domingo, abril 29, 2018

Lançando o Pão sobre as Águas



João Cruzué

Não posso esquecer a emoção que senti quando ouvi a voz silenciosa do Espírito Santo falando em mim. Eu acabara de receber uma carta de um preso e ainda estava com ela nas mãos. Vou contar de novo este fato, pois faz ele parte das boas coisas que aconteceram comigo durante um longo período de tribulações financeiras.

De 1994 a agosto de 2000 eu cuidei de uma congregação. Por motivos pessoais licenciei-me da Igreja para atender um compromisso familiar. Seis meses depois de volta a São Paulo comecei a passar uma temporada de solidão ministerial. Entendo que estava "atravessando" de barco o "Mar da Galiléia". Eu tinha tudo para naufragar,mas Jesus a tudo observava.

Um dia, olhei no portão de casa para ver se chegara mais uma conta. Lá estava um envelope cor de rosa, estranho. Remetente? Um presidiário da P1 de Avaré. Destinatário? Curiosamente, tinha os mesmos dados de um velho carimbo de literatura. A surpresa: seis anos foram o longo tempo que se passou para que uma semente Evangelho S. João levasse para brotar desde a semeadura até aquele envelope no portão.

Ao ler a carta e conhecer os dados do carimbo eu percebera que Deus estava falando comigo. Ao compreender que aquela carta era o brotar da primeira semente de uma semeadura de seis anos, um tempo muito longo de onde nada havia brotado, chorei, e alegrei-me no espírito.

O Espírito Santo martelava no meu coração as palavras de Eclesiastes 11:1: : Lança o teu pão sobre às águas, porque depois de muitos dias o acharás; era como se alguém o marcasse com brasas.Na tradução literal: Lança a tua semente sobre as águas...

Este foi o começo de um ministério de dois anos e meio. Mais de meia tonelada de literatura usada recolhida e despachada para 30 penitenciárias diferentes dentro do Estado de São Paulo. Mais de 500 cartas recebidas e 800 enviadas. Desempregado e solitário na Igreja, aquela ocupação caiu do céu para ocupar-me até o início de meus dias de novo emprego.

Se por um lado, foram aproximadamente 11 anos de deserto, principalmente financeiro, foi também o período em que mais busquei a presença do Senhor. Eu era como um grão de areia dentro da ostra em um processo de criação de uma pérola. Ainda não sou a pérola, mas passei por um polimento rigoroso.

Vejo com muita preocupação os dias da Igreja Evangélica brasileira. Todo ano são centenas e centenas de ministérios abertos, de todas as correntes, matizes, ideologias e idiossincrasias. Somos muito divididos e pouco coesos. A julgar pelo Evangelho, "reinos" divididos são reinos enfraquecidos. Enquanto isso mais de uma centena de milhões de brasileiros ainda não tiveram um encontro verdadeiro com Deus. Eles estão famintos, mas não confiam em nós. Com muita justiça, nossa imagem perante eles é de uma avareza e hipocrisia ímpares.

Há um evangelho "água de batata" sendo pregado na terra do café. Ele faz comichão nos ouvidos das pessoas porque elas gostam de ouvi-lo. São palavras lindas de se ouvir: Vitória! Bênção! Ouro e prata! Portas abertas! Carrões, mansões, viagens ao exterior! Ô maravilha!

Um evangelho de palavras! Focado em testunhos de prosperidade de A, B e C. A publicidade está direcionada para homens de sucesso. Isto não passa de castelos construídos na areia e com a areia da praia. Quando o "rei" do castelo cai, o estrago não pode ser medido. Jesus ficou fora do foco e isso é um mau sinal.

Estive lendo "Aurora" de Nitchzsche esta semana. Ele fala uma linguagem muito apreciada pelos não crentes, pelos crentes desviados. Ele estudou teologia numa escola que poucos tiveram e têm o privilégio de estudar. Pais luteranos, estudou Teologia e Filosofia na Universidade de Bonn. Cumpriu literalmente em Nitchzsche este versículo bíblico "A letra mata, mas o Espírito vivifica.

Nitchzsche não teve a oportunidade de um encontro verdadeiro com Jesus. Se teve, com certeza deve tê-la desprezado. Ele deu testemunho do apóstolo Paulo, segundo ele o homem que atirou ao mar boa parte do lastro do judaísmo pelas bordas do navio do cristianismo para conseguir navegar por águas gentílicas. Nitchzsche testemunhou que, se não fora o ímpeto do apóstolo Paulo, já há muito não se falaria do cristianismo. O interessante é que Nitchzsche como teólogo tinha um potente "telescópio" para ver com muito mais acuidade que qualquer outro. Mas ele era completamente cego. Não cria no Espírito Santo. Achava que Paulo foi o motor que impulsionou o cristianismo até os nossos dias. Paulo pode até ter sido o motor, mas não era o combustível, a energia - assunto tão prioritário em nossos dias.

Paulo dizia claramente que não pregava um evangelho de palavras persuasivas de retórica humana. Ele fazia questão de afirmar que pregava um Evangelho de poder, de arrependimento, de sinais e milagres. O Evangelho da diferença, o Evangelho que faz o pecador sentir a presença de Deus. O Evangelho do arrependimento e do compromisso. É por isso que estamos passando por dias ruins, estamos presenciando a busca por um evangelho pragmático.

Estamos presenciando um paradoxo em nosso meio evangélico. Nunca tivemos tanto, mas continuamos famintos. Ministérios, mansões, carross, megatemplos, megaeventos, superpregadores, mas o povo continua faminto da presença de Deus.

É como dizia um pregador: É preciso ter para poder dar! Quem não tem a presença de Cristo na própria vida, não tem nada para semear, a não ser palavras de um falso evangelho, que parece, mas não é!

Por isso não se engane com palavras bonitas, compre as verdadeiras sementes em um processo de aproximação constante do Senhor. Alguém tem que fazer o trabalho duro, este alguém pode ser você. Há uma multidão de famintos em nossa nação, são muito exigentes: eles detestam o pão dos exploradores da fé. Há muita pregação e pouco Evangelho. Muito espetáculo e pouca colheita. Se hoje ouvires a voz do Espírito: semeie, pregue, ensine, louve, reparta, ore - AJA!

cruzue@gmail.com

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sábado, abril 28, 2018

De mãos dadas com Jesus

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João Cruzué

A semana que passou foi a semana das menininhas. Explico: tive minha atenção despertada por várias delas. No sábado quando caminhava observei duas, de uns dois anos, gêmeas. Lindas, tagarelas e brincando na calçada. Domingo, durante o culto, tinha mais uma brincando no banco de trás. Acho que não tinha mais do que dois aninhos. Mas hoje, pela manhã eu quase "babei" ao ver um pingo de gente seguindo para a escola, com uma mochila rosa com desenhos dourados (quase maior que ela) de mãos dadas com seu papai. E não é a primeira vez que escrevo sobre este assunto.

Hoje eu fui mais cedo para o trabalho. Desci do ônibus antes do final para caminhar porque estava com mais desejo de orar do que de costume. Eu ando pensando em fazer uns jejuns para tirar uma dúvida sobre dons de curar. No meio da caminhada, lá vem a menininha da mochila rosa com seu pai. E eu me lembrei dos primeiros anos de casados quando minha esposa e eu adorávamos sair com a Pris, então com um, dois aninhos.

A Pris nasceu linda. Quando fui vê-la no berçário, não estava lá, mas nas mãos das enfermeiras. Elas a achavam muito bonita. Nas compras pelo supermercado, então, nós a colocávamos na cadeirinha do carrinho. E ninguém ficava indiferente, pois era muito sorridente e barulhenta.

Também me lembro de que eu a tomava pela mão e seguíamos para um gramado no prédio em frente, para passearmos na "floresta".

Mas não foi somente para falar de menininhas que estou escrevendo.

Eu não conseguia ver, mas durante o tempo de minhas aflições, pois fiquei desempregado por 11 anos, eu orava, eu chorava, eu batia nas portas fechadas. Naquele tempo eu sentia que Jesus estava bem longe de mim. Eu não conseguia ver Jesus. Como Tomé, eu só acreditaria se Ele me mostrasse suas mãos. Mas o Senhor estava lá.

Voltando ao assunto da caminhada e da oração, também vi outras duas coisas além daquela cena magnífica da menina da mochila rosa segurando a mão do seu papai. Do outro lado da Avenida tinha um prédio velho. Sujo. Com pichações em todos os andares, janelas quebradas e sem porta de entrada. Uma barreira de blocos de concreto foi erguida de forma a fechar a entrada do prédio, para que ninguém entrasse.

E mais adiante também vi uma palmeira areca-bambu com um cacho de muitos coquinhos. E outra, com outro cacho ainda maior. E eu fiquei imaginando e meditando naquelas três cenas.

Sei que muitas pessoas leem este blogs. Leem no anonimato e ninguém fica sabendo. Talvez seja este o seu caso. Saiba que escrevi esta crônica para você. Para você que ao ler a descrição do velho prédio abandonado, disse para si: "Este se parece comigo, estou sozinho/sozinha e nem portas há para que eu saia. Pois bem, você precisa saber uma coisa: quem passou por 11 anos de desemprego também sabe o significado da palavra - lixo.

Toda lágrima que chorei, o Senhor Jesus viu. Toda falta que a minha casa passou o Senhor conhecia. As portas na "cara" e o sumiço dos "amigos" Ele também notou. E enquanto eu pensava e sentia que estava sozinho, Ele nunca deixou de segurar minha mão. Desde o dia em que o aceitei de verdade como dono da minha vida. E a prova disso é, que tempos depois, para cada necessidade que minha família e eu passamos, o Senhor Jesus nos deu tanto que não posso detalhar.

É por merecimento? Não! É porque Ele me adotou como filho desde o dia que o aceitei. Quando você aceita Jesus, de verdade, de coração, você não anda mais sozinho. Os olhos do Senhor nos acompanham. As mãos do Senhor nos amparam, ninguém vê - mas Ele está lá.

Jesus muda o quadro da história. Ele transforma um prédio velho em ruínas em menininha saltitante de mochila com letras douradas. E uma vida miserável que habita na escuridão em uma alguém tão abençoado, que suas bênçãos não se podem contar em um cacho de coquinhos de areca-bambu.

Eu sei que Jesus faz tudo isto, pois é isto que fez na minha vida. O Senhor Jesus é especialista em milagres e Doutor das causas impossíveis

Procure uma Igreja Evangélica mais próxima para ACEITAR OU VOLTAR para Jesus. Dê sua mão para ele segurar. "Entrega teus caminhos ao Senhor, confia nele, e ele tudo fará" (Salmo 37).