segunda-feira, março 30, 2009

Páscoa Cristã 2009 - oração, família e moradores de rua


"Sabendo que
não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro [nem com coelhos ou ovos de chocolate] que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo". 1 Pedro 1:18-19.


João Cruzué

Muita coisa mudou neste mundo desde a Páscoa do ano passado. A economia mundial sofreu uma perda de 50 trilhões de dólares, milhões de empregos foram cortados em quase todos os países do mundo, no Brasil a "marolinha" já melou o emprego de mais de um milhão de trabalhadores... De repente todo mundo ficou com medo de comprar, de gastar, alimentando ainda mais a fome do desemprego. Bush foi embora, e Barack Obama entrou para a história como o presidente negro a morar na Casa Branca para governar os Estados Unidos, a nação mais poderosa da terra, com seus 300 milhões de habitantes e um PIB de 13 trilhões de dólares.

A Europa não quer mais saber de Jesus. O berço do protestantismo enfastiou-se da fé, e Cristo já não mais provoca nenhuma paixão entre eles. Estão literalmente frios na fé. Do continente que antes fazia arder o mundo com Luther, Wesley, Spurgeon, Carey, os missionários suecos e outros tantos, restaran apenas cinzas. Darwin é mais reverenciado por lá que Jesus Cristo. Alguém profanou ali o cristianismo, e desconfio que são os mesmos que, de escândalo em escândalo, também tem vem tornando o nome de Cristo repugnante diante dos perdidos no Brasil.

Deixando essas coisas de lado, quero aproveitar os dias que antecedem esta Páscoa de 2009 para falar sobre um assunto já muito conhecido de ouvir falar, mas completamente desconhecido de ver, de presenciar ao vivo.

Eu já sabia que o Centro de São Paulo tinha muitos moradores de ruas, principalmente crianças. Eu os vi em grupos recentemente. Puxando a memória, trabalhei muitos anos ali na década de 80, e, recentemente, voltei a fazê-lo - na mesma região. A cracolândia mudou de lugar. Há quase dois meses vejo "famílias" de moradores de ruas, grupos de adolescentes literalmente morando no centro. Tem um grupo que "mora" e dorme nos bancos do começo da Ladeira da Memória. Outro muito maior está na Rua 7 de Abril. Lá pelas 10:00h do dia ainda estão dormindo na calçada ao lado do prédio da Telefonica. Há outro que fica no viaduto Maria Paula. Todos dias, os caminhões pipa da prefeitura lavam merdas e xixis em todos estes lugares. Quando passo ao lado dessas pessoas e percebo que todas são usuários de cracks, colas e coisas piores, eu sinto uma dor muito grande em ver situação tão difícil que nem autoridades nem a Igreja têm conseguido resolver.



Mas, o que muito me perturbou o espírito aconteceu hoje, quando subia a Ladeira da Memória, às 09:00h da manhã, em direção ao trabalho. Uma criança de uns nove anos, debruçada sobre os joelhos, aspirava crack com um canudo de plástico grosso. Eu me senti o mais inútil dos crentes. Olhei, vi, entendi e clamei: Jesus Cristo! E fiz uma oração íntima por ela. Sabe o que é estar diante de uma pessoa que está sendo destruída por um processo diabólico e não ter nenhuma ordem de Deus dizendo - faça isto? Um sentimento de impotência. Eu ainda sigo alguns princípios de orientação espiritual e não me adianto sem ordens de Deus. Pelo jeito não somente eu, mas todos os crentes que andam pelo Centro de São Paulo.

Lionel Richie fez sucesso nos anos 80 com uma canção chamada "Jesus is Love". Eu gosto dela por causa da letra e da sequência de acordes do piano, mas ao mesmo tempo sinto muita tristeza quando a ouço, pois sua letra diz mais ou menos isto: Pai, ajuda suas crianças, não as deixe caídas pela beira da estrada... Esta canção traz a minha memória os vários grupos de crianças das ruas do Centro de São Paulo, que antes eu conhecia por ouvir falar, mas hoje vejo com meus próprios olhos. Eu e mais de um milhão de pessoas que passam todo dia pelos mesmos lugares.

Por que estas crianças se transformaram em moradores de ruas? Por que dormem nas calçadas debaixo de caixas de papelão? Eu presumo que elas vieram de lares desfeitos onde o diabo começou um processo de destruição, transformando crianças em lixo humano. Uma "máquina" maligna de processar e destruir seres humanos. Um processo que escandaliza, choca, mas com o passar do tempo insensibiliza a sociedade enquanto se perpetua. Não há dinheiro que faça trazer de volta suas famílias. Deixando para trás as consequências, creio que são produtos de lares onde faltava tudo: emprego, o pão, dignidade, respeito, amor, esperança. O mínimo. E por outro lado sobrou: fome, surras, ódio, brigas, estupros e expulsões. Depois de terem chorado a última lágrima, secaram os olhos e foram procurar na rua, no crack, na cola de sapateiro, o sono para escapar dos pesadelos da lucidez. É uma vergonha para mim, e para todo cidadão brasileira presenciar essas coisas. Vergonha, sim! Um país com um PIB de um trilhão de doláres, com um presidente, 27 governadores, 513 deputados federais, 81 senadores, ministros, juízes e intelectuais, banqueiros, pastores, bispos, bilionários, milionários, religiosos - todos nós somos, uns mais, outros menos, os sacerdotes e levidas da parábola do "Bom Samaritano".

Que os olhos de todos estejam voltados para a família. Se ela cair, cai a Igreja, cai a escola, cai a sociedade. O alicerce do lar ainda é o amor de um homem e de uma mulher. O equilíbrio da sociedade vem disso. Por que estas mazelas se multiplicam e afrontam a todos nós em pleno terceiro milênio? Porque há um processo diabólico a caminho uma cupinização dos alicerces da família. Filhos concebidos fora de um casamento formal; a banalização do amor verdadeiro e uma sociedade excessivamente erotizada, a prevalência do prazer sobre o amor, e como resultado seres humanos gerados e criados em condições piores que a de animais.

Que nesta Páscoa nos lembremos que Deus, na pessoa do Espírito Santo cuidou para que Jesus tivesse uma família e um lar formado por uma mãe e um pai. Que ele cresceu amado e aos doze anos já sabia ler e conhecia as escrituras sagradas. É bem verdade que Ele não teve um berço para se deitar quando veio ao mundo, não teve propriedades, nem um sepulcro próprio quando se foi. Mas uma família ele teve.

Jesus é a nossa Páscoa. Ele curou leprosos, os moradores de rua da sua época, também é o único e poderoso recurso para derrotar e desfazer as obras do diabo que tem transformado pessoas em lixo pelas ruas da cidade em nossa época. "Paizinho Celestial, veja esta grave situação, por favor separe e comissione mais pessoas com o ministério de socorro, para atender aos moradores de rua da Cidade de São Paulo, porque os samaritanos que aqui trabalham, não têm conseguido resolver o problema e a sociedade paulista já se acostumou com ele.
Esta é minha petição para a Páscoa de 2009.


cruzue@gmail.com
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domingo, março 29, 2009

O Brasil está menos católico



João Cruzué

O instituto de pesquisas Datafolha publicou em 06/mai/07 um caderno especial mostrando que o papa Bento XVI encontrou um Brasil menos católico. Em 2007, 64% dos brasileiros de 16 anos para cima se declararam católicos. Em dezembro de 1996, na última pesquisa antes da vinda de João Paulo II, este número era de 74%. Segundo o Datafolha, no mesmo período, os evangélicos cresceram de 11% para 17%. Ainda segundo o Instituto, as Igrejas Evangélicas tem muito mais influência na vida de seus fiéis que a Católica. Entre os pentecostais entrevistados, 54% disseram já ter mudado algum hábito de vida por causa da religião. O mesmo número dos católicos é de 9%. Por outro lado, a pesquisa também mostrou que o crescimento das Igrejas Evangélicas perdeu velocidade. E, isso merece um diagnóstico de nossa parte.

As grandes igrejas evangélicas, classificadas como pentecostais, estão perdendo o ímpeto do crescimento porque estão dando mais atenção à política que a missões. Outro dia, ouvimos o comentário de um jovem pentecostal ao visitar um grande templo pentecostal: " O culto estava parecendo uma missa". Suponho que ele quis dizer que a liturgia estava muito formal, para "economizar" nas minhas palavras.

O discipulado nas grandes igrejas pentecostais está acabando

O crente mais experiente não escolhe mais um jovem para ir a campo ensinar evangelismo pessoal, visitas e orações nas casas. É provável que 90% dos crentes das grandes igrejas nem saibam onde moram seus irmãos nem que tipo de problemas têm. Isso significa o esfriamento do amor e o afastamento do Espírito Santo.

Essas mesmas igrejas estão implementando uma estratégia suicida: estão aceitando que seus féis participam unicamente com atividades de louvor. Se bem que somos adeptos do bom louvor na igreja, o que temos ouvido, com raras exceções, tem diminuido na qualidade. O playback veio substituir o músico de verdade. A princípio funcionava, mas hoje soa como uma coisa falsa. Enquanto isso, o músico inciante esconde o talento por vergonha de ainda não tocar direito, e depois com a falta de oportunidade. Para formar boas bandas, grupos musicais, é preciso muito ensaio e oração. O Espírito não se alegra com um louvor "mais ou menos" se os adoradores podem ir além da mesmice.


Joseph Fiennes interpretando Lutero

É possível retomar a força da pregação do Evangelho. Há muita coisa por fazer, pois existe muita miséria no Brasil. Há muitas pessoas no mais profundo desespero, em todas as classes sociais. A igreja evangélica precisa voltar a discipular os talentos que tem para atender o clamor dos perdidos. Um jovem na direção de Deus pode incendiar um Brasil inteiro. Não custa repetir as palavras que o Espírito de Deus profetizou, pela boca de dois pastores em um congresso em Londres onde Moody estava presente como simples ouvinte. Apenas vou parodiar a profecia: O Brasil ainda está por ver um jovem que vai pregar a palavra de Deus debaixo de uma unção nunca antes vista, desde que atenda o chamado do Senhor com muita humildade.

A experiência que adqüirimos nesta área nos leva a temer um fato que sempre se repetiu no passado. Quando Jesus se apresentou no Sinédrio e deu testemunho da boa confissão de que ele era mesmo o Cristo, escandalizou o sumo sacerdote. Estamos querendo dizer o seguinte: Gamaliel estava certo quando aconselhou as autoridades religiosas de sua época a não perseguir os primeiros cristãos. Hoje, basta aparecer alguém com algum ímpeto na Igreja,um talento ainda por lapidar, para que também apareça uma dezena de "pequenas" lideranças com atitudes mesquinhas - perseguindo e procurando "destruir" o que ainda tem pouca raiz. Não se lapida um diamante com um martelo, e não se pode jogar entulho numa fonte de água que brota no deserto.

Ainda bem que Lutero, Carey e Moody não foram destruídos pelos religiosos da sua época. Mas estes bem que tentaram!


Cruzue@gmail.com
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