quinta-feira, maio 30, 2013

ABENÇOA, PAI QUERIDO!

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João Cruzué
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Posso considerar-me um quase-especialista em andar de metrô,  e de  trem, na Cidade de São Paulo. Já faz tempo que desisti do carro aqui cujo trânsito anda ruim e piorando. São milhares de carros novos na rua todo dia. Por esta razão, não vejo solução a curto prazo. Mas quem decidiu viver independente de carro, como eu, tem que descobrir as manhas, a  estratégia de usar o transporte coletivo sobre trilhos. Para escrever este tipo de texto, é preciso ouvir as pessoas,  registrar  cenas do cotidiano que em Paulo são abundantes. Você abre os olhos, e sempre  descobre algo para nos surpreender. Como a oração que eu ouvi, dois dias atrás, no Metrô República.

Eu vejo, quase todo dia, muita gente mal humorada resmungando sobre o transporte coletivo da Cidade. Tenho boas lembranças disso, quando por aqui cheguei, em março de  1974, com um baita de uma mala, igual a um clipe da canção "Mrs. Robinson" de  Paul Simon e Art Garfungel. Na época, meu primo foi buscar-me naquela rodoviária velha, ao lado da Estação Júlio Prestes, na Avenida Duque de Caxias. Pegamos um coletivo ali no final  da Rua Santa Ifigênia e descemos  para baldear na Praça da Bandeira, junto ao prédio do Edifício Joelma, que acabara de ser queimado.

Já usei o trem da companhia local, a CPTM,  para me levar a vários lugares da Grande São Paulo. Já fui para Guainases,  São Miguel Paulista, Ribeirão Pires, Osasco, Barueri, Santo André, Mauá; só não fui para Jundiaí.  Já baldeei em Osasco, na Ponte Orca, na Barra Funda, na Estação Brás, na Luz, em Santo Amaro, na Estação Pinheiros e Tamanduateí. Já paguei micos memoráveis. Foi por causa deles que, como disse, virei um quase-especialista. Sei as posições certas das estações onde devo entrar para poder sair em frente e mais rápido. E quando se fala em pressa, aqui na Capital, mesmo quem não tem grandes compromissos, anda apressado e correndo pelas estações. Ou todo mundo levanta atrasado, ou finge que tem algo muito importante para andar correndo. Acho que São Paulo tem um velocidade de cruzeiro e todo mundo segue sua inércia.

Há dois tipos de viagem nos trens  da CPTM. A boa, quando você embarca no contra-fluxo, com assentos sobrando, aquele silêncio, principalmente nos itinerários de Calmon Viana ou Rio Grande da Serra. Se, por exemplo estiver voltando, se não tiver bastante cuidado, você cochila e passa da estação. Já aconteceu comigo e tive que voltar uma estação.

Agora vou falar da ruim. 

Horário do rush, indo para o lugar que todo mundo vai. Eu já vi de (quase) tudo. Certa vez, uma moça embarcou na Estação Presidente Altino, e o trem estava vazio. Pensando que ele continuaria assim, ela ficou na porta onde empilhou muitas malas e um grande caminhão de brinquedo de madeira. Três estações à frente, entrou tanto passageiro por aquela porta que, à certa altura, eu não via mais a moça, nem as malas, nem o caminhão de brinquedo, senão apenas uma voz xingando e rogando um monte de pragas, preocupada com as malas. O povo, que acompanhava aquela péssima posição, tentava ficar sério quando na verdade está morrendo de rir.

Também vi um  outro moço, bem pesado (para não chamar de gordo), tentando entrar na Estação Vila Olímpia. Veio o guarda e empurrou suas costas, tanto,  até que ele coube no carro. E, na estação seguinte veio  vindo uma "coorte romana". Umas 100 pessoas, rasgando, abrindo espaço de qualquer jeito. Quando eu penso que não, aquele moço já estava a  uns dois metros da porta, por onde custosamente tinha entrado. Péssimo para uns, estas coisas dão um toque de bom humor para outros que estão em situação mais confortável.

Também já fiquei horrorizado, quando estava na plataforma da Estação de Santo Amaro, quando ouvimos um barulho ensurdecedor de uma pessoa que caiu, ou segundo a CPTM, se atirou na frente do trem. Este tipo de coisa estraga o dia de qualquer um.

Mas o título desta crônica nada tem a ver com coisas ruins.

Eu deixei meu trabalho no fim da tarde da terça-feira passada, e segui até a Estação Sé do Metrô. Além da chuva, algum outro problema deve ter acontecido, pois a plataforma da Linha Vermelha estava abarrotada de gente com destino à Barra Funda. E entrou aquela multidão. Uma jovem do interior, segurava sua mamãe pela mão. Incomodada naquele sufoco, ela  começou a resmungar.  Acho que ela nunca antes tinha estado em um trem tão lotado.

-- Isto é um inferno, reclamou.

As duas eram bem baixinhas e o guarda-mão, ou sei lá o nome daquilo, estava a meio metro de altura, fora de alcance de qualquer brasileiro ou brasileira - parafraseando aquele antigo presidente bigodudo.

--Senhora, disse eu, neste horário é assim mesmo.

O fato é que, para descer na República, eu ainda estava longe da porta. Perguntei para o rapaz da frente, e ele respondeu que ia para a mesma estação. Aliás, parece que o vagão inteiro queria descer na República. E a porta abriu e travou de tanta gente querendo contrariar a Lei de Newon. Um moço muito prático,  que já estava empurrando, dizia irônico:

--Não empurra, gente!

E no meio daquela multidão toda, apressada para sair por uma porta só, em plena Estação República uma voz de mulher sobressaiu mais alto que todas, em oração muito bem humorada:

--ABENÇOA, PAI QUERIDOOO!

Quem estava furioso, começou a rir. Foi uma oração curta, com um resultado surpreendente.

Eu fico pensando:  Em nossas reações diárias, diante das atribulações da vida, inclusive as mais penosas,  será que estamos abrindo a boca para falar um palavrão, ou para  surpreender com  uma oração, do tipo "abençoa, Pai querido?



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terça-feira, maio 28, 2013

Uma passagem de volta para Jonas


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O profeta Jonas
João Cruzué

Um dos profetas antigos que mais se contextualiza nossos dias, é o profeta Jonas. As Igrejas estão cheias de Jonas. Homens que pensam  que Deus é mais justiça que misericórdia. Mas há um lado animador nesta história: quando  Jonas foi confrontado por Deus e passou por um processo de reeducação, ele  aprendeu colocar sua vontade em segundo plano.

Jonas era um teólogo moderno. Achava-se mais sabido do que Deus. Não que todo teólogo seja assim, mas grande parte deles são pessoas que acham conhecer tudo. Mas graças a Deus por eles, tanto pelos noviços quanto pelos que já provaram na própria pele a pedagogia de Deus, através de experiências duras. Dizem que na Faculdade de Gamaliel, Saulo de Tarso cai do cavalo. E Jonas, como costuma fazer muitos teólogos presunçosos, posicionou-se como um crítico da vontade de Deus.

Jonas estava cheio de razão mas seco do Espírito. Apesar de ter vocação de profeta e chamada de profeta, ainda andava envolvido por demais com as opiniões da sua época. Em lugar de arranjar mais tempo para ouvir a voz de Deus, Jonas ouvia as razões da sua própria consciência. Jonas era livre. Independente. Ou pelos menos achava que era.  


Hoje é tudo do mesmo jeito. Fazemos tudo correndo. Até a oração é rápida. Bem diferente da prioridade dos primeiros apóstolos que ao se acharem envolvidos com muitos assuntos administrativos e de assistência social, separaram sete homens probos para servir às mesas  e voltaram à oração e pregação da Palavra. 

Quando não temos tempo para ficar na presença do Senhor, perdemos a direção e depois a compaixão. Compaixão é  olhar com os olhos do Espírito de Deus. É o profundo entendimento de Deus das fraquezas humanas. Quando a compaixão sai, fica apenas o grande desejo de criticar do formalismo religioso. Se Jonas queria de fato a destruição do povo de Nínive,  é porque já não mais enxergava com os olhos do Espírito.

Por que Jonas não foi substituído? 


Deus poderia muito bem ter  chamado outros profetas para pregar em Nínive. Havia dezenas ou centenas deles em Israel. O fato é que a boa obra que Deus começara em Jonas não iria deixá-la inconclusa. Jonas fora criado para um grande propósito: anunciar as palavras de juízo aos ninivitas e servir de exemplo às futuras gerações de profetas. Quando propositalmente não foi, o plano B de Deus entrou em ação. Jonas mudou de atitude porque tinha somente duas alternativas: ou ia ou morria.

Jonas não era um pregador eloquente. Ele repetia apenas uma frase: "Em quarenta dias, Nínive será subvertida". Era isto que queria. Mas era a mensagem de Deus. Jonas pregava desejando que o juízo sobreviesse e destruísse os ninivitas. Mas Deus tinha outro desejo: queria que houvesse  arrependimento. Era uma pequena possibilidade. Parece que Deus queria dar uma lição em Jonas. Este tinha certeza que em 40 dias a cidade ira virar cinza e fumaça, mas Deus tinha um olhar diferente. Um propósito diferente. Ele via uma multidão de pessoas arrependidas.


Por que há tantos Jonas nas Igrejas? Porque estamos passando por uma época de pregações de um evangelho distorcido. Assim como Jonas, Deus criou cada um para um propósito santo. Todavia, há um evangelho humanista que vem pregando apenas para satisfazer a o desejo de cada crente. Tenho visto, por repetidas vezes, ao final de mensagens nos cultos, pregadores conclamando e até mesmo forçando as pessoas para virem à frente dos púlpitos para deixarem seus problemas. E nada acontece.

Quando cristãos passam por lutas continuadas, a primeira coisa que deve ser analisada são as causas e não apenas as consequências. Pode ser que estejam no "ventre da baleia" passando por um processo pedagógico, para um breve desbaste de suas próprias vontades. Se esta for a causa, não há oração que os tire de lá a não ser que primeiro façam um compromisso de obediência com Deus.

Se é o seu caso, verifique atentamente se não está ocioso na obra do Senhor. Se não está fugindo da vontade do Senhor. Ou se está querendo receber bênçãos sem cumprir os compromissos de fidelidade. 
Quando você se batizou deve ter ouvido  de  esta pergunta: "Você promete ser fiel a Deus enquanto viver? Por isso, antes de mais nada, se está pensando em ir para bem longe da vontade do Senhor, pense no caro preço que Jonas pagou pela sua viagem de volta.



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