Mostrando postagens com marcador Vida Cristã. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vida Cristã. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

O cristão na universidade do deserto



João Cruzué
.
Por que será que o Senhor Deus, que é tão bondoso, dono da prata e do ouro, permite que cristãos fiéis sofram  provações? Aparentemente é um contrassenso a visão de ímpios vivendo regaladamente, incrédulos se "dando" bem na vida, enquanto honestos filhos de Deus comem poeira no deserto. 

Uma corrente filosófica diz que Deus criou o mundo e os seres humanos, mas que os deixou à mercê das circunstâncias e da própria sorte, à semelhança de uma grande tartaruga marinha. Quero dar meu testemunho para desmentir este sofisma.

De 31 de julho de 1992 e 13 de julho de 2003, eu fiquei desempregado. Bati em muitas portas, fiz muitas entrevistas, enviei centenas de currículos, falhando em todas as tentativas, exceto na última. Naquele tempo, perdi quase tudo que possuía. Para reduzir a despesa doméstica fui cortando e cortando gastos. Tiramos nossa primeira filha da escola particular, vendemos nossa linha de telefone. Nossa segunda filha fez o ensino básico em escola pública. Até nossa comida era medida.  Até que um dia,  voltando do supermercado com apenas um pacote de meio quilo de café, eu dei graças a Deus com lágrimas nos olhos.

Por falta de melhores oportunidades, fui para o campo plantar mandiocas em um sítio da família. Na vida espiritual eu estava bem, pois Deus não me abandonara. Ele me deu uma missão: Juntar literatura usada de Escola Dominical, para mandar para dentro de penitenciárias no Estado de São Paulo.

Só em julho de 2003, 11 anos depois, uma porta se abriu. Era um contrato de emergência para ser contador em um Hospital da Zona sul de São Paulo. No ano seguinte houve o concurso, e tive contratação definitiva. Durante aqueles seis anos vi muita gente nova chegando e tomando cargos maiores que por direito de oportunidade seriam meus. Todavia eu mantive um princípio: Aquilo que Deus me desse ninguém tomaria.

Em 2009, fui convidado a deixar o posto para fazer parte da equipe de contadores da Secretaria de Finanças do Município de São Paulo. Fui aprovado em entrevista feita com o próprio Secretário. Só que eu seria um celetista emprestado. Ficaria por lá à mercê do tempo e da corrente dos ventos.

Era uma grande honra. São os que são convidados para trabalhar naquele departamento. Eu estava muito contente. Mas, na semana da mudança, eu recebi um telegrama. Pensei que era alguma conta atrasada ou coisa pior. Falava de um concurso. Uma convocação do Tribunal de Contas para a cerimônia de nomeação em um cargo maior e um salário melhor.

Buscando na memória alguma lembrança do tal concurso fui parar em dezembro de 2005. Data de uma prova de concurso. Não é sempre que um concurso de validade por dois anos, é prorrogado. Um telegrama para escolher uma vaga depois de quatro anos... Coisa há muito esquecida. Foi um enorme surpresa que Senhor que me deu. E avisou-me que Ele era o autor daquela oportunidade. Isto aconteceu comigo em 12 novembro 2009.

O Senhor permitiu que eu fosse provado, amassado e afinado. Provasse da poeira do deserto e fosse até chamado de "coitadinho". E aos 53 anos, quando os todos achavam que minha vida sempre seria uma eterna mediocridade, algo novo aconteceu. Estamos em 04 de fevereiro de 2016, já se passaram mais de seis anos, e continuo agradecendo a Deus pela porta aberta no TCE-SP.

Se você está no deserto comendo poeira e caminhando sob um sol abrasador, não se desespere. Mantenha-se ocupado na vida material e se não estiver fazendo algo na Igreja, arranje alguma coisa de Deus para trabalhar no plano espiritual. Não descuide dos exercícios físicos nem da oração. Mantenha em equilíbrio o corpo  a alma.
O Senhor não se esqueceu de você. 

Ele não vai tirar você do deserto. Nem arrancá-lo da fornalha. A presença dele ao seu lado, é uma promessa fiel. E um dia, quando você não estiver esperando, Ele vai olhar para você, e vai dizer: Hoje eu vou mudar a sua sorte!

As provações são tempos de nossa vida que antecedem um período de grandes bênçãos. Se por um lado, elas expõem toda nossa fraqueza, por outro é durante as crises que Deus está mais perto de nós. 

Basta ser fiel no pouco e não ficar deitado e se lamentando no pó. Não existe tempo mais apropriado para aprender a não ter vergonha de dizer do fundo da alma: Graças lhe dou SENHOR, porque meu futuro está seguro em suas mãos. Eu ainda não estou vendo a solução deste problema, mas pela fé, eu sei, que ela esta a caminho.

Glória a Deus!




.


sexta-feira, junho 20, 2014

A maratona da vida cristã

.
Maratona
Maratona de Nova York - tantos como areia da praia
Renato Collyer

Blog do Renato

Ser cristão não pressupõe uma vida repleta de alegrias e alheia às tribulações. Muitas pessoas têm o errôneo entendimento de que seguir a Cristo é viver num mar de rosas. O próprio Jesus disse que enfrentaríamos problemas e que passaríamos por dificuldades ao longo de nossa caminhada por este mundo (João 16.3).

Isso não quer dizer, no entanto, que nossa vida deva ser repleta somente de dificuldades e perseguições. Por sua imensa compaixão, Jesus nos assegurou bênçãos, alegria e paz. A Bíblia nos mostra que quando estamos no centro da vontade do Pai, as tribulações têm efeito positivo, porque nos ensinam a depender de seu precioso amor.

A palavra tribulação significa sofrimento, aflição e adversidade. Também representa tormento e amargura. “Eis que foi para a minha paz que tive grande amargura, mas a ti agradou livrar a minha alma da cova da corrupção; porque lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados” (Isaías 38.17).

Como filhos de Deus, temos paz com ele através de Jesus Cristo. Fomos justificados, tendo livre acesso à paz e às bênçãos divinas. Porém é muito fácil oferecermos louvor e ações de graças quando tudo está estável. Adorar na calmaria é simples! A Palavra de Deus nos ensina que também devemos dar glórias nas dificuldades, sabendo que a tribulação produz paciência.

A paciência nos ajuda a suportar as dores e os infortúnios com resignação. É uma atitude que expressa nossa compreensão da vontade de Deus. Mesmo sendo uma difícil lição, devemos praticar a paciência em nosso lar, depois praticá-la na igreja local, no tratamento com nossos irmãos em Cristo e até com as pessoas que nos querem mal. “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis” (Romanos 12.12-14).

A tribulação também produz experiência. Assim como um soldado que só adquire experiência no campo de batalha, a experiência cristã demanda tempo na presença do Senhor, adorando-o e servindo-o. Isso porque não se adquire experiência no momento da conversão.

Essa experiência consiste na prática dos preceitos cristãos, na medida em que se obtém conhecimentos necessários para uma vida vitoriosa em Cristo. Há cristãos que não passam na prova da experiência porque são induzidos a pular etapas quando novos na fé. Assim, eles não adquirem o conhecimento e a maturidade espiritual, imprescindíveis para encarar os problemas de frente.

Ao invés disso, murmuram contra Deus e chegam até mesmo a desistir da caminhada cristã. Em virtude disso, é imprescindível a prática da paciência para aprender as lições da experiência. Siga o exemplo de Davi: “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Salmo 40.1).

Para suportar as tribulações é preciso ter fé.

Certa vez, quando estava dando aula para um grupo de adolescentes, expliquei para eles que a fé em Cristo pressupõe três elementos essenciais: sensibilidade, esperança e perseverança.

Sensibilidade. Presenciei situações de pessoas que não tiveram a sensibilidade suficiente para receber as bênçãos dos céus. Elas não estavam sensíveis à voz do Senhor. Estavam tão incrédulas que foram incapazes de sentir o mover de Deus.

Ter sensibilidade é estar atento ao chamado do Pai. É não criar barreiras internas para a ação sobrenatural do Senhor. Dentre outras razões, a falta de sensibilidade é também um dos impedimentos que obstam o agir de Deus na vida do cristão.

Quando nosso coração não está sensível, deixamos de acreditar que o milagre existiu e damos lugar à dúvida, outro fator que impede que contemplemos o Reino de Deus nesta terra. Abra seu coração e se permita depositar plenamente sua confiança no Senhor.

Esperança. O apóstolo Paulo escreveu: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5.3-5).

Esperança é a atitude de aguardar algo que se deseja e não simplesmente desistir no meio da jornada. O cristão deve esperar, confiando que Deus cumprirá todas as promessas que fez. Nos momentos de angústia não podemos perder a esperança. É um componente essencial da fé. Sem esperança, não há fé.

Jó foi um exemplo de como um servo de Deus pode ser vitorioso nas tribulações. O patriarca perdeu seus filhos e toda sua riqueza em um só dia. Mesmo diante da adversidade, lançou-se em terra e adorou ao Senhor. “Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou” (Jó 1.20).

O relacionamento com Deus não é mera teoria, mas realidade para aqueles que o buscam e esperam o cumprimento de suas promessas. “E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” (Jeremias 1.12). Nosso Pai Celestial nunca falha (Isaías 43.13) e está sempre pronto para conceder o desejo do nosso coração (Salmo 37.5), mediante sua perfeita vontade.

Perseverança. As lutas e tribulações fazem parte da vida cristã do mesmo modo que as bênçãos divinas. Jesus disse que no mundo (vida secular) teremos aflições, mas que devemos ter perseverança, pois ele venceu o mundo. As tribulações servem como aperfeiçoamento do caráter cristão.

Durante os Jogos Olímpicos, vemos diversos atletas de diferentes países competindo por uma medalha de ouro. Alguns desses atletas recebem altíssimos patrocínios e gozam de uma vida financeiramente estável. Porém muitos que ali estão não possuem sequer condições para se manterem em seu próprio país de origem. Esses últimos, entretanto, são os que recebem mais atenção da mídia quando conquistam uma medalha.

O motivo? Perseverança.

Os atletas que possuem os melhores equipamentos, a melhor estrutura, os melhores patrocinadores não chamam tanto a atenção quando conquistam a medalha porque, de certo modo, já se era esperado que eles ganhassem, e chegassem ao lugar mais alto do podium. Os verdadeiros heróis são aqueles que conseguem ultrapassar as barreiras do preconceito, do racismo, da quase miserabilidade e conquistam a medalha de ouro.

Os heróis não vivem em casas luxuosas e gozam de uma vida de fartura. Os heróis (de verdade) vencem inimigos muitos mais poderosos do que seus oponentes.

Do mesmo modo acontece na grande maratona cristã que perfazemos a cada dia. É preciso perseverança para vencer os obstáculos da vida e alcançar o grande prêmio: a coroa da vitória em Cristo.






.

domingo, junho 10, 2012

A Igreja perfeita para congregar

.

Quadro de T. Kinkade

João Cruzué

Venho observando há algum tempo um processo de busca pela Igreja ideal. Sei também da existência de pessoas, que ao longo da vida, têm visitado Igrejas após Igrejas, procurando por aquela que lhes produza uma emoção mais forte na alma. E quanto mais buscam, e quanto mais visitam, mais se frustram por que em lugar algum encontraram Deus.

Para ter um encontro com Deus é preciso buscar a Deus.

Assim falou o apóstolo Paulo diante dos filósofos no Aerópago de Atenas: "O Deus que que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens"...e Deus fez toda a geração dos homens para habitar a terra. Para que buscassem ao Senhor, ainda que tateando, o puessem achar, por que não está longe de cada um de nós.

Deus está mais próximo de nós do que uma Igreja.

Para encontrar a Igreja perfeita você precisa primeiro ser encontrado por Deus. Deus é Espírito. Onipresente. Onisciente. Onipotente. Se houver um interesse, uma sede, um desejo intenso de sua parte para se encontrar com Ele, não vai ficar frustrado ou frustrada. A partir do momento que você decidir encontrá-lo, e mais que isso: decide servi-lo de verdade, o próprio Deus estará atento para ouvir o que você tem a dizer.

Por que é tão simples assim? Não se esqueça de que Deus é o Criador.E que seu filho, Jesus Cristo, veio a esta terra, para ser o caminho para chegar até a presença de Deus. Fora de Cristo não há nenhum outro Deus intermediário. Até Maria, a mãe de Cristo, a mulher mais bem-aventurada em todos os tempos na terra, disse: Fazei tudo o que Ele [Cristo] vos disser.

Não existe uma fórmula mágica nem um lugar especial para conversar com Deus. O lugar quem decide é você. Basta que seja tranquilo, onde você possa conversar com Deus, sem interrupções. É como um namoro: um lugar onde os dois possam estar a sós. No quarto, na sala, na cozinha, em rua sossegada. Fale com Deus como se Ele estivesse assentado ao lado de sua cama. Ou no sofá de sua sala; na cadeira da cozinha; caminhando ao seu lado na rua. Abra o seu coração e fale com ele. Deus já sabe o que vai no seu coração, mas tem interesse em ouvi-lo, para que você aprenda a dialogar com ele.

Se você fizer isto com sinceridade, pergunte para Ele onde você deve congregar. Peça ajuda para encontrar a Igreja onde você vai congregar. A Igreja que Ele sabe que você vai ser bem instruído, edificado. A Igreja onde você vai servir, trabalhar em vez de ser servido.

É por isso que há milhares de pessoas que já passaram por tantas Igrejas, e nunca encontraram a Deus. Uma pessoa com desejo sincero de ter um encontro com Deus, com certeza vai ver seu desejo realizado. Quem visita igrejas apenas por curiosidade, sem um interesse verdadeiro, sem ter nehuma sede de Deus, vai procurar a vida toda. Pior, pode se achar congregando na Igreja errada.

Também tenho uma palavra para quem já é cristão há muito tempo, e anda insatisfeito, ou deixou de congregar, permancendo em casa. É um lindo sermão de Martinh Luther King, que traduzi e sua mensagem fala muito comigo: Redescobrindo os Valores Perdidos. É lindo e esclarecedor.

Assim está escrito no Livro do Profeta Jeremias: Assim falou o Senhor Deus: "Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então, me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração."

A Igreja perfeita é o coração de um crente onde a presença de Deus habita. E isto depende primeiro de um concerto, de um compromisso pessoal, um comprometimento de se involver com algo que agrade ao Senhor. Se isto não for feito, você nunca vai encontrar a igreja perfeita, porque você é parte dela.


Deus lhe abençoe.

...

Se quiser ler mais: Primeiros Ensinos

.



sábado, junho 12, 2010

O perigo da insatisfação na vida diária do cristão


Photobucket
Cruzando o Mar da Galiléia


"De que se queixa, pois, o homem vivente?

Queixe-se cada um dos seus pecados."

Lamentações 3.39

João Cruzué

Quero refletir um pouco sobre as dificuldades de orientação que nós cristãos, já conhecedores da Palavra, enfrentamos ao ficar insatisfeitos pensando na Igreja perfeita, um porto seguro para congregar com a família em tempos tão profanos. Um dilema bastante comum em nossos dias.

A Igreja do Senhor é perfeita, todavia, constituída de membros imperfeitos que por opção pessoal podem ser lapidados ou não pela palavra. Não sei porquê, mas por duas vezes Ernest Hemingway passou pela minha mente quando dei título ao post, e neste parágrafo em particular, lembrei-me daquele prefácio do pastor anglicano John Donne no Livro "Por Quem os Sinos Dobram":

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.


O individualismo, hoje, tem um viés mais forte do que nunca e o isolamento pode produzir e alimentar em nós uma profunda insatisfação com a própria Igreja. É neste ponto que começamos a ver no próximo defeitos que na verdade julgamos que não estão presentes em nós.

Certa vez Jesus ordenou aos discípulos que cruzassem o "Mar" da Galiléia, enquanto ficou para trás. Ele foi orar. Interessante: Se Jesus era Deus, por que precisava orar? A resposta que achei foi: o prazer da comunhão. De estar em contato com o Pai. Há uma didática (antiga) neste hábito: se o que era Perfeito buscava comunhão, para suas orientações diárias, então, nós cristãos por mais "sabidos" que somos, também necessitamos do mesmo hábito, para manter viva a mesma comunhão.

Os discípulos corriam perigo. O Senhor os viu em plena luta e os socorreu. Entrou no barco, repreendeu o vento e mandou que o mar se calasse. Há muitos cristãos à deriva, açoitados pela força do vento e pela fúria do mar. O vento das novidades, o mar do secularismo e a fúria de um olhar crítico. Ficamos insatisfeitos e esta insatisfação pode ser benéfica ou perigosa, dependendo do caminho que tomarmos.

A crise de identidade evangélica pode nos levar a um aumento da sede de comunhão com o Senhor. Neste sentido, é Deus quem nos coloca no barco e manda que atravessemos o mar. Embora não esteja no barco o tempo todo, ele o observa atentamente. Isso produz experiência, crescimento, e desejo de maior comunhão.

Outro tipo de crise de insatisfação pode nos açoitar - como fez com o filho pródigo. Esta não produz sede de oração, nem desejo de comunhão com Deus. Ela é perigosa, pois nossos olhos focam apenas defeitos naquilo que observam: excesso de ortodoxia, liturgias adormecedoras, pastores ignorantes, antagonistas em lugar de irmãos, Teologia da Prosperidade entrando e saindo dos púlpitos, Política secular ocupando mais tempo de pastores que planos eclesiásticos. Aí o mundo começa a parecer mais justo que a própria Igreja. Aqui mora o perigo.

Não havia nada errado com com a Casa do Filho Pródigo. O coração do moço foi sendo envenenado aos poucos pelo seu (ou de outrem) pensamento crítico exagerado. Sua insatisfação pessoal o levou ao desvario, depois ao desvio, ao desperdício e à derrota. Foram as orações do pai que o trouxeram de volta, pois coube ao jovem o benefício da inexperiência.

A insatisfação de cristãos experientes pode ser mais complexa. E muito mais perigosa. É a insatisfação do filho mais velho da parábola que começou a criticar a justiça do próprio pai. Eu fico pensando, é bem possível que a causa do "envenenamento" da mente do irmão caçula tenha sido as críticas do primogênito. E esta também pode ser a mesma explicação para tantos filhos de crentes tomar o destino do mundo, envenenados pelo criticismo dos mais velhos, que parecem-se mais com o "promotor" de Jó.

Se por um lado é difícil encontrar a Igreja perfeita, aquela que possa satisfazer a visão de cada um, por outro, o conhecimento bíblico de lidar com a situação já faz parte da bagagem. Se Jesus, que era muito mais experiente, sábio, tinha seus problemas de orientação e solidão e os resolvia através de mais comunhão, não há outro caminho senão buscá-la através de orações individuais ou em cultos domésticos.

O Senhor era profundo conhecedor dos corações e da hipocrisia humana. Não desperdiçava seu tempo anotando defeitos, nem murmurando das pessoas, nem jogando-lhes em face seus pecados. Por então um crente deveria adotar este comportamento tão mesquinho e maligna? O diabo sim, quando nos vê, só enxerga coisas ruins. Mas Jesus não é assim: Ele nos vê com olhos compassivos. Ainda que só tivéssemos mil deifeitos e apenas uma virtude, é sobre ela que Ele focaria seus olhos para depois nos animar.

O mar está revolto por causa da fúria do vento? O barco parece furado e parece menor que as ondas do mar? Quem sabe a solução não esteja em abandonar o barco, mas em trazer Jesus para dentro dele?

Ao dedicar mais tempo para estar na presença do Senhor, os defeitos dos homens diminuem e nossas escolhas têm menos chances de afundar. Pior: de fazer afundar a vida espiritual dos mais jovens em nossa própria casa.


cruzue@gmail.com

.