sexta-feira, junho 26, 2009

A Igreja Angolana entre o passado e o amanha




Por Jerónimo Cahinga - Télogo Católico

Durante mais de 25 anos a Igreja em Angola sofreu vários reveses.

Entre 1975 e 1980 foi espoliada da maior parte dos seus bens pelas novas autoridades políticas. Orientadas pelo marxismo científico e ateu, elas empenharam-se numa profunda campanha de ‘marxização’ das populações. A Igreja foi desdenhada, hostilizada, denegrida e a sua autoridade moral questionada, senão mesmo negada. As suas instituições de ensino foram-lhes retiradas, foi restringido o seu direito de educação dos adolescentes e jovens, reduzida e vigiada a sua tarefa de evangelização do povo.

O resultado foi a ausência da maior parte da juventude e da classe média, nas igrejas, e um acanhamento de muitos cristãos em frequentar os actos litúrgicos e as sessões de formação cristã. Muitos cristãos e cristãs, porém, revelaram-se. No meio das perseguições e humilhações foram mártires, no sentido original do termo, isto é, testemunhas intrépidas da sua fé e muitos (mormente catequistas) deram a própria vida por Cristo. Nessa altura, a linguagem dos Bispos católicos era una e firme na reposição da verdade e na defesa dos valores morais e dos direitos humanos, frente a uma ideologia que os distorcia e a uma guerra que os ignorava.

Este ambiente durou até 1992. Daí em diante, os discursos dos governantes em relação à Igreja começaram a ser mais conciliadores. Muitas das estruturas físicas da Igreja (como escolas, colégios, seminários) foram devolvidas e a sua reabilitação custeada pelo Governo. Começou a notar-se uma aproximação entre as autoridades eclesiásticas e governativas.

Com o fim da guerra em 2002, verificou-se um «boom» de afluência às igrejas, cuja motivação teológica não é muito clara. A presença do sincretismo religioso ainda é patente na vida de muitos cristãos. A proliferação de seitas e os novos movimentos religiosos parecem jogar um papel fundamental na filiação dos crentes apostados numa prática religiosa mais emotiva e sentimentalista que teológica. Por isso, vê-se a multiplicação de movimentos religiosos, de associações cristãs, de peregrinações aos santuários de todo o tipo, alguns criados «ad hoc» e encorajados pelos bispos das respectivas dioceses.

Paradoxalmente, as vocações religiosas e sacerdotais estão a regredir de forma preocupante. A procura do bem-estar, da tranquilidade económica (facilitada pela abundância de empresas públicas e privadas), a infiltração envolvente do relativismo ideológico, do materialismo consumista e do laxismo moral, exerce uma influência cada vez mais irresistível da parte dos jovens (eles e elas).

Angola já passou por mil vicissitudes no que diz respeito à prática da religião, tais como a instrumentalização política da religião pelo Estado colonial, a reacção do comunismo ateu, durante a revolução e a guerra civil, e agora assistimos a uma certa crise ético-moral e religiosa na vida de muitos angolanos. Actualmente, muita gente parece “tranquilizar-se” com a simples pertença sociológica à Igreja, desde que não se lhe toque nas questões fundamentais do ser cristão.

Por outra parte, parece que com a aproximação entre a Igreja e o Estado, o discurso profético que caracterizou a hierarquia católica, durante o tempo do comunismo e da guerra, tornou-se, agora, pacífico, mesmo diante de gritantes injustiças sociais. A Igreja angolana corre o risco de viver uma «paz constantiniana» do séc. IV. Passado o tempo da perseguição e martírio, a Igreja de Roma, apanhada de surpresa, procurou encontrar no âmbito do Império romano um espaço de acomodação. Ela viu-se na necessidade de recorrer às estruturas estatais para se organizar. O Estado, por sua vez, tinha todo o interesse de se apoiar na Igreja, não tanto porque se tinha convertido, mas sobretudo para se estabilizar. Por isso, estreitou as suas relações com a Igreja, favoreceu-a e concedeu-lhe privilégios, mas passou também a dominá-la como Igreja católica imperial…E depois, quando o Império entrou em estado progressivo de desintegração, os seus efeitos também atingiram a Igreja profundamente.

Em Angola, depois da instrumentalização da religião no tempo colonial, depois da perseguição e martírio durante a guerra civil, surge agora uma paz semelhante à constantiniana. O receio é de vermos uma Igreja angolana com sinais obnubilados de subserviência. O que pode acontecer é que a Igreja angolana confie demasiadamente num Estado secularizado e não realmente convertido (como o fez a Igreja primitiva), e venha a sofrer a mesma crise como outrora.





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Igreja Batista - 130 anos de missões em Angola





A Igreja Evangélica Baptista em Angola (IEBA), celebrou, em 28 de Setembro 2008 , em Mbanza Kongo, província do Zaire, os 130 anos de sua existência em Angola, com um culto de acção de graças. A data assinala a chegada dos primeiros protestantes britânicos na primeira estação missionária de Mbanza-Kongo (ex-São Salvador do Kongo), província do Zaire.

O culto de acção de graças juntou para além de centenas de fiéis oriundos de distintas regiões eclesiásticas do país e da diáspora, representantes de partidos políticos, autoridades tradicionais e governantes, com destaque para o governador provincial, Pedro Sebastião.

Assistiram ainda ao acto, a directora nacional para os assuntos religiosos, Fátima Viegas, em representação do ministro da cultura, Boaventura Cardoso e o secretário-geral do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola (CICA), reverendo Luís Nguimbi.

O acto foi animado por 30 grupos corais oriundos das distintas regiões eclesiásticas do país e da República Democrática do Congo.

No culto, o reverendo da Igreja Evangélica Baptista, João Matuwawana, exortou os fiéis da congregação a transformar o 28 de Setembro numa data de reflexão, a julgar pelo papel que os primeiros missionários britânicos desempenharam na evangelização do povo angolano desde o longínquo ano de 1878.


“Um dos desafios que também teremos daqui em diante, será o de expandir o nosso evangelho por todo o país, uma vez a IEBA estar implantada em 12 das 18 províncias de Angola, e na diáspora.

No domínio social, o religioso reafirmou o engajamento da congregação, como parceiro do Governo em continuar a edificar infra-estruturas sociais nos sectores da educação e saúde em prol das populações.


FONTE: ANGOP