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A volta do Filho Pródigo
João Cruzué
Eis o texto que tem por título: A Parábola do Filho Pródigo, quando na verdade seu objetivo é uma crítica bem formulada contra o pensamento farisaico que desprezava Jesus, porque ele conversava e comia com os publicanos, com os pecadores =- a "gentalha" desprezada da sua época.
"E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar.
E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
E o Pai lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se." (Lucas 15: 25-32).
O texto da Parábola começa com a atitude do filho cobrando sua parte na herança antes da morte do pai, para torrá-la em bebedices com os falsos amigos e meretrizes. Este filho se arrepende depois, volta, e é recebido com alegria pelo pai, que para expressar seu contentamento mandou chamar todos da casa e deu uma grande festa, se fosse no dia de hoje, um "churrasco" com música e dança.
O filho mais velho, naquela ocasião, era o contraste em pessoa. Quando soube do regresso do irmão e da festa preparada pelo pai se emburrou, ao ponto de recusar-se a entrar para abraçar o irmão. Era um falso apologeta dos bons costumes. Cobrou coerência do pai: um tratamento duro e exemplar para aquele irmão devasso e dissipador dos bens da família.
Foi usando desta analogia que Jesus criticou o comportamento dos fariseus, autoridades religiosas do seu tempo, que passavam muito tempo na Casa de Deus, mas que não O tinham dentro de seus corações. Eram frios, vazios, que não conheciam a verdadeira face de Deus. Uma face de misericórdia, de perdão, que oferecia uma nova oportunidade aos pecadores. O amor como forma de produzir gratidão e garantir o perdão.
O filho mais velho reclamou que em toda sua vida nunca tinha recebido um festa, nem celebrado com os amigos um churrasco de cordeiro. Não recebeu, porque tinha uma imagem muito diferente da pessoa de seu pai. Achava que o pai era austero e mesquinho. Um pai que devia castigar o erro das pessoas.
Ele estava muito enganado.
Preocupado com o trabalho, não tinha mesmo tempo de conversar com seu Pai. Por isso não via que seu "velho" todo dia, que caminhava até os limites de suas terras para ver se o filho caçula estava voltando. O filho mais velho nunca percebeu isso porque não tinha saudades do irmão Não era generoso nem sabia que tinha um pai generoso, disposto a perdoar, esperançoso da volta do filho.
E no dia que o pródigo voltou, o primogênito também voltava à tarde do trabalho. Ouviu um barulho de música e o cheiro de boi na brasa. Ao saber do que se tratava, fechou o coração e não quis entrar e festejar.
O filho mais velho é o tipo de crente que trabalha dedicadamente nas Igrejas hoje. Presta um serviço de excelência há muitos anos, mas por costume e status. Pura formalidade. Em seu coração é um crítico ácido. É perfeito em serviço, mas mesquinho de coração. Quando volta para casa, costuma destilar um rol de críticas sob o que aconteceu no culto.
Está todos os dias dentro da casa do Pai, mas o Espírito Santo não está mais dentro de seu coração. Porque a boca fala do que há em abundância no coração. Um coração predominantemente crítico é espelho a ausência do Espírito. E sem o Espírito não há misericórdia, nem perdão nem celebração. E perante os olhos do Senhor a misericórdia prevalece sobre o formalismo farisaico.
O filho primogênito queria ver seu irmão pelas costas. Aliás, se fosse por ele, o irmão somente botaria os pés dentro de casa na condição de jornaleiro.
E com esta crítica sutil na forma de uma parábola, Jesus Cristo mostrou aos fariseus, e mais tarde aos judeus, que o amor de Deus transcende à justiça dos homens. Que para Deus o arrependimento de um pecador é motivo de festa entre os anjos do céu, porque Deus não enviou seu Filho ao mundo para chamar os justos ao arrependimento, mas para anunciar aos pecadores uma nova oportunidade de perdão e o Ano aceitável do Senhor.