domingo, março 16, 2008

A crise do dolar


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Mauro Santayana - Jbonline

"Os mercados se assustam, mas o capitalismo é astuto, e tem escapado das crises cíclicas que o acometem, desde que os lídios inventaram a moeda: pequenas peças metálicas com signos do valor e do responsável pela cunhagem. Os gregos, é o que diz a tradição, aprenderam com eles. A moeda foi importante para criar grandes fortunas. A primeira delas, como registra a História, foi exatamente a de um rei lídio, Cresus.

O dinheiro é um instrumento baseado na boa-fé. Na misteriosa razão da linguagem, moeda, em sua raiz indo-européia, significava movimento da mente: uma criação da inteligência. Para os gregos - conforme Aristóteles - a moeda deve ser também recurso da justiça, ou seja, pode tornar iguais as coisas desiguais: casas e sandálias, cavalos e ovelhas. É, portanto, um título de confiança.

Sempre houve crises financeiras, mas todas surgem quando a confiança na moeda, logo, naquele que a emite, deixa de existir. O dólar se esfarinha, porque os Estados Unidos estão perdendo a confiança do mundo."

Notícias de 17/03/2008 - Segunda Feira
France Press - Londres

Entenda a Origem da Crise Americana
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u320606.shtml

"O ouro registrou um novo recorde histórico nesta segunda-feira no London Bullion Market, e a prata foi cotada em seu nível máximo nos últimos 27 anos, em um contexto de uma crise de confiança dos investidores e de uma ininterrupta desvalorização do dólar frente ao euro.

O ouro, cotado em dólares, ganhou a preferência dos investidores em função da nova queda da moeda americana frente a outras divisas. A moeda européia foi cotada a US$ 1,59, empurrando a onça de ouro (31,10 g) a um nível jamais alcançado, US$ 1.032,70.

A prata acompanhou o movimento e registrou um recorde de US$ 21,35 a onça, o maior em 27 anos.

Valor de refúgio em tempos de crise, o ouro também se beneficiou da aversão ao risco gerada pela compra do banco americano Bear Stearns por seu concorrente JPMorgan.

A alta dos preços do petróleo, que superou os US$ 111 o barril, na quinta-feira, em Nova York, um recorde histórico, alimenta os temores inflacionistas e empurra os investidores a comprar ouro, escudo tradicional contra a inflação".

Crédito: Folha UOL
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u382638.shtml


Comentários

Os Estados Unidos da América estão deixando de ser o maior mercado consumidor do planeta. Nos próximos 30 anos, pelo andar da carruagem quatro países juntos assumirão um PIB igual ao da grande nação americana. China, Índia, Brasil e Rússia.

O petróleo, a energia mais barata que tem aquecido e transportado a humanidade, está ficando escasso: USD 110.00 o barril, na semana passada. É estranho dizer isto, mas uma nação - EUA - que nunca se preocupou em poupar energia, está começando a passar por problemas. Pela primeira vez em muitos anos, o desemprego e um dólar fraco está expulsando imigrantes, por exemplo, brasileiros, que estão fazendo o caminho de volta.

A primeira má notícia do século foi a derrubada das Torres Gêmeas. Apenas dois aviões foram necessários para abalar toda segurança dos EUA, e produzir um dos maiores prejuízos de que se tem notícia entre as companhias aéreas e indústria de turismo mundiais. Por trás disso não estava uma nação, apenas um único homem: Osama Bin Laden.

Após o abalo do falso sentimento de segurança, um forte onda de desemprego gerado por papéis podres do setor imobiliário teima há quase um ano em afetar as finanças dos EUA. Desde Richard Nixon que o dólar americano não tem mais lastro em ouro, e conta apenas com credibilidade que o mundo tem na força da economia americana. Paradoxalmente, Warren Buffett tornou-se o homem mais rico do mundo em 2007 ganhando mais de 10 bilhões de dólares fazendo negócios com moedas estrangeiras apostando em outras moedas, por exemplo, aplicando em Reais.

No Brasil, se não houver mudança na política do Banco Central, em breve o dólar chega em R$1,50, tamanho os volumes de investimentos estrangeiros que aportam aqui. O país está se tornando auto-suficiente em energia - gás, petróleo, hidrelétricas.

A Rússia tem reservas de gás e petróleo enormes. A China, para mover o crescimento de sua economia em estupendos 10% ao ano está competindo com os EUA na compra de quase todo tipo de insumos - petróleo, minérios e alimentos e inflacionando os preços.

Sendo por natureza um país que acumula grandes riquezas em tempos de grandes guerras, os Estados Unidos estão, pela primeira vez em sua história, diante de um dilema: a possibilidade do empobrecimento. Isto não é de todo impossível, pois a Inglaterra dominou o mundo por mais de 200 anos, até próximo da II guerra mundial, quando foi sucedida pelos americanos.

Sem fontes de energia estáveis os tempos das vacas gordas podem estar com os dias contados para os Estados Unidos, país que começou com o trabalho dos puritanos e hoje encontra-se praticamente secularizado. Não adianta manter escrito "In God we trust" na moeda, se o coração do povo americano já está longe de Deus. Os próximos 30 anos vão trazer muitas surpresas. João Cruzué


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Mãos de Marta e coração de Maria

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Maria, Marta e Jesus.
João Cruzué

Ontem, quando
desci à sala para orar, um pensamento veio e eu pedi ao Senhor que falasse comigo. Ao abrir a Bíblia antes da oração, pude perceber que Deus falou. E como sempre gosto de fazer, vim até aqui para compartilhar. Pela primeira vez percebi um há um elo entre os fatos passados na casa de Marta e Maria e a parábola do bom samaritano.

-Senhor fala comigo pela sua Palavra, eu pedi. Há dias em que temos mais necessidades de orar que outros, e esta semana em especial, tem sido bem difícil, pois são vários os motivos para bater, buscar e pedir recurso onde se pode achar.

Meu antigo companheiro, auxiliar dos meus tempos de "pastor" está fazendo quimioterapia. A esposa de outro amigo de muitos anos, também colega de ministério, jaz em um leito de UTI, há três meses. Seu cérebro foi muitíssimo danificado com três paradas cardíacas. Isso ainda não é tudo. Um antigo Pastor, dos meus tempos de jovem, está há mais de 12 anos em uma cadeira de rodas, deprimido. Não mais lê, deixou a fisioterapia, disse-me que apenas fecha os olhos e ora constantemente. Depois de ter sofrido um derrame, teima que só voltará à Igreja depois de curado e de uma forma maravilhosa. E já se passaram mais de 12 anos. Como pode notar, eu não conseguiria mesmo estar com a minha alma tranqüila diante dessas coisas tristes.

Ao abrir a Bíblia pude ler a página inteira do final do capítulo 10 de Lucas. Primeiro o texto de Marta e Maria, continuando na parábola do bom samaritano. São palavras muito conhecidas, mas que ontem fizeram-se novas para mim.

A preocupação de Marta era o serviço: anda para lá, anda para cá; imagino: aranjando lenha, assoprando brasas do fogo, limpando as panelas, assando um pão, talvez depenando alguma ave, ou mesmo temperando um pequeno cordeiro. O tempo passava depressa, o dia ou noite chegando , e nada da ajuda de Maria.

Maria esquecera-se completamente do serviço. Assentada aos pés de Jesus, (não havia nem cadeiras nem mesas altas naquele tempo e naquela cultura) ouvia com o coração ardendo o falar do Mestre. O tempo passava e ela não se cansava, como vez em quando ainda acontece em nossos dias, quando a presença do Senhor se faz muito forte em algum culto.

Marta estava preocupada em servir, e Maria esquecera-se de tudo porque ouvia, e ouvia, e queria mais ouvir as palavras do Senhor. Marta receosa de não dar conta do trabalho deu ordens ao Mestre: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.

Comunicação é uma coisa boa; precisamos mesmo nos comunicar. Mas comunhão é algo muito mais profundo. Qualquer um pode comunicar-se, dizer bom dia, boa tarde, reportar o tempo; alguns podem orar acompanhados por uma hora, duas ou quem sabe até uma vigília inteira. Mas nem todos assuntos falados significam comunhão; isto é mais que sabido. Por exemplo: tenho duas filhas. Uma já se casou e a mais nova já tem namorado. Imagine que eu me assente à sala e passe a tarde inteira junto aos dois "segurando vela", como se diz em nossa cultura. Eles podem conversar assuntos os mais variados - mas nenhum deles vai ter a coragem necessária, por exemplo, para dizer "eu te amo".

Ano de 2008, século XXI - aqui estamos nós. Afadigados, preocupados, sem tempo, como diligentes Martas, quem sabe até dando ordens ao Senhor. É um corre-corre, um subindo-e-descendo, um ensaia-ensaia, um prega-prega, um canta-canta, um ensina-ensina... Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e chega o outro domingo. Estamos servindo? Sim! Estamos trabalhando? Sim! Estamos nos afadigando? Muito! Mas, por que estamos vazios e colhendo tão pouco?

Não temos mais tempo para comunhão com o Senhor. Não somos mais como um noivo/a apaixonado/a. Ele quer nos ouvir e também falar conosco, mas não temos mais tempo para isso. Estamos nos enganando ao pensar que se trabalharmos dez vezes mais seremos muito mais eficientes e a Igreja, o órgão ou departamento que cuidamos vai decuplicar de tamanho. Aí começamos a fazer besteiras, pois não conseguimos mais orientações com Deus.

A conseqüência disso pode ser entendida na mesma página da minha Bíblia. "Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que o despojaram, espancaram-no, deixando-o quase morto. E ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho um sacerdote, que vendo-o, passou ao largo. Eis que de igual modo, também passava um levita, que também o viu e passou ao largo.

Quem são o sacerdote e o Levita? Decerto que representam os que conhecem e ensinam palavra de Deus. Apressados, estressados com a fadiga do serviço do altar, não conseguem mais ouvir a voz do Senhor por falta de comunhão. Eles são como as mãos de Marta.

"Mas um samaritano que ia de viagem aproximou-se do ferido e vendo-o moveu-se de íntima compaixão". Talvez por ter sofrido no passado um ataque semelhante. "E aproximando-se, atou-lhe as feridas aplicando-lhes azeite e vinho. E pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. E partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro e recomendou-lhe: Cuida dele, e tudo o que mais gastares, eu to pagarei quando voltar". Aqui o temos um resultado diferente, pois atuaram em conjunto as "mãos" de Marta e o "coração" de Maria.

Os três personagens viram a mesma cena, mas suas atitudes foram inesperadas. Os dois primeiros julgaram que sua religião ou seus afazeres eram mais importante e tinham prioridade sobre um estranho caído no chão. O primeiro era um ministro a serviço do altar e segundo seu discípulo. Seus olhos não mais se comunicavam com o coração. Em algum lugar de suas vida eles perderam a compaixão e tornaram-se insensíveis à voz do Espírito que fala. Do samaritano poderia se esperar tudo, menos compaixão.

E foi assim que entendi antes de começar minha oração, que não importa quão engajados nós estejamos em grandiosos projetos aos olhos alheios ou dos nossos próprios, há uma grande multidão muda, surda e em grande miséria ao nosso redor. Se dermos prioridade as coisas que nos interessam e relegarmos ao secundário os momentos que precisamos passar a sós com Deus, necessários para ouvir a Sua voz e fazer a sua vontade, ficaremos irremediavelmente secos de compaixão.

Por isso, vamos colocar o título da mensagem na ordem correta: "Coração de Maria e mãos de Marta". Primeiro a comunhão e depois o serviço.


João Cruzué

http://olharcristao.blogspot.com
cruzue@gmail.com

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