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quinta-feira, julho 14, 2016

Quanto vale a vida e o padrão de limpeza do Metrô Sé


Estação Sé do Metrô
João Cruzué

Esta semana eu comecei bem dodói. Domingo eu não conseguia beber nem um gole d'água, por causa de vômitos intermitentes. Acho que o fígado se estressou. O médico receitou uma canja de arroz, e não me deu remédio.  Aí, achei que uma água de coco ia bem. Foi. Mas, a imunidade baixa trouxe uma baita inflamação de garganta. Mesmo assim, eu fui à luta; na segunda, na terça e hoje. Quando a gente pensa que tem grandes problemas, aí você começa a perceber o quanto longe da verdade está.

Na saída do trabalho, hoje, passei na Frutaria do Seu João e da Irmã Socorro, no Centro de São Paulo. Eu lá estava comprando uma dúzia bananas nanicas, quando o Alexandre, filho dos donos, olhou para um moço esquálido, morador de rua, que estava parado na porta e disse assim:

-- Não precisa pegar as coisas no lixo; vem aqui que vou lhe dar algumas bananas. Dona Socorro, commpletou: Meu filho,  tenho um pouco de sopa aqui no fundo... Alexandre, pega lá para mim. E eu levantei os olhos e olhei para o rosto daquele moço, alto, magro, enrolado em um cobertor, e vi o retrato completo de entrega total à desesperança.

Comprei minhas bananas deixei uns trocados para o moço, e segui para a Estação Sé do Metrô. Nem bem havia descido as escadas, e notei um amontoado de gente. A princípio pensei que fosse o começo de uma fila. Depois, aquilo não era uma fila. Parecia mais com o evento de algum propagandista cercado por um círculo de curiosos. Também, não era propagandista. Três policiais estavam colocando uma manta térmica de alumínio sobre o corpo desfalecido de um homem seminu todo ensanguentado. Quando eles o moveram do chão com esforço, para colocar sobre a maca, muita gente colocou a mão na boca, de espanto, ao ver sangue para todo lado e um corpo inerte. Eu fiquei zonzo.

A vida sem Deus nesta cidade está valendo muito pouco. Apesar de um início ruim de semana, com vômitos e gripe, ainda assim não posso deixar de ponderar que há gente em situação muito pior. 

O curioso é que, enquanto  lá em Brasília "nossas" autoridades estão preocupadas em quem vai assentar-se na cadeira do Cunha e quando vão votar o projeto da famigerada CPMF, aqui no Brasil real tem gente catando lixo para comer, outros morrendo no metrô, e outros tentando apagar o rastro destas mazelas para não assustar tanto.

Antes de embarcar no trem da Linha Vermelha em direção à Estação República, ouvi o serviço de alto-falante da Estação anunciar:

--Encarregado da limpeza, apresente-se na SSO...


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