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sábado, janeiro 18, 2014

Uma tarde de sábado em Sorocaba


Mangueira da Granja Olga
JOÃO CRUZUÉ

Há uns quatro anos, conheci a cidade de Sorocaba. Saída no km 77 da Rodovia Castelo Branco. Depois vem a Castelinho, um pedágio caro de R$5,00 para rodar só 10 km... enfim, você esquece isto logo quando chega ao agradável destino. Pois, foi isto que aconteceu  hoje de manhã. Fomos, minha família e eu,  passar o fim de semana em Sorocaba. Nossos últimos dias de férias. Ninguém soube, mas eu tive uma tarde cheia de ação e emoções.


Três quilômetros antes da saída da Castelo, tem um Frango Frito e um mini-shopping. Como saímos um pouco tarde de São Paulo, compramos um frango a passarinho, um pão enorme de semolina, mais o Almanaque Abril de 2014... E continuamos a viagem.

Depois do pedágio Castelinho, o aroma do frango às 11 e meia do dia,  me fez ficar quase "doido". Minha filha deu-me uma bronca: Pai, se o senhor quiser comer, vai ter que arranjar um lugar para acostar. Não pode dirigir por aí comendo!

Aí, eu parei. Sem nada no estômago até aquela hora,  peguei um pãozinho integral, coloquei um pedaço de peito de frango frito e, como não tinha refrigerante, foi dois pedaços de polenta frita mesmo. E fomos embora.


Dez minutos depois, chegamos ao nosso destino. Minha outra filha perguntou: pai, para quê este pão enorme? Eu abri a embalagem do frango, peguei um pedaço daquele pão, coloquei dentro outra parte do frango, e mandei ver. Não precisou de palavras para explicar. Ela entendeu bem a mensagem , que entre outras coisas também dizia que não precisava  fazer o almoço. Só um suco, daquela acerola do quintal.

O gato da minha filha sempre rosna para mim. Dessa vez, ele veio todo alegre,  passou a cauda na minha perna, feliz da vida porque estava todo cheiroso. Soube que tinha tomado banho no petshop, com direito a umas arranhadas no moço que  deu banho nele. Talvez estivesse contente por isso. É o primeiro gato siamês bravo que eu conheço, que  não vai com a minha cara.

Eu brinquei com meu genro: O que você acha de fazermos uma sociedade para dar banho em gatos? Eu seguro as gatas para você usar o secador e, quando for os gatos, você segura e eu seco. He he he! Quem tem gatos em casa sabe que as gatas não se importam com o barulho do secador, mas se você encostar  aquele aparelho na barriga de um gato... ele pode ser até mansinho, mas vai ficar "possuído", na hora!

À tarde, meu pessoal foi a um evento na cidade vizinha de Itu. Um sol de rachar. Eu arranjei um monte de desculpa para não ir. Preciso ler um pouco, descansar, dormir, etc. Enquanto lia, acabei dormindo mesmo.

E acordei sozinho em casa.


E acordei sentindo mm cheiro horrível de fumaça.  Fui até a  janela e percebi que um fogão lavrava lá pelos lados da Rodovia Raposo Tavares.O vento assoprava  de Leste para Oeste, levando aquela fumaceira para o Centro da Cidade, e a casa onde eu estava, no meio. Acho que algum motorista destrambelhado deve ter jogado uma ponta de cigarro na beira da rodovia. Mais certo.

Como o dia já tinha ido embora, era umas seis horas da tarde, eu fechei a casa, pus o tênis e fui caminhar na direção onde não havia fumaça. Assim,  fui subindo pela Avenida São Paulo em direção à Granja Olga.

Em Sorocaba, todo mundo sabe que na subida da Granja Olga, tem um  antigo pé de manga, grande, bem na beirada do barranco da avenida. A foto tá aí em cima. Há uns três anos, um senhor de uns 55 anos subiu naquela mangueira para apanhar umas mangas maduras lá em cima.  Naquela época levou a maior bronca da esposa. Onde já se viu! Você podia ter caído. Você, a esta altura,  já deve saber quem era aquele senhor.


Pois não é que hoje, ao passar de novo pelo mesmo pé de manga, tornei a ver  ali outras mangas, ainda mais amarelinhas, daquelas sem uma mancha de bicho sequer. Delícia! Eu, por exemplo, só gosto de manga se for apanhada na hora e diretamente do pé. Ali estavam as duas coisas: o pé e as mangas.

Como estavam muito altas e o tronco é muito grosso, dessa vez  não me arrisquei a subir. Tinha um cabo de vassoura ali embaixo, e eu o atirei em direção das frutas que não caíram e nem o cabo de vassoura! Continuei procurando, até achar ali perto outro pedaço pau.

Achei pequeno caibro de peroba, resto de alguma carroceria.


Na primeira tentativa, caíram duas mangas. Eu chupei uma e guardei a outra. Esperei passar os carros, e joguei de novo o pedaço de pau em uma penca de mangas em cima da avenida.

Caíram outras duas e começaram a rolar ladeira abaixo.

Veio um carro, mas não passou por cima. Desci depressa do barranco e lá se foi de novo aquele senhor, agora com 58 anos, correndo morro abaixo pelo meio da Avenida São Paulo, atrás de duas mangas. Por sorte, ele olhou com cuidado, analisou a situação, e como não estava passando nenhum carro, ele conseguiu catar as duas.


Uma estava meio verde e rachou na queda.

A segunda manga era aquela maravilha de fruta. Tinha uma cor laranja avermelhada, pintinhas escuras de açúcar de tão madura. Uma legítima manga coquinho, pequena, mas deliciosa. E põe deliciosa nisso. Foi a manga mais doce que eu já chupei do ano passado para cá. Também, com tanto sacrifício e insanidade...

Com a boca e a mão sujas de manga, segui até a Padaria Rosália, no Shopping Granja Olga. Antes, porém, passando  pelo banheiro. Fui lá porque os pães daquela Padaria são excelentes, do tipo filãozinho. Tem de farinha normal e pão de farinha integral... Já tinha muito pão em casa, mas ir a pé na Granja Olga, sem comprar os pães da Santa Rosália, não vale.

Na descida da ladeira, fazendo o caminho de volta,  encontrei com uma senhora, acompanhada dos dois filhos, passeando com o cachorro. Ele viu uma coisa branca na beira da estrada e saíu arrastando a dona. Dei vontade de ligar para meus parentes em Belo Horizonte, eles adoram cães, desde o "leleco"


Liguei.

Conversa vai, conversa vem, minha cunhada disse que lá já estava escuro e chovendo. Morreram de inveja quando eu disse que aqui em Sorocaba o sol ainda estava se pondo e que eu estava fazendo minha caminhada ao por do sol!

Chegando em casa, de um espaço de festas ouvi o som de um violino, afinadíssimo, tocando alto aquela canção de amor:

"Eu sei que eu vou te amar

Por toda a minha vida


 Eu vou te amar..."



Um piano fazia o fundo para o violino. Imaginei que fosse a cerimônia de um casamento. Na entrada do salão estava escrito: Evento Fechado. Um coro de vozes lindíssimas entoavam canções de amor e  um holofote de luz forte, do tipo raio laser, riscava o céu de Sorocaba, já escurecido. Eram oito e meia da noite no horário de verão.

Ouvi a música da chegada do noivo.

Um grupo de pessoas assistia o movimento do outro lado da Avenida. Da janela do sobrado onde eu estava, vi quando uma enorme limousine branca chegou. Imaginei, deve estar com a noiva. Duas damas de cerimônia, vestidas de preto, entraram no carro. Depois de uns dez minutos parada, a limousine adentrou ao salão.

Ouvi a orquestra tocar "Assim Falou Zaratustra" de Richard Strauss, Tema do Filme Odisséia 2001. Logo em seguida, e sem intervalo, tocou a Marcha Nupcial. Eu não vi a noiva, mas imagino que devia estar linda.

Fui lavar a louça na pia da cozinha e ainda  ouvi outra música  - o tema de Simba e Nala d,o primeiro filme do Rei Leão.

"Esta noite o amor chegou

Chegou para ficar


E tudo está em harmonia e paz


Romance está no ar..."



Meia hora depois, meu pessoal chegou de Itu. Meu genro entrou na sala e perguntou: E aí, dormiu bastante?

Ele nem imagina o que aconteceu com a minha tarde. He he he!







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sábado, agosto 18, 2012

Um boldo no telhado

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Plectranthus barbatus
João Cruzué

Não sei como, mas bons anos atrás, um galho de boldo foi atirado no telhado da edícula. Em meio a folhas secas, depois molhadas pela chuva paulistana, ele soltou raízes e tornou-se uma touceira. Os anos vieram e se foram, e lá está o pé de boldo; murcho durante a seca, viçoso durante as águas, mas vivo. Muito vivo.

O tempo está muito seco em são Paulo. A chuva não vem há mais de 30 dias. A humidade está abaixo dos 30% e as frentes frias não passam do Rio Grande do Sul. O ano veio chuvoso até meados de julho, e aí, parou. Ao longo da semana, na volta do trabalho, eu não me esqueço de aguar minhas plantinhas. Eu gosto disso. Mudas de maracujá, algumas de pau-ferro, umas carambolinhas antipáticas e anêmicas, as novas mudas de hortelã pimenta, três mudinhas de café que nasceram depois de uns 60 dias; os lírios do sítio da falecida mãe, salsinhas, os três pés de cidra, e duas mudinhas de couve, do único pé corajoso que agradou do meu quintal.

Chegar à noite do trabalho e aguar as plantas do chão é uma coisa; subir no telhado da edícula para molhar a touceira de boldo é outra coisa. Perigosa. Então, hoje pela manhã, depois de mais de 30 dias, enchi o balde d'água e fui presentear meu amigo do telhado. Acho que ele teve sorte de estar vivo, porque cresceu escondido do sol da tarde pela sombra de uma mangueira.

Água. Sombra. E, vida.

Talvez você tenha crescido em um lugar totalmente adverso à vida como o boldo do telhado. Contra todas as expectativas, você está vivo e aguardando com paciência pelo dia que será transplantado para uma terra profunda. 

Enquanto isso,  mesmo debaixo da seca  prolongada do inverno não morreu de sede. Nem morrerá, pois o Senhor não se esquece de você, até que chegue a primavera e depois o verão.

Os vizinhos se admiram: Como foi que este boldo foi parar aí em cima e porque continua vivo? A resposta parece estar naquele versículo do Sermão da Montanha: "Olhai os lírios do campo". Sim, os lírios flores persistentes que brotam na seca do inverno, rompendo o solo ressequido com seus botões de flores. É muito fácil abrir as flores durante as chuvas, mas o lírio mostra todo seu esplendor durante a seca, para mostrar que o Senhor Deus cuida deles.

E, se Deus cuida de lírios e boldos, nunca, jamais se esquecerá das aflições do leitor que vier até aqui "por coincidência" para ouvir uma palavra do Senhor.