sexta-feira, julho 18, 2014

O profeta Ezequiel e a doutrina da predestinação


Rolos sagrados

João Cruzué

Há muito, tenho ouvido esta assertiva calvinista: Uma vez salvo, salvo para sempre! O homem nada fez para ser salvo, e nada precisa fazer para mantê-la ou perdê-la. O ensino de uma salvação absoluta. Eu sei que na Bíblia tem pontos difíceis. Um deles é Romanos 9;13 - Amei a Jacó e aborreci Esaú. Será que Deus olhou para os dois e, de repente, simpatizou-se com Jacó e não foi com a "cara" de Esaú? Vamos ver isto mais de perto.

Muitos pregadores crucificam o caráter de Jacó, com suposições sem fundamento. Será que Jacó era mesmo um enganador, tanto quanto Abrão era um mentiroso?  Não é propósito deste texto tratar desta questão, considerando que os feitos  dos dois falam por si. O coração de Jacó se inclinava para o sagrado, enquanto que o de Esaú era profano. Mundano. Quando arranjou duas mulheres heteias, formou um lar dentro de um conceito de família reprovável. As duas foram fontes de amargura para sogros. Mas, o que mais pesou no coração de Deus para aborrecer a Esaú, foi o desprezo deste pela bênção da primogenitura.

Estive meditando por esses dias no livro do Projeta Ezequiel. Mais precisamente no capítulo 33. Se por um lado, Filipenses 1:6 diz que "Estou certo, que aquele que começou a boa obra em vós, a aperfeiçoará até o dia do Senhor Jesus, no capítulo 33 de Ezequiel, entre outras coisas, está escrito assim:

EZEQUIEL 33:13
"Quando eu disser ao justo
Que certamente viverá,
E ele, confiado na sua justiça,
Praticar a iniquidade,
Não virão a minha memória
Todas as justiças,
Mas na sua iniquidade
que pratica, morrerá."

EZEQUIEL 33:14
"E quando eu disser ao ímpio:
que: Certamente morrerás;
Se ele se converter do seu pecado,
e fizer juízo e justiça,
Restituindo o penhor,
Pagando o furtado,
Andando nos estatutos da vida
e não praticando iniquidade
certamente, viverá,
E não morrerá!"


Daí, meu entendimento é assim: 

A salvação é de graça e pela graça. Deus, vendo a terra e os homens na miséria do pecado, decidiu descer até aqui, para trazer a sua graça até nosso nível. E uma vez tendo sido perdoados e salvos, os frutos são uma consequência natural.  Mas a salvação proposta pro Deus, não é uma reta de chegada mas um caminho a ser percorrido. A porta é Jesus, e depois da porta segue-se um caminho estreito. A salvação é recebida de graça, é mantida pela graça, mas pode ser perdida, se de nossa parte desprezarmos a santidade, a justiça e a comunhão com Deus.




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quarta-feira, julho 16, 2014

A chamada ministerial do Pastor Martin Luther King

D.D
TESTEMUNHO DO

PASTOR MARTIN LUTHER KING

"My call to the Ministry"

Pastor Martin Luther King
(1929-1968)

Martin Luther King, Jr.

Tradução de João Cruzué


Joana Thatcher, diretora de publicidade da Convenção Batista Americana, pediu ao Pastor Martin Luther King para dar uma declaração sobre sua chamada ministerial. Em seu pedido, ela notou que "Aparentemente a maioria de nossos jovens ainda pensam que a menos que vejam uma sarça ardendo ou uma luz ofuscante no caminho para "Damasco", eles não se consideram chamados."

E essa foi a declaração do pastor Martin Luther King:

"Minha chamada para o ministério não foi nem dramática nem espetacular. Ela não veio através de uma visão milagrosa nem da experiência de uma luz ofuscante na estrada da vida. Tamnbém não veio de uma forma repentina. Pelo contrário: foi a resposta a um impulso interior que gradualmente veio sobre mim. Aquele impulso se expressava através de um desejo de servir a Deus e à humanidade e um sentimento de que meus talentos e meu compromisso poderiam ser melhor expressos através do Ministério.

No começo eu planejei ser um Físico. Depois, eu mudei minha atenção para a carreira de Direito. Mas, quando passei nos estágios preparatórios para estas duas carreiras, eu ainda sentia dentro de mim aquele impulso imortal de servir a Deus e à humanidade através do Ministério.

Durante o último ano da Faculdade, finalmente, eu decidi aceitar o desafio de entrar para o Ministério. Eu consegui ver que Deus tinha colocado uma responsabilidade sobre os meus ombros, e quanto mais eu tentava escapar, mais frustrado eu me tornava.

E alguns meses depois de pregar meu primeiro sermão, entrei para o seminário teológico. Isto é, em resumo, a história da minha chamada e  minha peregrinação para o ministério."


07 de agosto de 1959.


Fonte: 
MLK/Stanford





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terça-feira, julho 15, 2014

Jesus com as mulheres - de Paulo Brabo


Sinner woman


"COM AS MULHERES"

Autor: Paulo Brabo


"–Está vendo essa mulher?

Eu entrei na sua casa e você não me ofereceu

água para lavar os pés.

Ela, no entanto, lavou meus pés com lágrimas,

e enxugou-os com os seus cabelos.

Você não me cumprimentou com um beijo,

mas ela, desde que entrou,

não parou de beijar-me os pés.

Você não me derramou óleo sobre a cabeça,

mas ela passou essência perfumada nos meus pés.
"
 

Lucas 7:44-46


"A distância cultural nos impedirá para sempre de apreender a extensão da sua influência e a absoluta novidade da sua postura, mas é certo que nenhuma outra figura masculina da antiguidade oriental – seja no domínio da realidade ou da ficção – sentiu-se mais à vontade entre as mulheres do que o Jesus dos evangelhos. Nenhum outro personagem do seu tempo, e talvez de tempo algum, fez mais para corrigir a distorção das lentes culturais através das quais a imagem da mulher era interpretada – e em muitos sentidos permanece sendo.

A singularidade de Jesus nesse aspecto não é menos do que tremenda. Acho notável ao ponto do milagroso que as posturas de Jesus diante das mulheres, conforme descritas nos evangelhos, não tenham sido censuradas posteriormente por homens menos preparados do que ele para abraçá-las.


É preciso lembrar o óbvio, que não faz cem anos que as mulheres alcançaram status social igualitário no ocidente, o que os evangelhos descrevem que ocorreu há dois mil.


Numa época em que um marido não deveria se dirigir à própria esposa em lugar público, e que homem algum deveria trocar palavra com uma mulher desconhecida (em ambos os casos para proteger a sua honra, não a dela), o rabi de Nazaré buscava a companhia amistosa de mulheres, puxava conversava com elas, tratava-as com admiração e naturalidade, interessava-se sem demagogia pelos seus interesses, deixava que tocassem publicamente o seu corpo e o seu coração.


O Filho do Homem não se constrangia em ser sustentado por mulheres, não virava o rosto à possibilidade de ser acarinhado por elas, não hesitava em recorrer a imagens que diziam respeito ao seu dia-a-dia, não sonegava histórias em que mulheres eram (muito subversivamente, na ótica do seu tempo) exemplo de humanidade, de integridade, de engenhosidade e de virtude.


Falamos de um tempo, num certo sentido não muito distante, em que os homens que não denegriam abertamente a imagem da mulher soterravam-na por completo debaixo de idealizações simplistas. Dependendo de quem estivesse falando, a mulher era vista como incômodo necessário, como homem imperfeito, como criança, como objeto mecânico de desejo, como objeto idealizado de poesia, como animal fraco e sensual; figura às vezes inocente, às vezes desejável, normalmente imprevisível, normalmente indigna de confiança e invariavelmente inferior.


Contra esse cenário, o rabi de Nazaré resgatou uma mulher adúltera das garras da justiça e da morte sem recorrer ao que seria o mais fácil e popular dos argumentos antes e depois dele, o que afirma que a mulher é criatura de mente obtusa e vontade fraca, particularmente suscetível às sensualidades da carne. Em um único golpe eficaz ele transferiu a culpa da mulher acuada para seus acusadores, todos eles homens, emblemas de poder e desenvoltura, até serem publicamente dissolvidos pela mão de Jesus. A vítima, transgressora, foi ao mesmo tempo salva da condenação e tratada, talvez pela primeira vez, como um ser humano independente e responsável (João 8:1-11).


Aqui estava um homem que, irresistivelmente, olhava para as mulheres sem rebaixar-se a preconceitos ou recorrer a idealizações. Jesus lia as mulheres como seres humanos, e foram necessários séculos para que o mundo arriscasse repetir a sua ousadia. Ainda hoje, transcorridos milênios ineficazes, não há homem que esteja imune a ler a mulher através de estereótipos novos e velhos; ainda somos tentados a enxergar o homem incompleto, a flor de pureza, a criança sem rédea. Mas ali, nas esquinas empoeiradas de um canto do mundo, as estruturas do mundo social haviam sido abaladas para sempre.


Para mim não há evidência maior de que o espírito subversivo de Jesus permaneceu vivo nos primeiros discípulos, logo após a ressurreição, do que a descrição da comunidade de seguidores em Atos 1:14: “Todos estes [homens] perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”.


Este com as mulheres me pega desprevenido todas as vezes, tanto pela sua necessidade quanto pelo impensável que representava no seu tempo. Em retrospecto é difícil avaliar o quanto está sendo efetivamente dito aqui, mas é preciso lembrar constantemente que naquela cultura as esferas de atividade de homens e mulheres eram divididas ao ponto do incompatível. Essa fenda corria de uma ponta à outra o tecido da sociedade, mas seu ponto nevrálgico talvez residisse na esfera religiosa, na qual era preciso ser homem para ter participação eficaz – isto é, para ter acesso verdadeiro e relevante à divindade.


Na visão de mundo vigente, homens e mulheres habitavam espaços separados no universo; essa incompatibilidade era espelhada na sociedade e prontamente celebrada através de espaços diferenciados de adoração. Tanto o Templo quanto as sinagogas tinham áreas separadas para homens e mulheres, e os recintos reservados para os homens ficavam invariavelmente mais próximos de Deus. Era uma sociedade em que não ocorreria a ninguém colocar homens e mulheres compartilhando voluntariamente de um mesmo espaço, muito menos um espaço religioso.


Agora que Jesus havia subido ao céu e os homens de branco haviam dito que mantivessem os olhos fixos na terra, os discípulos viram-se diante de um problema e de um embaraço. Jesus, o amigo das mulheres, havia partido, mas as mulheres haviam ficado. Deveriam eles, homens de respeito e maridos de boa fama, retornar ao antigo e unânime padrão social, devolvendo as mulheres ao seu devido lugar? Agora que Jesus não estava mais ali para efetuar a sua mágica, não seria inevitável que restabelecessem a fenda social que ele havia coberto temporariamente? Quando a multidão de seguidores retornasse a Jerusalém (onde Jesus dissera que aguardassem) deveriam o grupo de discípulos e o de discípulas “perseverar unanimemente” em recintos separados?


Escolher o contrário, escolher o abraço comunitário e a convivência santa nos padrões inaugurados por Jesus, seria nadar contra a corrente de todas as instituições sociais em efeito no seu tempo. Um observador só encontraria um modo razoável de interpretar uma reunião voluntária e regular entre homens e mulheres: como ocasião para licenciosidade. Foi efetivamente dessa maneira que as reuniões cristãs “de amor” foram interpretadas por seus antagonistas ao longo de seus primeiros séculos. Tinham que ser desculpas para sexo – porque, que mais poderia um homem querer fazer com uma mulher?


A momentosa decisão encapsulada nesse único verso demorou a encontrar compreensão e aceitação, tanto dentro quanto fora do grupo. Escolhendo reunir-se regularmente no mesmo recinto, tanto homens quanto mulheres abriram voluntariamente mão da ficção da “boa fama” em troca da generosidade, da inclusão e da convivência. Escolhendo sentar-se de modo criativo ao lado de um Outro com quem não criam ter nada em comum, romperam um véu ancestral e convidaram o mundo a explorar um universo de possibilidades inimaginadas. Nos dois casos, seguiam o desafio formidável deixado pelo exemplo de Jesus".



Fonte: Bacia das Almas - Paulo Bravo





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