sábado, janeiro 24, 2009

Pardieiros e profetas do dízimo


"Os demônios que derrubaram o teto do templo"

Editorial do JT de 21 janeiro 2009

Comentários de João Cruzué

O Jt-Jornal da Tarde, do grupo "O Estado de São Paulo", publicou no dia 21.01.2009 um editorial, à primeira vista comentando sobre o desabamento do teto da Igreja Renascer da Av. Lins de Vasconcelos. Este texto deve ter passado despercebido da liderança evangélica do Estado de São Paulo. Quanto o li pela primeira vez, suspeitei que o preconceito religioso de meados do século passado ainda continua permeando a mídia brasileira.

Fiz uma segunda leitura, e concluí que o editor usou uma exceção pejorativa e difamatória, para qualificar o todo. No segundo parágrafo o editorial qualifica de "profetas do dízimo" os pastores que se organizam politicamente, como cidadãos que são, para assegurar os direitos de cidadania aos evangélicos. A separação entre religião e política por muito tempo foi a doutrina preponderante entre a Igreja Evangélica brasileira, talvez por questões de segurança. Esta atitude hoje não é mais possível para um crente que já desenvolveu uma consciência plena de cidadania, pois o lado religioso e o político não se contradizem. O primeiro trata de assuntos com inerentes a Deus e o crente. O segundo cuida de da procura do bem estar social dos cidadãos pela ação do Estado. Autoridades religiosas e políticas.

No último parágrafo a generalização continuou. O editor conceituou preconceituosamente como "pardieiros" os imóveis usados para culto evangélicos que não sejam literalmente templos próprios. Foi mais preconceituoso ainda contra evangélicos. Tetos e marquises não têm religião, caem pela ação da Lei da Gravitação Universal. Caem de supermercados, caem de templos evangélicos, caem de templos católicos, caem de construções do Metrô, caem não só eles, mas prédios inteiros. Dois tetos derrubaram as torres gêmeas do WTC em Manhatam. É tristíssimo quando tiram vidas humanas, principalmente em Igrejas. O mais ganancioso dos pastores, um judas da vida, jamais iria querer que um teto matasse seus seguidores, por "motivos" óbvios.

Se o Jornal da Tarde, do grupo O Estado de São Paulo, quis referir-se especificamente a uma Igreja e a sua liderança, que tivesse coragem de ser específico e direto. Se não o foi, é porque preconceituosamente considera todos os evangélicos como farinha do mesmo saco. A generalização do texto foi preconceituosa, maldosa e ofensiva. O que não é novidade para nós crentes brasileiros.

As Igrejas Evangélicas de São Paulo não são pardieiros nem seus Pastores profetas do dízimo. Não são pardieiros porque a frequência de queda de tetos de templos são de uma a cada dez anos, considerando que são dezenas de milhares de templos somente na Grande São Paulo. E os Pastores evangélicos também não são lobos avarentos (profetas do dízimo), pois esta carapuça não serve na cabeça de dezenas de milhares de homes e mulheres de Deus.

Se há lobos - e até entre os doze discípulos houve - eles são pouquíssimos. E quanto ao dízimo, é bíblico e pode ser entregue pela fé. Quem crê em Deus contribue. Quanto aos editoriais difamatórios, de jornais possivelmente preconceituosos, cabe aos consumidores evangélicos decidir se continuam - ou não - assinando esse tipo de mídia. O dia em que nossa conciência evangélica nos levar a entender o conceito e exercer o direito de cidadania, por uma questão didática, este tipo de desrespeito, por sermos diferentes, será uma exceção e não a regra.

A seguir, o editoral objeto de nosso comentário.

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"Os demônios que derrubaram o teto do templo"

Editorial do Jornal da Tarde - 21.01.2009
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"O desabamento do teto da sede do templo da seita evangélica Renascer no Cambuci, domingo, não resultou de uma ação maligna de Satanás. E o número de vítimas fatais (nove), menor que o provável se o desabamento fosse na hora do culto, não se deveu à miraculosa intervenção divina. A tragédia não foi tão grave quanto poderia ter sido se tivesse ocorrido instantes antes por sorte de quem se salvou. E os demônios que a provocaram podem ser encontrados no desleixo de mercadores da fé, que não se incomodam como teriam de se incomodar com a segurança deles, e de incúria de autoridades que deixam de zelar pelo bem público por submissão ao potencial eleitoral dessa grei.

A julgar pela avalanche de protestos levados aos gestores públicos por vizinhos de templos como aquele, é provável que sejam duvidosos os frutos eleitorais da leniência com que a administração pública premia seus administradores. Só que esses cidadãos ficam furiosos, mas não conseguem se mobilizar como o fazem os “profetas do dízimo”, que se organizam, elegem seus representantes para o Poder Legislativo e contam com a fidelidade absoluta destes.

Dos vereadores da Câmara Municipal de São Paulo 15% são eleitos por essas comunidades. Um deles, vereador evangélico e da bancada de apoio ao prefeito Gilberto Kassab, Carlos Apolinário (DEM), pôs o dedo na ferida ao afirmar que 95% da cidade está irregular, porque “todo mundo fica na espera da anistia”. Ele pode até ter razão. Mas nem por isso se deve deixar dissolver na generalização a cobrança específica que precisa ser feita às condições dos prédios onde funcionam tais templos. Isso não se faz porque a força dos pastores é tal que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Licenciamento, criada após catástrofe no show de um grupo mexicano no pátio de um shopping center, foi impedida de investigá-los.

A queda do teto de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, em Osasco, sobre 1,5 mil fiéis, matando 25 e deixando 467 feridos, em 1998, em nada alterou esta impunidade, principal motivo do desabamento do Cambuci, 10 anos depois. O cenário do desastre havia sido interditado pela Prefeitura em 1999 por causa dos problemas no telhado e no forro, constatados por perícia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Mas nem a consciência do risco deles próprios nem o zeloso cumprimento do dever dos fiscais municipais forçaram, contudo, os dirigentes da Renascer a se preocuparem em reformar o teto (só o pintaram, deixando-o mais bonito, mas perigoso, sem alvará da Prefeitura).

O governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab fizeram bem em acorrer ao local, assim que informados do desastre. Mas solidariedade não basta. Após a tragédia, cabe ao Ministério Público (MP) responsabilizar criminalmente os culpados. E aos gestores públicos, punir quem não fiscalizou e impedir que pardieiros improvisados em locais de oração continuem desabando sobre fiéis inocentes."

Fonte: Jornal da Tarde, Grupo O Estado de São Paulo,
Editorial
de quarta-feira, 21.01.2009.


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quinta-feira, janeiro 22, 2009

Eu tenho um sonho - I have a dream

"I Have a Dream"
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Pastor Martin Luther King
(15/01/1929 - 04/04/1968)
Tradução de João Cruzué

Excerto

"Eu lhes digo hoje, meus amigos, apesar das dificuldades que enfrentamos hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho enraizado no Sonho Americano. Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e dará testemunho do verdadeiro significado do seu credo; nós conservamos estas verdades para que fique auto-evidente: que todos os homens foram criados iguais. Eu tenho um sonho, que um dia sobre as colinas vermelhas da Geórgia os antigos donos de escravos serão capazes de assentarem-se juntos à mesa da irmandade. Eu tenho um sonho que um dia, mesmo o estado do Mississipi, sufocado pelo calor da injustiça, sufocado com o calor da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho: Que um dia esta nação se porá de pé e viverá o verdadeiro significado de sua crença: Nós conservamos esta verdade para ser auto-declarada, que todos os homens foram criados iguais. Eu tenho um sonho, e nele, meus quatro filhos pequenos viverão em uma nação em que não serão julgados pela cor de suas peles, mas pelo conteúdo de seus caráteres."


Eu tenho um sonho hoje. Eu tenho um sonho que um dia lá embaixo no Alabama com seus vícios racistas, com seu governador tendo em seus lábios palavras de interposição e nulificação, um dia bem ali no Alabama, os garotinhos negros e meninas negras serão capazes de andar de mãos dadas com os garotinhos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho este sonho hoje.


Esta esperança é nossa esperança. É com esta fé que eu me volto para o Sul. É com esta fé que nós seremos capazes de transformar a montanha do desespero em uma pedra de esperança. Com esta fé nós seremos capazes de trabalhar juntos, lutar juntos, para juntos ficarmos de pé pela liberdade, sabendo que um dia, nós seremos livres"

"Deixe a liberdade ressoar. Nos cumes das colinas prodigiosas do Novo Hampshire, deixe a liberdade repicar. Nas montanhas poderosas de Nova York, deixe a liberdade ressoar. Nas elevações dos Alleghenies da Pensilvânia, deixe a liberdade repicar. Mas não só isto; deixe a liberdader essoar no Monte Stone da Geórgia. Deixe a liberdade repicar em cada colina e até nos montículos de terra das toupeiras do Mississippi.

E quando isto acontecer, quando nós a deixarmos ressoar, vamos nos apressar para aquele dia quando nós, todos os filhos de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e pagãos, Protestantes e Católicos, seremos capazes de nos dar as mãos e cantar as palavras do velho Negro Espiritual:

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"Livre por fim, livre por fim /


Graças ao Poderoso Deus / Por fim eu estou livre."

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Autoria do Sermão: Pastor Martin Luther King, Jr.
Local: Lincoln Memorial
Washington-DC/USA
1963


Tradução de João Cruzué - para o Blog Olhar Cristão



cruzue@gmail.com


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