quarta-feira, dezembro 03, 2025

O Encontro de Jesus com a Mulher Siro-Fenícia

 

Jesus e a Mulher Siro-Fenícia

João Cruzué

O encontro de Jesus com a mulher siro-fenícia revela um dos momentos mais enigmáticos e, ao mesmo tempo, mais abençoado do Evangelho. Jesus havia se retirado para a região de Tiro e Sidom — território gentio — em uma espécie de recolhimento. Ali, onde jamais se pensaria em uma intervenção divina, eis que surge uma mulher estrangeira, descrita por Marcos como “grega, siro-fenícia de origem”.  Aos olhos dos judeus, ela representava tudo de desprezível. Não tinha direito à promessa, etnia gentia, religião errada, território errado. Mesmo assim, ela veio. Seu pedido não era para si, mas para sua filha endemoninhada, revelando uma fé que nasce da dor, mas também da esperança.

O primeiro silêncio de Jesus, relatado por Mateus, não era rejeição, mas provocação pedagógica. Jesus, ao dizer que veio “apenas às ovelhas perdidas da casa de Israel”, expôs um limite que a própria missão messiânica ultrapassaria mais tarde. A mulher, contudo, não recuou; e continuou firme. Avançou. Prostrou-se. Adorou. Insistiu. E quando Jesus utilizou a dura expressão — “Não é bom tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” — Ele não a humilha, mas revela a tensão histórica entre judeus e gentios. A resposta dela, entretanto, se torna uma das declarações de fé mais extraordinárias das Escrituras: “Sim, Senhor; mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.”

Ali, a barreira entre a promessa e o estrangeiro caiu por terra.

A fé da mulher siro-fenícia não exigiu privilégios; ela apenas reconheceu que uma migalha da graça de Cristo é suficiente para alterar toda a realidade. Sua confiança desarmou qualquer limite cultural, religioso ou étnico. Ela não disputou a primazia de Israel, mas discerniu que a misericórdia de Deus é tão abundante que transborda mesas, templos e fronteiras. O que poucos em Israel perceberam, ela enxergou: Jesus era, é e será suficiente.  Melhor: Jesus é mais do que suficiente.

O milagre que se seguiu — a libertação imediata de sua filha — foi a assinatura divina sobre uma fé que ultrapassou séculos de separação. O Reino de Deus avançou, chegando primeiro justamente a quem estava mais distante. Esse encontro, portanto, não é casual; ele antecipa a inclusão dos gentios, confirma que a fé é a chave que abre portas e demonstra que nenhum limite humano consegue aprisionar a misericórdia divina. Cristo não mudou Sua vontade; Ele revelou progressivamente seu alcance.

A história da mulher siro-fenícia nos desafia ainda hoje.

Quantas vezes aceitamos limites que Deus não colocou? Quantas vezes desistimos ao primeiro silêncio? A fé dessa mulher nos ensina a insistir, a permanecer, a adorar mesmo quando não entendemos, e a reconhecer que mesmo quando tudo parece fechado, há migalhas do Reino caindo — e nelas há poder suficiente para transformar vidas inteiras. Assim como aquela mulher, somos convidados a ultrapassar barreiras e a descobrir que a graça de Cristo é maior do que qualquer rótulo, distância ou impossibilidade.


Humilhai-vos, portanto, 

sob a poderosa mão de Deus, 

para que ele, 

em tempo oportuno, vos exalte;

(I Pedro 5:6)


terça-feira, dezembro 02, 2025

Resumo do Filme Deixados para Trás I

 

O Filme

João Cruzue

O filme "Deixados para Trás I" (Left Behind, 2000), é baseado no best-seller de Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, e tem início em um mundo contemporâneo onde o piloto de avião Rayford Steele (Brad Johnson) vive um casamento em crise com Irene, que se converteu ao cristianismo evangélico. Enquanto Rayford flerta com a comissária Hattie Durham, seu filho adulto Buck Williams (Kirk Cameron), um repórter de TV, investiga conspirações globais envolvendo o cientista israelense Chaim Rosenzweig e seu milagroso fertilizante que resolve a fome mundial.

De repente, ocorre o Arrebatamento: milhões de cristãos verdadeiros desaparecem instantaneamente, deixando roupas e pertences para trás. Aviões caem, carros batem, o caos se instala. Rayford, pilotando um voo transatlântico, percebe que sua esposa e filho pequeno sumiram, enquanto Buck, no mesmo avião, grava o pânico dos passageiros. No solo, a filha de Rayford, Chloe (Janaya Stephens), enfrenta a realidade ao encontrar a casa vazia.

Buck descobre uma conspiração liderada pelo carismático Nicolae Carpathia (Gordon Currie), um jovem político romeno que ascende rapidamente na ONU prometendo paz mundial. Carpathia controla bancos, mídia e governos, usando o fertilizante de Rosenzweig como moeda de troca. Buck obtém uma fita comprometedora que revela o plano de Carpathia para dominar o mundo.

Rayford, desesperado para voltar aos EUA, enfrenta problemas no avião e questiona sua descrença anterior. Chloe, inicialmente cética, começa a conectar os desaparecimentos às profecias bíblicas que sua mãe pregava. Buck e Chloe se encontram em meio ao caos em Chicago e formam uma aliança improvável. Um pastor que "ficou para trás", Bruce Barnes (Clarence Gilyard), explica que o Arrebatamento foi o cumprimento de 1 Tessalonicenses 4:16-17.

O filme culmina com Buck confrontando Carpathia na ONU, revelando sua identidade como o Anticristo. Rayford e Chloe se convertem genuinamente, formando o núcleo da Tribulação Força, um grupo de resistência espiritual. O longa termina com a mensagem de que ainda há esperança para os "deixados para trás" se aceitarem Cristo antes dos sete anos de Tribulação, prenunciando as sequências da série.


SP-02/12/2025



A Prisão de Pedro e o Rei Herodes

 

Pintura de Valdés Leal

João Cruzue

A segunda prisão de Pedro ocorre em um momento de intensa efervescência espiritual em Jerusalém, quando a Igreja crescia rapidamente por meio de sinais, curas e pregação pública no Pórtico de Salomão. Multidões chegavam da cidade e de aldeias vizinhas trazendo enfermos e oprimidos, e todos eram curados, o que conferia enorme legitimidade ao testemunho apostólico. Esse impacto provocou inquietação no sumo sacerdote e nos saduceus, que temiam perder autoridade religiosa e política. Dominados por “inveja” (zēlos), agiram para prender Pedro e demais apóstolos, colocando-os na prisão pública (tērēsis dēmosia). Aqui surge a grande tensão: dias antes, Tiago, irmão de João, fora morto por Herodes Agripa I; agora, Pedro é preso pelo mesmo ambiente hostil. Por que o primeiro morre e o segundo é preservado? Essa contradição aparente se torna central para entender a soberania divina e a missão apostólica.

Durante a noite, um anjo do Senhor intervém e liberta Pedro e os apóstolos, ordenando que voltem ao templo para ensinar. A ação sobrenatural não apenas reverte a ordem humana, mas demonstra que Deus conduz cada apóstolo segundo Seu próprio propósito. A morte de Tiago não representou abandono, e a libertação de Pedro não representa favoritismo; ambas fazem parte da economia divina em que Deus conduz Sua obra por caminhos variados. Tiago dá testemunho por meio do martírio; Pedro, por meio da continuidade pública da missão. A contradição aparente resolve-se quando se percebe que não há ausência de Deus na morte de um nem privilégio na vida de outro, mas finalidades diferentes para instrumentos diferentes.

Ao amanhecer, as autoridades descobrem que a prisão está lacrada, os guardas a postos, mas os apóstolos ausentes. A perplexidade do Sinédrio aumenta quando recebem a notícia de que Pedro e os outros estão novamente ensinando no templo. Conduzidos para novo interrogatório, são acusados de desobediência. Pedro responde com a célebre frase: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” Esse princípio ajuda a compreender por que Tiago morre e Pedro vive: a obediência não garante resultados idênticos, mas submete cada vida ao plano soberano de Deus. O foco não está na autopreservação, mas na fidelidade; e Deus escolhe, conforme Seu propósito, quando a fidelidade é testemunhada pela vida e quando é testemunhada pela morte.

No meio da deliberação do Sinédrio, Gamaliel intervém com prudência, lembrando que obras humanas desaparecem, mas obras divinas permanecem. Sua análise histórica aponta para a mesma verdade revelada na diferença entre Tiago e Pedro: Deus conduz Sua obra por caminhos que ultrapassam a lógica humana, permitindo que alguns concluam seu testemunho rapidamente, enquanto outros permanecem para funções específicas. Gamaliel não compreende completamente a fé cristã, mas intui que há algo maior do que cálculo político operando naqueles acontecimentos, pois a obra dos apóstolos não se comportava como um movimento humano comum.

Ao final, embora açoitados e proibidos de pregar, os apóstolos saem regozijando-se por sofrer pelo nome de Jesus e continuam diariamente no templo e nas casas. Pedro segue vivo — não por ser mais importante do que Tiago, mas porque sua missão ainda não estava concluída. Tiago morre — não por falta de proteção divina, mas porque seu martírio se torna semente para a Igreja. A tensão entre a morte de um e a libertação do outro ilumina a realidade profunda do Reino: Deus não se compromete com resultados uniformes, mas com finalidades eternas. Assim, a segunda prisão de Pedro nos ensina que a obra de Deus avança por meio de vidas preservadas e vidas ofertadas — ambas igualmente valiosas aos olhos daquele que dirige a história.





O Conflito de Jonas com a Vontade de Deus

 

Jonas em Ninive

João Cruzué

O livro do Profeta Jonas apresenta nas escrituras um conflito dramático entre a vontade humana e a vontade divina. Quando Deus ordenou a Jonas: "Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela" (Jonas 1:2), o profeta respondeu com uma fuga deliberada, embarcando em um navio para Társis, na direção oposta a Nínive. Este gesto revela não apenas desobediência do profeta, mas a rejeição consciente do propósito divino. Este ato inicial do livro expõe uma verdade profunda sobre a natureza humana: mesmo os servos de Deus podem resistir à sua vontade, quando esta contradiz os próprios valores, preconceitos ou expectativas humanas. A fuga de Jonas não era um ato de medo ou covardia; era uma objeção teológica e moral à missão que lhe fora confiada.

O cerne do conflito de Jonas com Deus se revela plenamente no capítulo 4, quando o profeta finalmente desnuda sua motivação: "Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal" (Jonas 4:2).

Jonas conhecia o caráter de Deus e precisamente por isso fugiu. Ele não queria que Nínive fosse poupada. Os ninivitas eram inimigos cruéis de Israel, conhecidos por sua brutalidade e violência. Na perspectiva de Jonas, eles mereciam juizo, não misericórdia. 

O profeta representa uma compreensão estreita da justiça divina - uma justiça que demandava punição para os ímpios, especialmente quando esses ímpios eram opressores de seu próprio povo.  O conflito, portanto, não era simplesmente entre obediência e desobediência, mas entre duas visões da justiça: a justiça retributiva que Jonas defendia versus a justiça restaurativa que Deus oferecia.

Deus não abandonou Jonas em sua rebelião, mas empregou uma série de intervenções pedagógicas para confrontar e transformar a vontade do profeta. A tempestade que ameaça o navio força Jonas a reconhecer publicamente sua fuga (Jonas 1:9-12). O grande peixe que o engole por três dias torna-se tanto instrumento de preservação quanto prisão de reflexão, onde Jonas ora seu salmo de arrependimento (Jonas 2). 

Após a pregação bem-sucedida em Nínive e o arrependimento da cidade, Deus ainda precisou lidar com a ira persistente de Jonas. A aboboreira que cresceu e murchou em um dia serviu como ilustração final: se Jonas teve compaixão da planta pela qual não trabalhou, quanto mais Deus deveria ter compaixão de 120.000 pessoas "que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda" (Jonas 4:11)? Cada intervenção divina visa não destruir a vontade de Jonas, mas expandir sua compreensão e transformar seu coração.

O conflito de Jonas ressoa profundamente com experiências cristãs contemporâneas. Quantas vezes resistimos à vontade de Deus porque ela nos chama a amar quem consideramos indigno de amor? Quantas vezes nossa teologia se torna refém de nossos preconceitos étnicos, políticos ou sociais? O livro de Jonas questiona toda forma de religiosidade que transforma Deus em validador de nossas próprias agendas. Jonas queria um Deus que condenasse seus inimigos, porém, descobriu um Deus que ama indiscriminadamente. Para nós hoje, isso significa confrontar nossa tendência de criar um Deus à nossa imagem - um Deus que odeia quem odiamos, que exclui quem excluímos, que pune como queremos punir. O profeta rebelde nos ensina que a vontade de Deus frequentemente desafia nossas zonas de conforto moral e nos chama a uma compaixão que transcende nossa compreensão natural de justiça.

A questão final que o livro deixa em aberto - Jonas nunca responde à pergunta de Deus sobre Nínive - é deliberada. Ela transfere a pergunta para cada leitor: aceitaremos a amplitude da misericórdia divina, mesmo quando ela beneficia aqueles que consideramos indignos? Renderemos nossa vontade à vontade de Deus, mesmo quando esta nos parece escandalosamente generosa? O silêncio de Jonas no final do livro é, paradoxalmente, um convite para que cada um de nós responda por si mesmo. 

Assim, a verdadeira obediência não é apenas fazer o que Deus ordena externamente, mas alinhar nosso coração com o coração de Deus - um coração que não deseja a morte do ímpio, mas que este se converta e viva (Ezequiel 33:11). Este permanece o desafio fundamental de toda vida cristã: permitir que a vontade de Deus transforme não apenas nossas ações, mas também nossos desejos mais profundos.

SP- 02/12/2025.





O Chipanzé , o DNA do Homem e a Nota de 2 Reais

  

João Cruzué

Em minha pesquisa no GPT-5 observei estas comparações entre o DNA do Homem e de alguns animais:

O Chipanzé compartilha 98 a 99% do nosso DNA; 

Os ratos têm 85%  do Genoma que está no DNA humano;

As vacas, 80%;

A mosca doméstica tem 60%;

O repolho de 40 a 50%;

O sapo, de 30 a 40%.

Se fossem impressos todos os pares de base do genoma humano em letras do tamanho das desse texto, teríamos 1.500 volumes de 700 páginas cada em tamanho A4.

Esta aparente igualdade desaparece quando se mostra o tamanho destas "pequenas " diferenças.

Se não houvesse esta informação, você iria inferir que o homem seria semelhante ao chipanzé, o chipanzé ao rato, o rato à vaca, a vaca à mosca das doméstica e a mosca ao repolho, e este ao  sapo. Uma baita distorção.

Em  termos práticos, comparar o homem ao chipanzé seria a mesma coisa que comparar uma nota de 100 com uma de 2 reais. Parece que têm a mesma cor... digamos que sejam 98% iguais. Mas eu duvido que você trocaria uma nota de 100 por uma de 2, porque esses 2% fazem grande diferença. 


O genoma humano possui aproximadamente 3 bilhões de pares de bases (3.000.000.000 ou 3.109) distribuídos em 46 cromossomos Wikipedia. Essa é a base numérica para todo s os cálculos de diferenças genéticas.

Cálculo Numérico da Diferença Genética entre Humanos e Chimpanzés

Com base nas informações coletadas sobre o genoma humano e estudos de comparação genética, apresento os cálculos detalhados das diferenças entre o DNA humano e do chimpanzé.

Dados Base para os Cálculos

O genoma humano possui aproximadamente 3 bilhões de pares de bases (3.000.000.000 ou 3.109) distribuídos em 46 cromossomos Wikipedia. Essa é a base numérica para todo s os cálculos de diferenças genéticas.

Diferentes Porcentagens e Seus Valores Absolutos

A diferença genética entre humanos e chimpanzés varia conforme a metodologia de análise utilizada. Aqui estão os cálculos para diferentes cenários:

Cenário 1: Diferença de 1,3%

Estudos que compararam amostras de 3 milhões de pares de base, representando cerca de 0,1% do genoma do primata, constataram uma diferença média de apenas 1,3% UNICAMP Blogs.

Cálculo: 3.000.000.000 × 0,013 = 39.000.000 pares de bases diferentes

Cenário 2: Diferença de 1,6%

Segundo alguns estudos, os humanos diferem dos chimpanzés comuns e pigmeus em cerca de 1,6% do DNA, portanto compartilham 98,4% Instituto Humanitas Unisinos.

Cálculo: 3.000.000.000 × 0,016 = 48.000.000 pares de bases diferentes

Cenário 3: Similaridade de 99,6%

Em 2005, pesquisadores que sequenciaram o genoma do chimpanzé constataram que humanos compartilham cerca de 99,6% do DNA com os chimpanzés Jornal da USP, o que significa uma diferença de 0,4%.

Cálculo: 3.000.000.000 × 0,004 = 12.000.000 pares de bases diferentes

Cenário 4: Análise Mais Ampla (95% de similaridade)

Uma estimativa que melhor representa o relacionamento evolutivo indica um grau de correspondência genômico entre 95% e 99% Wordpress. Considerando o extremo de 95% de similaridade (5% de diferença):

Cálculo: 3.000.000.000 × 0,05 = 150.000.000 pares de bases diferentes

Cenário 5: Gap Divergence (2025)

Um artigo científico publicado em abril de 2025 na revista Nature, usando o critério "gap divergence", mostrou uma diferença de aproximadamente 14,9%, o que significa que aproximadamente 85,1% do genoma humano tem correspondência direta com o genoma do chimpanzé Questão de Ciência.

Cálculo: 3.000.000.000 × 0,149 = 447.000.000 pares de bases diferentes

Resumo Comparativo em Números Absolutos

Método/Estudo

Diferença (%)

Pares de Bases Diferentes

Regiões codificantes similares

0,4%

12 milhões

Análise de sequências alinhadas

1,3%

39 milhões

Comparação genômica padrão

1,6%

48 milhões

Análise ampla com deleções/inserções

5%

150 milhões

Gap divergence (2025)

14,9%

447 milhões

Considerações Importantes sobre os Métodos

As estimativas mais altas de similaridade (próximas a 99%) consideram apenas as regiões alinhávei do genoma, comparando ponto a ponto os trechos que podem ser colocados lado a lado, enquanto a gap divergence leva em conta as regiões que nem sequer podem ser alinhadas, produzindo uma estimativa mais baixa de similaridade global Questão de Ciência. O material genético humano é constituído por 30% de genes propriamente ditos e 70% de sequências intergênicas (espaços entre os genes), sendo que os genes são formados aproximadamente por 95% de íntrons e 5% de éxons (sequências codificantes) Astropt.

Portanto, a diferença de 1,5% mencionada em sua pergunta corresponde a aproximadamente 45 milhões de pares de bases diferentes (3.000.000.000 × 0,015 = 45.000.000), um valor intermediário entre os diferentes métodos de análise utilizados pelos pesquisadores.


Fontes:

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📚 Fontes por organismo

🧬 1. Chimpanzé — 98–99%

  • The Chimpanzee Sequencing and Analysis Consortium (Nature, 2005).
    "Initial sequence of the chimpanzee genome and comparison with the human genome."
  • Atualizações confirmadas por:
    Rhesus Macaque Genome Sequencing and Analysis Consortium. Nature, 2007.

🐭 2. Rato — ~85%

  • Rat Genome Sequencing Project Consortium (Nature, 2004).
    "Genome sequence of the Brown Norway rat yields insights into mammalian evolution."

🐄 3. Vaca — ~80%

  • Bovine Genome Sequencing & Analysis Consortium (Science, 2009).
    "The Genome Sequence of Taurine Cattle."

🐖 4. Porco — 98% (genes) / ~85% (genoma total)

  • Swine Genome Sequencing Consortium (Nature, 2012).
    "Analyses of pig genomes provide insight into porcine demography and evolution."
  • Nota: os genes codificadores têm alta similaridade funcional; o genoma completo é menos similar.

🐸 5. Sapo (Xenopus tropicalis) — 30–40% genoma total

  • Xenopus Genome Project (Science, 2010).
    "The genome of the Western clawed frog Xenopus tropicalis."
  • Conservação de genes essenciais relatada pelo NCBI Homologene (~80% em genes ortólogos).

🪰 6. Mosca doméstica (Drosophila melanogaster / Musca domestica) — ~60%

  • Drosophila Genome Project (Science, 2000).
    "The genome sequence of Drosophila melanogaster."
  • Conservação funcional estimada pelo Homophila Project, vinculando genes de doenças humanas a genes da mosca.

🥬 7. Repolho (Brassica oleracea / plantas) — ~40–50%

  • Arabidopsis Genome Initiative (Nature, 2000) como referência vegetal (modelo).
    "Analysis of the genome sequence of the flowering plant Arabidopsis thaliana."
  • Estudos comparativos em Brassicas:
    Cheng et al., Nature Genetics (2014)
    "Genome sequencing of the Brassica oleracea genome reveals the asymmetrical evolution of polyploid genomes."

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O Reino de Deus e o Grão de Mostarda

  

Jesus e a Mulher encurvada

João Cruzué

E Jesus ensinava no sábado em uma sinagoga. E veio ali uma mulher encurvada que há 18 anos sofria daquela envermidade. E depois desse encontro o Senhor comparou o Reino de Deus a uma semente de mostarda.

É impossível encontrar na história alguém que conheça melhor do que Cristo os detalhes da miséria humana. A causa da enfermidade daquela mulher era um espírito maligno enviado pelo diabo. Muitos não crêem na sua existência, mas está claro em Lucas 13:15-17 que Satanás trazia presa aquela mulher há 18 anos. Todo esse tempo com uma coluna encurvada era uma maldade sem limites. Foi por isto mesmo que Cristo veio - para desfazer as obras do diabo.

A mulher encurvada foi até a sinagoga por causa de Cristo.

A fama dos milagres de Cristo chegou até seus ouvidos, e ela desejou vê-lo. Dezoito anos de encurvamento era um longo tempo. Longo tempo de baixa autoestima, fuxicos, olhares curiosos. Deus estava atento a isto. Como estava atento a mulher do fluxo de sangue - 13 anos! Ao paralítico do Tanque de Betesda - 38 anos! A falta de um herdeiro para Abrão - 99 anos!

Em meio a tanta gente importante procurou um cantinho para ouvir. Mas Jesus não chamou os mais importantes, presentes na reunião. Ele olhou e viu o sofrimento daquela mulher. Depois de olhar ele a chamou: Mulher estás livre da tua enfermidade. Com esta ordem as correntes do diabo quebraram-se. Não contente com isto, impôs sobre ela as mãos, e ela endiretou-se e começou a glorificar a Deus.

E quando Deus começou a ser glorificado, o chefe da sinagoga em lugar de compartilhar daquela alegria, irritou-se ao ponto de repreender publicamente a Jesus, falando para a multidão: Seis dias há que se pode trabalhar. Vinde pois nestes dias para serdes curados e não nos sábados.

E até hoje, os seguidores do sábado continuam glorificando o sábado em lugar do Criador do sábado. Certa feita, passava eu, escritor deste blog, por um tempo muito difícil de falta dinheiro e emprego. Minha esposa e eu tínhamos um pequeno comércio na garagem de nossa casa. E um salão da Igreja A. foi aberto perto de nossa casa. E todo domingo vinha um senhor já bem de idade tentar nos re-envangelizar para o sabatismo. Sabedor de éramos crentes, ele insistia a apresentar um Cristo que sempre eu soube que foi muito perseguido por causa dos sábados. Ao recusar sua literatura pois já era cristão, o insistente "vovô" adv. começou a bater a poeira do sapato na calçada de nossa casa, em frente a dezenas de pessoas que passavam, acrescentando mais um prego a nossa angústia.

Mas, naquele mesmo mês, recebi uma dívida antiga. Foi o bastante para pagar todas as as dívidas e ainda sobrar um pouco. Não me lembro de quanto tempo o salão adventista permaneceu aberto. Mas, não prosperou e fechou.

Se aquela mulher foi àquela sinagoga outras vezes, nunca alguém percebeu que o diabo era o causador da sua enfermidade. Nem tiveram qualquer compaixão por ela. Então, depois de dizer o que pensava, o chefe da sinagoga ouviu de Jesus o que não queria: Hipócritas, cada um de vós não abre a porta do curral o seu boi ou o seu jumento para levá-lo a beber? Por que motivo não se deveria também livrar esta filha de Abraão a quem Satanás trazia presa há 18 anos?

Foi uma resposta tão constrangedora que ninguém ousou responder mais nada! Isso mostra quão destrutivos podem ser uma religião e um lider religioso desviado dos caminhos de Deus. São como uma laranja de gomos secos. Uma bela aparência por fora e um conteúdo seco.

A mulher encurvada recebeu sua cura porque no dia da sua bênção não ficou em casa. Nesses dias de tanto desânimo é muito comum ficar em casa. E fica-se em casa, hoje, porque a liturgia do culto será a mesma daqui a dez anos. Um desânimo alimentando o outro. E também era assim naquele tempo. Mas a fama dos milagres de Cristo foi atraíndo multidões por onde ele passava. E no dia que Cristo passou a mulher encurvada pensou que deveria valer o sacrifício de se aprontar e visitar a sinagoga.

Ela saíu de casa encurvada, mas voltou ereta; saíu triste, e voltou glorificando a Deus. Todos seus vizinhos devem ter se alegrado e chorado com ela.

O Reino de Deus, Cristo comparou como um pequeno grão de mostarda, que um hortelão semeia na sua horta. Ele brota, depois cresce tanto, e em seus ramos aninham-se os pássaros.

Aquela mulher quando saiu para a sinagoga levou consigo o seu grão de mostarda. Continue carregando também o seu, pois mas cedo do que pensa ele também vai brotar.


Com carinho,

Irmão João.





terça-feira, novembro 25, 2025

O Reino de Deus na Bíblia

 Grãos de mostarda

Salvadora persica

 João Cruzué

O Reino dos Deus é o grande tema que atravessa todo o Novo Testamento como um fio de ouro. Tudo começa com João Batista clamando no deserto: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus!” (Mt 3:2). Logo em seguida, o próprio Jesus inicia seu ministério com as mesmas palavras (Mt 4:17). Esse Reino não é, em primeiro lugar, um lugar no mapa, mas o governo ativo, vivo e poderoso de Deus invadindo a história humana. É Deus dizendo: “Chegou a hora de eu reinar de forma nova e definitiva no meio do meu povo e, através dele, sobre toda a criação”.

Jesus deixa claro que o Reino já chegou até nós na sua própria pessoa. Quando os fariseus o acusam de expulsar demônios por Belzebu, ele responde: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então é porque o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12:28). As curas, os milagres, o perdão dos pecados, a ressurreição de mortos — tudo isso são sinais concretos, visíveis e palpáveis de que o poder do mundo futuro já está operando no presente. O Reino irrompeu como uma explosão de vida no meio de um mundo de morte.

Ao mesmo tempo, Jesus ensina que o Reino ainda não chegou em sua forma final e gloriosa. Por isso ele manda os discípulos orarem todos os dias: “Venha o teu reino” (Mt 6:10). Ele fala de um dia futuro em que os justos “brilharão como o sol no reino de seu Pai” (Mt 13:43) e em que o Filho do Homem voltará em glória para julgar as nações (Mt 25:31-46). Estamos vivendo, portanto, no “já” do Reino (ele já começou) e no “ainda não” (ainda aguardamos sua consumação). Essa tensão define a vida cristã: já somos cidadãos do Reino, mas ainda suspiramos pela sua manifestação total.

Uma das características mais chocantes do Reino é quem entra nele. Jesus diz que só entra quem se torna como uma criança: simples, dependente, sem pretensão de merecimento (Mc 10:14-15; Mt 18:3). Os ricos, os poderosos, os que confiam em si mesmos acham quase impossível passar pela “porta estreita”. Já os pobres de espírito, os pecadores que reconhecem sua miséria, as prostitutas e os cobradores de impostos arrependidos estão entrando à frente dos religiosos profissionais (Mt 21:31). O Reino subverte os valores do mundo.

Entrar e permanecer no Reino exige duas coisas inseparáveis: arrependimento verdadeiro e fé em Jesus como o Rei enviado por Deus. Não adianta ser descendente de Abraão ou cumprir rituais externos. É preciso nascer de novo, nascer “da água e do Espírito” (Jo 3:3-5). Quem entra vive uma vida transformada: ama a Deus sobre todas as coisas e ama o próximo como a si mesmo. Jesus resume toda a Lei nesses dois mandamentos e diz que deles “dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:37-40). Obediência amorosa é a marca do cidadão do Reino.

Jesus usa dezenas de parábolas para explicar como o Reino funciona. Ele é como a minúscula semente de mostarda que se torna uma grande árvore (Mt 13:31-32), como fermento que leveda silenciosamente toda a massa (Mt 13:33), como um tesouro escondido no campo ou uma pérola de valor incalculável — quem o encontra vende tudo com alegria para possuí-lo (Mt 13:44-46). É também como um banquete de casamento para o qual os convidados originais (Israel incrédulo) recusaram vir, então as portas são abertas para todos os povos, bons e maus, mas quem entrar sem a “roupa de festa” (justiça de Cristo) será expulso (Mt 22:1-14).

O crescimento do Reino é, muitas vezes, invisível aos olhos do mundo. Começa pequeno, quase imperceptível — doze pescadores galileus, uma cruz romana, um túmulo vazio —, mas avança irresistivelmente. Jesus compara isso à semente que cresce sozinha, “primeiro a erva, depois a espiga, por fim o grão cheio na espiga” (Mc 4:26-29). Um dia, porém, esse grão se tornará a maior de todas as árvores. Quando Cristo voltar, ele entregará o Reino ao Pai, após ter destruído todo domínio, autoridade e poder, inclusive a própria morte (1Co 15:24-28).

A ética do Reino é revolucionária e muitas vezes escandalosa. Bem-aventurados os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os perseguidos (Mt 5:3-12). Os cidadãos do Reino amam os inimigos, abençoam quem os amaldiçoa, oram por quem os persegue, perdoam setenta vezes sete vezes, não julgam para não serem julgados, andam a segunda milha, dão a capa além da túnica. Essa vida só é possível porque o Rei já viveu tudo isso perfeitamente por nós e nos dá seu Espírito para vivermos o mesmo.

Não existe entrada no Reino sem cruz. Jesus foi coroado Rei exatamente quando foi levantado na cruz (Jo 12:32). Ele diz com todas as letras: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me” (Lc 9:23). Sofrimento, rejeição, humilhação fazem parte do pacote. O caminho da glória passa necessariamente pelo Calvário. Quem quiser reinar com ele precisa primeiro sofrer com ele (2Tm 2:12; Rm 8:17).

No final de tudo, o Reino será plenamente revelado em glória indizível. Haverá novos céus e nova terra, a Cidade Santa descerá como noiva adornada para seu marido, Deus habitará com os homens, enxugará toda lágrima, e não haverá mais morte, nem luto, nem choro, nem dor (Ap 21:1-4). Os redimidos de todas as tribos, línguas, povos e nações estarão diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e palmas nas mãos, e reinarão para todo o sempre (Ap 7:9-17; 22:5). O Reino dos Céus terá se tornado o Reino eterno de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos (Ap 11:15).

Esse é o magnífico retrato que o Novo Testamento pinta do Reino: já iniciado, crescendo escondido, avançando pela pregação do evangelho e pelo poder do Espírito, mas que explodirá em glória total quando o Rei voltar para fazer novas todas as coisas.


SP-25/11/2025.

 


domingo, novembro 23, 2025

Critica Cristã ao Humanismo Secular

 

Sol da Justiça

João Cruzué

O humanismo secular, em sua essência, estabelece o ser humano como centro absoluto da realidade e fundamento último da verdade, da moral e do sentido da vida. Ao rejeitar qualquer referência ao transcendente e reduzir a dignidade humana a um projeto exclusivamente racional e autossuficiente, essa corrente filosófica propõe uma visão antropocêntrica radical: o homem como medida de todas as coisas, independente de Deus e autor único de seus próprios valores. 

Embora apresente contribuições relevantes — como a defesa dos direitos civis, da liberdade e da valorização da ciência —, o humanismo secular incorre em profundas contradições quando pretende afirmar uma ética universal sem reconhecer um fundamento absoluto que lhe dê consistência.

Do ponto de vista cristão, a dignidade humana e os valores éticos não podem ser sustentados solidamente quando desvinculados de sua origem transcendente. Se o ser humano é apenas um produto do acaso biológico e cultural, e se não existe verdade objetiva nem propósito absoluto, então qualquer discurso sobre dignidade, justiça ou solidariedade torna-se frágil e relativo. A história demonstra que, quando a autonomia humana é elevada ao nível de princípio supremo, o resultado não é emancipação, mas frequentemente opressão: regimes totalitários do século XX, sustentados por discursos pseudocientíficos e racionalistas, provaram como o ser humano sem referência moral transcendente torna-se capaz de atrocidades legitimadas pela própria razão orgulhosa.

O humanismo secular proclama liberdade, mas muitas vezes a reduz à capacidade de cada indivíduo estabelecer seus próprios critérios sem responsabilidade diante de um Criador. 

Nessa lógica, não há fundamento sólido para condenar injustiças objetivas: se cada consciência é a única autoridade sobre si mesma, qualquer padrão moral comum torna-se arbitrário. Por isso, o secularismo frequentemente oscila entre relativismo moral e autoritarismo ético — pois, quando não há verdade objetiva, os mais fortes acabam impondo seus interesses sob o discurso de progresso ou racionalidade.

A perspectiva cristã, ao contrário, afirma que a verdadeira dignidade humana está enraizada no fato de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (imago Dei) e que sua liberdade só encontra plenitude quando orientada à verdade e ao bem. O Evangelho afirma que não somos autossuficientes, mas dependentes da graça e do amor divino, e que a autonomia absoluta não liberta — ela escraviza ao orgulho, ao egoísmo e à ilusão de autodomínio. 

Cristo ensina que a grandeza humana se manifesta no serviço e no amor sacrificial, e não na exaltação soberba de si mesmo.

O humanismo secular prega esperança baseada no progresso humano, mas ignora a realidade profunda do pecado e da inclinação egoísta que perpassa todas as estruturas sociais. Sem reconhecimento da queda e da necessidade de redenção, sua confiança irrestrita no homem torna-se ingenuidade teórica e imprudência prática. A história contemporânea — marcada por guerras, desigualdades extremas, exploração e cultura de descarte — evidencia que o progresso técnico não produz necessariamente progresso moral. 

Como dizia C. S. Lewis, "não adianta acelerar o trem se ele está indo na direção errada."

A crítica cristã afirma que o humanismo secular, ao tentar exaltar o homem sem Deus, acaba por reduzi-lo. Um humanismo realmente pleno só pode existir quando reconhece que a dignidade humana é dom e não conquista, e que o bem comum não se constrói apenas com ciência e poder, mas com amor, verdade, justiça e humildade diante do Criador. 

Portanto, uma sociedade verdadeiramente humana não é aquela onde o homem ocupa o trono, mas aquela onde Cristo ocupa o centro — pois somente quando Deus é Deus, o homem pode ser verdadeiramente homem.


SP- 23/11/2025.



Capítulo 18 do Livro de Jó - Bildad o Promotor e a Doutrina da Retribuição Imediata

 

Bildade - o Promotor

João Cruzué

O capítulo 18 do Livro de Jó é como uma verdadeira peça de acusação dentro de um grande processo literário. Bildad, "amigo" de Jó, levanta-se para o seu segundo discurso e tenta demonstrar, que todo sofrimento visível é prova irrefutável de culpa oculta. Ele parte da doutrina clássica da retribuição imediata – o princípio segundo o qual o justo sempre prospera e o ímpio é castigado ainda nesta vida –, tão presente no Deuteronômio e na sabedoria tradicional de Israel.

Para sustentar a tese, Bildad apresenta uma lista impressionante de dezessete imagens de castigo: a luz que se apaga, o laço que prende os pés, a fome que espera ao lado, a doença que devora a pele, o enxofre lançado sobre a tenda, a descendência cortada. Cada imagem corresponde a uma pena conhecida no antigo Oriente Próximo e na própria Torá: perda de bens, banimento, extinção da família (o temido karet) e morte sem sepultura digna. É uma argumentação que procura ser exaustiva e sem brechas.

Do ponto de vista técnico, o discurso é perfeito dentro da lógica retributiva: se o castigo chegou, é porque a culpa existiu antes. Não há espaço para inocente sofredor. Bildad age como um promotor que dispensa testemunhas e provas adicionais, pois, para ele, o próprio sofrimento já é a sentença executada. Quem cai na rede, diz ele, foi porque seus próprios planos o prenderam – uma ideia que lembra a responsabilidade objetiva pura.

Ocorre que o leitor do livro inteiro já conhece o prólogo (capítulos 1 e 2), onde vemos que o sofrimento de Jó foi autorizado num conselho celestial, sem qualquer culpa pessoal prévia. Portanto, o que Bildad considera prova cabal de delito é, na verdade, uma prova permitida por Deus para testar a fidelidade do justo. A tese da retribuição automática entra em colapso diante de um caso concreto de sofrimento inocente.

Ao longo do livro, especialmente nos discursos de Eliú e na teofania final, fica evidente que a realidade é bem mais complexa do que a fórmula “sofreu = pecou”. O próprio Deus, ao falar do redemoinho (capítulos 38–41), não explica o sofrimento, mas mostra que a justiça divina transcende os cálculos humanos simples. A sabedoria não está em aplicar a régua da retribuição, mas em confiar mesmo sem compreender tudo.

No epílogo do Livro  (42.7–9), Deus pronuncia a sentença definitiva: declara que Jó falou o que era reto a Seu respeito e que os amigos, inclusive Bildad, não o fizeram. Os três são obrigados a trazer oferta e pedir que Jó interceda por eles. Assim, o capítulo 18, tão bem construído do ponto de vista da antiga teologia da retribuição, acaba servindo como prova do equívoco dessa visão quando aplicada de forma rígida e sem misericórdia. O que parecia uma acusação irrebatível torna-se, no final, um testemunho da limitação humana diante do mistério da justiça divina.

SP-23/11/2025.






Jó Apresenta sua Defesa Jurídica no Captulo 13

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Jó e seus amigos.

João Cruzué

O capítulo 13 do Livro de Jó representa um dos textos mais relevantes da literatura jurídica universal, constituindo verdadeiro manifesto sobre o direito de defesa e o devido processo legal. Jó, após refutar os argumentos de seus interlocutores nos capítulos anteriores, estabelece neste momento sua pretensão de apresentar formalmente sua causa diretamente perante Deus, dispensando intermediários que considera corruptos e incompetentes. A estrutura argumentativa do capítulo revela profundo conhecimento de princípios processuais que seriam formalizados milênios depois nos sistemas jurídicos modernos. Três elementos centrais emergem do texto: a reivindicação do acesso direto à justiça, a denúncia da má-fé dos acusadores, e a exigência de fundamentação específica das acusações.

O primeiro princípio jurídico fundamental articulado por Jó encontra-se no versículo 3: "Mas eu falarei ao Todo-Poderoso e desejo defender-me perante Deus". Esta declaração estabelece o direito inalienável à autodefesa (ius defensionis), reconhecido posteriormente em todos os sistemas jurídicos civilizados. O texto expressa não apenas o desejo de ser ouvido, mas a necessidade de apresentar razões diretamente ao julgador, sem intermediação de terceiros interessados. Este princípio corresponde ao audiatur et altera pars do direito romano e ao direito ao contraditório consagrado no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal brasileira. A formulação de Jó antecipa em cerca de três milênios a construção teórica do devido processo legal substantivo e procedimental.

Nos versículos 4 a 7, Jó articula denúncia gravíssima contra seus interlocutores, acusando-os de serem "inventores de mentiras" e "médicos que de nada valem", chegando ao ponto de questioná-los: "Falareis perversamente por Deus e por ele falareis enganosamente?". Esta passagem estabelece princípio revolucionário: a vedação ao falso testemunho é absoluta, não admitindo exceções mesmo quando o beneficiário seja Deus. O texto afirma que nenhuma lealdade partidária, religiosa ou institucional justifica a corrupção da verdade processual. Este posicionamento antecipa a vedação ao falso testemunho (Êxodo 20:16, Código Penal brasileiro, art. 342) e fundamenta a exigência contemporânea de imparcialidade dos órgãos acusadores.

O versículo 15 contém uma das declarações mais poderosas sobre presunção de inocência já formuladas: "Ainda que ele me mate, nele esperarei; contudo, os meus caminhos defenderei diante dele". Jó assume o risco existencial extremo, mas não abdica do direito de defesa nem da afirmação de sua inocência. Esta passagem estabelece que a presunção de inocência não é concessão da autoridade, mas direito natural oponível até mesmo contra Deus. O texto transfere claramente o ônus da prova ao acusador, princípio expresso no brocardo latino ei incumbit probatio qui dicit, non qui negat e consagrado no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal.

No versículo 22, Jó estrutura proposta revolucionária de contraditório bilateral: "Chama, e eu responderei; ou falarei eu, e tu me responderás". O texto não apenas reivindica ser ouvido, mas estabelece procedimento dialético com alternância de manifestações, garantindo paridade de armas entre acusação e defesa. Esta formulação antecipa o sistema acusatório moderno, no qual as partes têm igual oportunidade de manifestação perante o julgador imparcial. O modelo proposto por Jó corresponde ao contraditório dinâmico e efetivo exigido pela jurisprudência contemporânea do Supremo Tribunal Federal e da Corte Europeia de Direitos Humanos.

A exigência de fundamentação específica das acusações aparece no versículo 23: "Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado". Jó não aceita acusação genérica ou imotivada, demandando especificação precisa dos fatos imputados. Este princípio corresponde à exigência de motivação das decisões judiciais (CF/88, art. 93, IX) e à especificidade da acusação criminal (CPP, art. 41). A doutrina processual contemporânea reconhece que acusações genéricas violam o direito de defesa, impedindo a formulação de estratégia defensiva adequada. O texto de Jó estabelece que o direito fundamental não é apenas ser acusado, mas conhecer precisamente do que se é acusado.

Por fim, nos versículos 24 a 25, Jó questiona a proporcionalidade da persecução: "Por que escondes o teu rosto e me tens por teu inimigo? Acaso perseguirás uma folha arrebatada? Perseguirás restolho seco?". A metáfora da folha seca perseguida por poder infinito estabelece o princípio da proporcionalidade entre gravidade da falta e intensidade da punição. Este questionamento antecipa a teoria alemã da proibição do excesso (Übermassverbot) e o princípio constitucional da razoabilidade. Jó 13 oferece, portanto, fundamentos atemporais para um sistema de justiça que equilibre efetividade punitiva com proteção da dignidade humana, princípios que permanecem centrais em todos os ordenamentos jurídicos contemporâneos.


SP-23/11/2025.





Salmo 3 - A Batalha de Oração de Davi

 

Morte de Absalão - Quadro de Corrado Giaquinto

João Cruzué

Salmo 3 surge como testemunho vigoroso de fé pronunciado no ápice de crise existencial e política. Davi, fugindo de   (אַבְשָׁל - Avshalom), seu próprio filho, experimenta a ruptura de tudo aquilo que sustentava sua identidade real. A aflição é profunda e : militar, familiar e espiritual. Seus numerosos adversários agora (רַבִּים – rabbim) o cercam e declaram com crueldade teológica: “אֵין יְשׁוּעָה לוֹ בֵּאלֹהִים – Ein yeshuah lo b’Elohim”:  “Não há salvação para ele em Deus.” O salmo inicia-se como lamento autêntico, expondo a alma ferida diante do Altíssimo.

No ponto de inflexão, Davi recusa ser interpretado pela aparência do desastre e redireciona sua visão à realidade superior do pacto. A declaração central rompe a escuridão: “וְאַתָּה יְהוָה מָגֵן בַּעֲדִי – Ve’attah Adonai magén ba’adí”:  “Porém Tu, Senhor, és um escudo ao redor de mim.” O termo מָגֵן – magén indica escudo arredondado, proteção integral de 360°. Ele afirma ainda: “כְּבוֹדִי וּמֵרִים רֹאשִׁי – minha glória e o que exalta a minha cabeça”. Assim, a honra (כָּבוֹד – kavôd) e a dignidade restauradas não provêm da política, mas da presença do Deus de Israel.

Segue então o glorioso paradoxo da confiança: enquanto cercado, Davi declara: “אֲנִי שָׁכַבְתִּי וָאִישָׁנָה – Ani shachavti va’ishanah”: “Eu me deitei e dormi.” O repouso não é fisiológico, mas teológico: שָׁעַן – sha’an, “sustentar”, implica apoio estrutural. Ele desperta e reconhece: “כִּי יְהוָה יִסְמְכֵנִי – Ki Adonai yismekhêni”“Pois o Senhor me sustenta.” O medo transforma-se em coragem absoluta: mesmo diante de “רִבְבוֹת – rivvavot” (dezenas de milhares) de adversários, ele declara não temer, pois sua segurança não está nos exércitos, mas em יְהוָה – YHWH.

O clamor final explode em linguagem litúrgica de guerra: “קוּמָה יְהוָה – Kumah Adonai”“Levanta-Te, Senhor!”. O pedido para “ferir seus inimigos na face” e “quebrar os dentes dos ímpios” (“שִׁבַּרְתָּ שִׁנֵּי רְשָׁעִים – shibbarta shinei resha’im”) utiliza metáfora jurídica, retirando dos adversários o poder destrutivo. Aqui Deus é o Guerreiro Santo (אֵל גִּבּוֹר – El Gibbôr), que intervém e restabelece justiça.

O clímax teológico encerra o salmo com uma das frases mais densas das Escrituras: “לַיהוָה הַיְשׁוּעָה – La’Adonai haYeshuah”“Do Senhor vem a salvação.” O termo יְשׁוּעָה – yeshuah aponta para libertação divina completa e soberana. A bênção final se expande para além do indivíduo: “עַל עַמֶּךָ בִּרְכָתֶךָ – Al ammekha birchatecha”“Sobre o Teu povo seja a Tua bênção.” 

Assim, o Salmo 3 revela que crises pessoais transformadas em fé irradiam graça coletiva. Nenhuma noite é longa demais quando Deus é o מָגֵן – escudo, nenhum inimigo é grande demais quando יְהוָה é a fonte da יְשׁוּעָה, e nenhum sofrimento é inútil quando conduz à bênção sobre o povo de Deus.


SP- 23/11/2025.


sexta-feira, novembro 21, 2025

As Imagens que João viu no Apocalipse

 

João viu a Eterna Cidade

João Cruzué

João, o apóstolo amado, recebeu uma revelação sublime enquanto se encontrava exilado na solitária ilha de Patmos, para escrever o Livro do Apocalipse. Ali, arrebatado em espírito, contemplou inicialmente a figura majestosa de Cristo ressuscitado, não mais velado pela fragilidade humana, mas resplandecendo em plena glória divina. Seus olhos cintilavam como labaredas ardentes, sua voz ressoava como o estrondo de muitas águas, e o esplendor de seu rosto irradiava como a luz do sol em seu auge. Essa visão inaugural estabeleceu o fundamento do livro: a história humana não é um curso aleatório, mas está submetida à soberania absoluta do Cordeiro, Senhor da Igreja.

Conduzido às alturas celestes, João contemplou o trono de Deus, circundado por anjos e pelos vinte e quatro anciãos que, em reverência incessante, lançavam suas coroas diante daquele que vive pelos séculos dos séculos. Entre cânticos de adoração e reverência indescritível, João viu o Cordeiro aproximar-se para tomar o livro selado, símbolo do plano perfeito de Deus para o destino de todas as coisas. Somente Ele era digno de rompê-lo, e à medida que os selos eram abertos, o curso divino da história começava a revelar-se diante dos olhos do profeta.

João contemplou a sucessão dos juízos representados pelos sete selos, pelas sete trombetas e pelas sete taças da ira divina. Eram sinais de convulsões cósmicas, guerras, fome, pestes e terremotos que abalariam a terra, expressando a justiça de Deus contra a rebelião humana. Contudo, em meio à dor e ao estremecimento do mundo, João vislumbrou uma multidão incontável, redimida pelo sangue do Cordeiro, proveniente de todos os povos e línguas, em perfeita adoração diante do trono — testemunho de que a misericórdia de Deus permanece e alcança aqueles que nele confiam.

O apóstolo também viu revelado o drama espiritual que permeia a realidade humana: a mulher vestida de sol, símbolo do povo de Deus, perseguida pelo grande dragão vermelho, figura de Satanás, o adversário eterno. Observou a ascensão da besta que emerge do mar e da besta que sobe da terra, ambas expressões terríveis do poder anticristão que domina os homens e impõe a marca da besta — sinal de submissão a um sistema mundano que se opõe a Deus. O mal alcança força e aparente triunfo, mas sua derrota é inevitável e já decretada.

João viu o juízo da grande Babilônia, imagem do sistema global corrompido por idolatria, violência e arrogância espiritual. Assistiu à sua queda repentina, celebrada com cânticos de triunfo no céu, anunciando o fim da soberba humana e o início da vitória plena do Cordeiro. Em seguida, contemplou Cristo regressando em majestade, montado em um cavalo branco, coroado com múltiplas diademas e denominado Verbo de Deus, vencendo o Anticristo e o falso profeta, lançados vivos no lago de fogo.

Na continuidade da visão, João viu Satanás ser aprisionado por mil anos e Cristo reinar com os santos em um tempo de justiça e paz. Mas ao fim deste período, o inimigo seria solto por um breve instante, reunindo nações para uma última rebelião, imediatamente esmagada pela palavra do Senhor. 

Então João viu o grande Trono Branco, diante do qual toda a humanidade ressuscitada comparece e é julgada segundo suas obras; e quem não foi encontrado inscrito no Livro da Vida foi lançado ao lago de fogo, consumando o juízo final.

Diante de seus olhos maravilhados, surgiu um novo céu e uma nova terra, purificados de toda corrupção e sofrimento. 

Por fim, João viu a Nova Jerusalém descendo da presença de Deus como uma noiva adornada para seu esposo. E ouviu a promessa suprema: “Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens.” Lá, não haverá mais pranto, dor, morte ou escuridão; ali fluem o rio da água da vida e a árvore da vida, oferecendo cura e alegria perpétua. Assim termina a visão sublime do Apocalipse: não com temor, mas com esperança eterna, proclamando a vitória definitiva de Cristo e convidando os fiéis à perseverança até o glorioso dia em que Ele virá.


SP-21/11/2025.