sábado, setembro 26, 2009

Por que "seu" Mário voltou a morar na Praça da República

.João Cruzué

De vez em quando, como você já deve ter percebido, eu tenho escrevido algumas crônicas sobre o que tenho visto no Centro da Paulicéia, meu novo local de trabalho, desde o início do ano. Hoje eu desejo falar do "seu" Mário, um conhecido morador de rua, que tem seu lar em uma bancada de jardim da Praça da República. Ele foi embora da Praça, mas não conseguiu ficar longe. Seu Mário voltou.

Desde a primeira vez que vi seu Mário não pude mais esquecê-lo. Eu fique asssutado com seus gritos e impropérios. As palavras mais chulas que, talvez você ainda não tenha ouvido, eram ditas a plenos pulmões ofendendo a mãe e toda parentela de transeuntes que o provocavam. Eu percebi que seu Mário, se não era possesso, já era acostumado a emprestar sua boca ao demônio.

Eu fiquei sabendo do seu nome, através de minhas colegas de trabalho. Moças e senhora evangélicas. Administradoras, advogadas, funcionárias públicas. Elas decidiram caminhar pela Praça no intervalo do almoço à procura de alguém para falar do amor de Deus. E foi ali que, na bancada do jardim , na saída do Metrô, atrás do Colégio Caetano de Campos, elas "acharam" seu Mário. Uma pessoa com graduação em Economia, mas morador de rua conhecido e esquecido pela ou da família. Foi o que apuraram.

Eu já sabia de casos e casos de moradores de rua, mas nunca tinha ouvido falar que um morador de rua pudesse ser um economista.

Orando e buscando ajuda, minhas colegas conseguiram um abrigo católico para receber e cuidar do seu Mário. Durante três a quatro semanas os transeuntes da Praça da República notaram a ausência de seu Mário. Quando eu pensei que ele já tivesse encontrado um lar definitivo, ele voltou. Para minha tristeza.

Na semana que seu Mário voltou choveu muito. Ele praticamente fica assentado o dia inteiro no mesmo lugar. E deitado sob um cobertor velho. Mesmo tendo chovido a noite inteira, ao sair do Metrô eu o vi seu Mário no lugar de sempre. Entre o céu e seu Mário o único teto era um cobertor molhado. Ensopado.

Por que seu Mário voltou? Eu não tenho a resposta para esta pergunta. Talvez uma ideia que se aproxime dela. Seu Mário perdeu a noção de família. Aliás, foi perdendo pouco a pouco. Mesmo sendo recebido com muito carinho onde foi acolhido, ele sente saudades da solidão do bancada de cimento no meio da rua. Mas trouxe um costume novo de onde ele esteve pela última vez: não tenho visto ele xingar.

Não sei se foi por problemas mentais (não parece) ou por rabugice extrema. O fato é que, enquanto ele se desgarrava da família, foi se apegando a um endereço na Praça. Um endereço que não tem número, nem porta, nem teto. A esquina de uma bancada de cimento que circunda um canteiro de jardim na Praça. Ele pode se mudar, mas isso pode levar tempo. Não deve ter sido a primeira vez que concordou em ser cuidado em um abrigo de uma instituição religiosa. Católica. Mas eu creio, que entre idas e vindas ele poderá estabelecer novos vínculos de apego em um endereço de verdade.

Eu creio que moradores de rua podem se mudar para lares verdadeiros. Existe um remédio que, se ministrado pelo menos uma vez por semana, durante certo tempo, pode fazer efeito duradouro. É um frasco de amor cristão. Uma única dose pode não ser o bastante para curar, mas se for administrado com teimosia vai tirar muitos "Mários" da rua.

O que fazer se nem todos os cristãos têm ministérios para cuidar de moradores de rua? Talvez investindo em pequenos gestos despretendiosos. Eu descobri que seu Mário gosta de pão-de-queijo. Ou será pão de queijo?

cruzue@gmail.com

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Um comentário:

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