, Irmã Eliane Castanho. 

Nosso melhor trabalho para culminar com chave de ouro nosso projeto de evangelização foi um congresso para superintendentes e professores de Escola Dominical onde trouxemos o Pastor Hidekazu Takayama de Curitiba. Ele foi o preletor durante três dias, a data: 21, 22 e 23 de abril de 1989. Estava tão cheio o local, que se tirasse o pé de um espaço, não havia condições de tornar a colocá-lo no lugar. Irmão Laerço fez um painel com uma bíblia acorrentada, simbolizando a falta de esforço dos crentes para evangelizar. 

Lembro-me que a Priscila, minha filha com  04 anos, pediu durante um culto para cantar. E ela cantou "Jerusalém, que bonita é, ruas de ouro e de cristal. Em suas ruas um dia andarei..." Eu fui às lágrimas, pois foi com muita dificuldade que aquele congresso foi feito. 

Irmão Laerço e eu fomos testemunhas da má vontade de certas lideranças evangélicas. Por exemplo, liderança da Igreja em não colaborar  com os custos do congresso - feito às custas de nossos próprios bolsos. Há coisas que devemos guardar, mas esta eu não vou. Em lugar de ajudar, a liderança da Igreja nos dias daquele congresso reuniu-se para fazer planos para o destino das ofertas - antes de serem arrecadadas... Mas a expectativa não se concretizou! Depois queriam cobrar até o lanche dos músicos do banda que fazia o som do evento. Muita mesquinharia. Justiça devo fazer: todos os cooperadores e diáconos da congregação se uniram conosco e ajudaram em todo serviço do congresso.

Irmão Laerço mudou-se com irmã Eliane e parte da família para a bela Maceió em meados dos anos 90. De vez em quando me visitava em casa em São Paulo. Em Maceió ele morava no Bairro do Poço, foi ungido Pastor. A distância nos separou. Minhas lembranças do testemunho dele era de um dos poucos homens comprometidos 100% na causa do Evangelho.

Quando comecei a editar meus blogs, sabendo que ele gostava muito de escrever poesias, criamos juntos em 2006 o blog AGAPE onde ajudei a postar sua primeira poesia  Assim é o Amor, em 24/12/2006. Ele não parou mais.Ano passado  publicou o livro Poesias do Coração com uma coletânea de 160 poesias dentre as mais de 300  publicadas em seu blog.

Quero deixar aqui meus sinceros sentimentos à irmã Eliane, aos filhos, genros, netos, demais parentes e amigos próximos do Pastor Laerço.



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terça-feira, junho 12, 2012

Mãos de Marta e coração de Maria



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Jesus, Marta e Maria

João Cruzué 

Quando desci à sala para orar,  eu pedi ao Senhor que falasse comigo. E ao abrir a Bíblia antes da oração pude perceber que Ele falou. Então deu-me uma vontade de vir até aqui, para compartilhar. Pela primeira vez eu pude perceber um elo entre os fatos acontecidos na casa de Marta e Maria e a parábola do Bom Samaritano.

 -Senhor fala comigo pela Tua Palavra - pedi. Sei  que há dias  que temos uma necessidade maior de orar que outros e aquela semana em especial, tinha sido bem difícil, pois eram vários os motivos para bater, buscar e pedir recurso onde com certeza eu poderia achar. 

Ao abrir a Bíblia no final do capítulo 10 de Lucas, li primeiro o texto de Marta e Maria. Depois continuei na parábola do Bom Samaritano. São palavras muito conhecidas, mas que  se interligaram e fizeram-se novas para mim. 

A preocupação de Marta era o serviço. Andava para lá, andava para cá... imagino, aranjando lenha, assoprando as brasas do fogo, limpando  panelas, assando um pão, talvez depenando alguma ave ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passando e a noite chegava, e nada  de Maria. 

Maria se esquecera completamente do serviço doméstico. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo o falar do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte em algum culto. 

Marta estava preocupada em servir, e Maria esquecera-se de tudo porque ouvia, e ouvia, e queria mais ouvir as palavras do Senhor. Marta receosa de não dar conta do trabalho deu ordens ao Mestre: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. 

Comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo. Qualquer um pode comunicar-se, dizer bom dia, boa tarde, reportar o tempo; alguns podem orar acompanhados por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira. Mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido. Por exemplo: tenho duas filhas. Uma já se casou e a mais nova já tem namorado. Imagine que eu me assente à sala e passe a tarde inteira junto aos dois "segurando vela", como se diz em nossa cultura. Eles podem conversar assuntos os mais variados - mas nenhum deles vai ter a coragem necessária, por exemplo, para dizer "eu te amo".

 Ano de 2011, século XXI - aqui estamos nós. Afadigados, preocupados, sem tempo, como diligentes Martas, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, um subindo-e-descendo, um ensaia-ensaia, um prega-prega, um canta-canta, um ensina-ensina... Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e chega o outro domingo. Estamos servindo? Sim! Estamos trabalhando? Sim! Estamos nos afadigando? Muito! Mas, por que estamos vazios e colhendo tão pouco?

 Não temos mais tempo para comunhão com o Senhor. Não somos mais como um noivo/a apaixonado/a. Ele quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais seremos muito mais eficientes e a Igreja, o órgão ou departamento que cuidamos vai decuplicar de tamanho. Aí começamos a fazer besteiras, pois não conseguimos mais orientações com Deus. 

A conseqüência disso pode ser entendida na mesma página da minha Bíblia. "Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram-no, deixando-o quase morto. E ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote, que vendo-o, passou ao largo. Eis que de igual modo, também passava um levita, que também o viu e passou ao largo. 

Quem são o sacerdote e o Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam palavra de Deus. Apressados, estressados com a fadiga do serviço do altar, não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de comunhão. Eles são como as mãos de Marta.

 "Mas um samaritano que ia de viagem aproximou-se do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão". Talvez por ter sofrido no passado um ataque semelhante. "E aproximando-se, atou-lhe as feridas aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendou-lhe: Cuida dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar". Aqui o temos um resultado diferente, pois atuaram em conjunto as "mãos" de Marta e o "coração" de Maria. 

Os três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres eram mais importante e tinham prioridade sobre um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vida eles perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito que fala. Do samaritano poderia se esperar tudo, menos compaixão.  

E foi assim que entendi antes de começar minha oração, que não importa quão engajados nós estejamos em grandiosos projetos aos olhos alheios ou dos nossos próprios, há uma grande multidão muda, surda e em grande miséria ao nosso redor. Se dermos prioridade as coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, necessários para ouvir a Sua voz e fazer a sua vontade, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão.
 

Primeiro, precisa  vir a comunhão com Deus e depois, o serviço.


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