sábado, janeiro 02, 2021

A Igreja Evangélica e a Representação Política de Pastores

 

Profeta Isaías

Por João Cruzué 

Os acontecimentos do segundo semestre de 2020 jogaram uma pá de cal na corrente de pensamento, supostamente evangélica, de escalar pastores destacados, consagrados, para candidatura a cargos de representação política sob o pretexto de apologia dos princípios cristãos e "defesa" da Igreja.

Quando o Rei Salomão, no início da sua vida pública, orou e pediu a Deus sabedoria para entrar e sair diante do povo, Deus se alegrou com a petição e lhe concedeu sabedoria e riquezas. Por outro lado, Adonias seu meio irmão, julgando que as circunstâncias eram favoráveis, atropelou a vontade de Deus  e trilhou um caminho que terminou em morte. 

Ora, temos visto centenas, por que não dizer: milhares de pastores separados para a obra do Senhor dando ouvidos a argumentos de profetas velhos (ou à própria vaidade) ao buscar o caminho de Brasília ou de qualquer Casa Legislativa, trocando o sagrado pelo secular.

Os dois mais recentes exemplos do resultado dessa loucura é público e vexatório. Estamos falando das prisões do Pastor Everaldo e do Bispo Marcelo Crivela. Além deles, há dezenas de outros que vêm tropeçando desde 1993, tempos do escândalo dos "Anões do Orçamento". 

Se antes ainda restava alguma dúvida quanto a escrever sobre este assunto neste blor, hoje, tenho certeza do que vou dizer.

Não pense algum homem consagrado por Deus para a obra do Ministério de Cristo, seja ele Presbítero,  Evangelista, Pastor ou Bispo que, ao decidir aceitar formalmente uma candidatura a cargo de representação política ele ainda seja aceito por Deus como Obreiro da Igreja de Cristo - pois não será.  Sua situação é a mesma de Sansão quando perdeu os cabelos.  Se Sansão perdeu a força, o Obreiro perdeu a Graça e o Ministério.

Estas palavras são duras, pois revelam a realidade da nudez espiritual. Quem defende a Igreja é Cristo. Se Ele quiser pode usar pedras e jumentos para zelar da sua Igreja. Os apressadinhos como Saul e Adonias são dois bons exemplos bíblicos para não serem seguidos.

Por que chegamos a esse ponto? Vaidade e comichão nos ouvidos. 

Mas a Igreja deve abandonar a política? De jeito nenhum. O exercício da política deve ser praticado cada dia mais para levar melhorias e progresso a todos os seguimentos da sociedade. O orçamento da União para 2020 foi de 3,6 trilhoes de reais. Somando todos orçamentos do Estados, Município se União, a cifra pode chegar perto de 5 trilhões. É através do exercício da política que estes recursos chegam até onde precisam chegar. O Pastor Martin Luther King Jr é um bom exemplo disso. Ele atuava politicamente em favor do segmento da sociedade do qual fazia parte. Veja neste blog a tradução de um dos sermões mais contundente dele, entitulado "Além do Vietnã"

Um Pastor manuseando a Bíblia nos ouvidos da sociedade é mais perigoso que a pressão de 1.000 corruptos.

Agora,  é preciso dar um basta nesta mentira de achar que, ao decidir pelo caminho da representação política, um homem chamado por Deus para a obra do Ministério continua debaixo da Graça do Senhor Jesus  Cristo. Não continua não! Perante os homens e a Igreja ele pode até não ter feito carta de renúncia formal do cargo, mas diante de Deus "ja era"!

Não é por acaso que apesar de tantos "Pastores" no Congresso tantas leis anti-cristãs têm passado e continuarão passando. Eu sempre bati este bordão: ganhem o Brasil para Cristo que a representação política estará em boas mãos. Todavia, temos visto o carro na frente dos bois: "Vamos para Brasília, pois só com nossos representantes vamos barrar a corrupção e a Igreja vai ter quem a defenda" Será? A Igreja está correndo sério risco de ter que celebrar casamentos gays em seus altares - como já acontece tanto na Suécia quanto no Canadá. Mas como? Medo da perda de imunidade tributária po!denúncia de discriminação de gênero. Isso está acontecendo lá, porque o amor ao dinheiro é maior que o amor a Jesus.

Os membros da Igreja Evangélica devem ser instruídos em toda palavra de Deus, para benefício da sociedade, atuando na representação política,  na medicina, na economia, no direito e em toda ciência, mirando no exemplo do povo judeu.

Homens separados para Ministério têm  um compromisso de vida com o Senhor da Igreja. Representação política por meio do sacrifício de pastores é dar um tiro no próprio pé. A Igreja não precisa de Deputados, Senadores, Governadores nem Prefeitos. Ela precisa de mulheres, homens, jovens e crianças que andem na presença do Senhor.













domingo, novembro 22, 2020

Um profeta sentado à sombra do carvalho

 

Sombra do carvalho

Autor: João Cruzué

Este post destoa do pensamento geral de grandes lideranças evangélicas, interessadíssimas em cargos de representação da política secular, tendo como justificativa a defesa da causa da Igreja de Cristo. Ele foi escrito em 2015, mas, em novembro de 2020, notei que este interesse continua muito forte e  fazendo vítimas. 

Há dois tipos de exercício da política: A representação e ação política. Para mim, a atuação política de um pastor diante de seu rebanho é muito mais valiosa, que a sua representação solitária em uma Casa Legislativa. Trocar as funções ministeriais por uma representação política é tão perigoso quanto dirigir à noite com os faróis queimados. Se o pastor crê que recebeu uma chamada de Deus para exercer o ministério pastoral, não deve se meter com cargos de representação política. A chamada e a unção de Deus não é dada para qualquer um, pois é rara. Paulo aconselhou Timóteo a guardar o depósito que havia recebido de Deus.

De uns 30 anos para cá,  muitos Pastores separados por Deus (ou pelo menos parece que foram)  estão trocando  a busca pelas almas perdidas pela busca de Brasília. E nesta troca, têm encontrado a morte espiritual e arruinado suas famílias.

Um Pastor com chamada de Deus que se mete a candidatura política é semelhante ao profeta novo que apareceu em Betel, no capítulo 13 Primeiro Livro de Reis,  para anunciar o nascimento do Rei Josias na Casa de Davi, diante do Rei Jeroboão, profetizando contra o altar. 

Era cheio da unção do Espírito de Deus.

E ao estender o Rei Jeroboão  a mão contra o profeta, ela secou-se imediatamente. Humilhado, Jeroboão pediu oração, o profeta orou e a mão do Rei foi curada. 

E disse Rei Jeroboão ao profeta novo: Vem comigo a minha casa e conforta-te e dar-te-ei um presente. Porém o profeta novo disse: Ainda que me desses a metade da tua casa, não iria contigo, nem comeria pão, nem beberia água neste lugar, porque assim me ordenou o Senhor: Não comerás pão, nem beberás água, nem voltareis pelo caminho por onde foste. E o profeta se foi, voltando por outro caminho.

E morava em Betel um profeta velho. E o profeta velho, era muito experiente e astuto com as palavras. Mandou albardar um jumento e foi à procura do varão de Deus, encontrando-o sentado à sombra de um carvalho, perguntou:

--És tu o homem de Deus que veio der Judá?

--Eu sou.

--Então vem comigo à minha casa e come pão.

-- Não Posso. O Senhor me disse que não.

-- Ah! também sou profeta como tu, e um anjo me falou pela palavra do Senhor dizendo: "Faze-o voltar contigo para tua casa, para que coma pão e beba água." Mentindo.

E sucedeu que depois que comeu pão e bebeu água, o homem de Deus (o profeta novo), se foi  montado em seu jumento. E um leão o encontrou pelo caminho e o matou. E tanto o jumento quanto o leão estavam junto ao cadáver, quando foi encontrado.

Como contextualiza bem este momento político com o trágico acontecimento do passado. Ele traz um alerta aos homens de Deus que hoje vão em busca da sombra do carvalho. 

À sombra da tentação e da morte. 

Orgulhoso das conquistas que já fez à frente do ministério, agora se assenta à sombra do carvalho, que é muito parecida com o terraço do palácio onde Davi estava, já cheio de tantas vitórias, no dia da tentação.

É à sombra deste carvalho que muitos pastores, evangelistas e bispos, homens de Deus têm sido tentados. Ali naquela penumbra, fora do alcance do sol, muitos têm ouvido doces convites de velhos profetas tem sido feitos. 

--Olha eu também sou pastor, bispo, homem de Deus como você, seu lugar agora não é no deserto, você precisa ir para Brasília - para defender o "Povo, a família", a Igreja Evangélica... volta, e vem comer pão e beber a água do Planalto!

E dali, tem surgido muitos escândalos, contradições, fisiologismo, de homens que antes andavam calçados com os sapatos do evangelho, e os trocaram pelos "jumentos" do secularismo. Há muitas Igrejas de luto, olhando o que restou dos homens que antes cuidavam do rebanho do Senhor: cadáveres espirituais cercados de leões e jumentos.

O mais recente caso: Pastor E.

A representação política está ao alcance de todos cidadãos deste país. Mas não para o homem que tem uma chamada real de Deus para servir no ministério pastoral. Se voltar atrás, a alma do Senhor não terá mais prazer nele. 

É sempre bom lembrar disso.




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