sábado, janeiro 10, 2009

O dia das coisas pequenas


"Quem Desprezará o Dia das Coisas pequenas?"
Zacarias 4:10

Foto de crianças do Peru
Projeto Piura de Missões do Pr. Leonardo Gonçaves

João Cruzué

Temos um casal de irmãos brasileiros, Pr. Leonardo e Jonara Gonçalves trabalhando com missões em terras peruanas. Eu pedi, e fui presenteado com lindas fotos de crianças do Projeto Piúra, uma missão da Igreja Batista lá no Peru. Em homenagem ao trabalho dele, estou redigindo este texto que fala sobre crianças na Igreja. Eu já sou um "tiozão" de 53 anos de idade, cara feia, e dizem os da casa - muito rabugento. Na verdade a "cara" é feia, mas o coração é mole. Eu gosto de crianças. Fico muito triste com a forma com que elas são tratadas dentro da Igreja. Separadas, acusadas de barulhentas, sem modos, ciganas dentro do templo, sujeitas a broncas do púlpito. Assim com advertiu o Profeta Zacarias, também vou somar com ele e dizer que não podemos desprezar o dia das coisas pequenas.

Em 1995, eu estava dirigindo uma congregação da Assembléia de Deus no Parque Santo Antônio. Era um dos bairros onde mais se matava na periferia da Zona Sul de São Paulo. Era minha primeira experiência como pastor de Igreja, e estava no meu primeiro ano. A congregação era muito simples, um prédio alugado onde se acomodava cerca de 100 pessoas. A maioria delas de famílias de pernambucanos emigrantes da Região dos engenhos falidos, povo muito paciente que nos suportou com bravura e muito oraram por mim e minha casa.

No primeiro domingo de minhas atividades como dirigente daquela Igreja, observei um fato curioso: durante a Escola Dominical, as crianças se ajoelhavam no chão para desenharem com lápis de cor nas lições que estavam apoiadas no assento dos bancos. Aquilo chamou minha atenção. Entre os membros daquela congregação havia um jovem senhor que era marceneiro, e junto com ele fizemos planos para construir duas mesas de fórmica.

Dito e feito. Compramos uma grande chapa de madeira, a folha de fórmica, cola, lixas, pregos, um cortador de fórmica, sarrafos para as laterais e cavaletes. Mãos à obra e duas mesas ficaram prontas. Depois de montadas sobre dois cavaletes, cada, ficaram exatamente na altura de uma criança. E nós vimos que aquilo era bom, parafraseando o primeiro capítulo de Gênesis.

Não sei de onde surgiu tantas crianças. Cerca de 30 a 40. A partir daquela data, até os dias de hoje, nenhuma criança daquela Igreja precisou se ajoelhar no chão frio para estudar ou desenhar sua lição. Foi o investimento de maior retorno que eu vi naquele lugar.

Cada Igreja tem aquele grupo que mais se destaca no culto ao Senhor. Na AD do Parque Santo Antônio era o grupo infantil. Minha filha caçula, na época, tinha quatro aninhos. Quando ela cantava com a irmã mais velha, imitava um contralto, pois era uma voz rouca, grave, parecendo um besourinho. Sabe o que aconteceu? Deus deu uma unção de louvor tão forte, que ao solar alguns hinos no grupo das crianças, a Igreja se alegrava em Espírito. Aquela unção continuou até a adolescência. A voz de besourinho sumiu e em seu lugar Deus colocou um timbre maravilhoso. Amanhã é dia de meu aniversário e se eu pudesse, lhe pediria que cantasse aquele Hino "Milagres" que o Robson cantava.

O coral infantil daquela Igreja era o melhor grupo da congregação. Entre quase setenta congregações do Setor, ficava entre os três primeiros. Crianças simples, que moravam quase todas em terrenos da Prefeitura à beira de Córregos. Mas o louvor era de primeiro mundo.Angelical. Sabedora disso, uma vizinha nossa da Igreja Presbiteriana, que trabalhava na Casa de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo em Santo Amaro, indicou o nosso coralzinho para cantar em um evento da Igreja Metodista Alemã, ou algo parecido, que acontecia todo ano no Bairro do Brooklin.

Na época, as crianças já possuíam lindas e longas becas azuis e brancas que desciam ao chão. Entre os corais que se apresentaram, deixando a modéstia de lado, foi o melhor ou um dos melhores. Na mesma semana, atendi um telefonema de um senhor nos convidando para cantar em um evento de Natal no Salão de Convenções do Anhembi - o maior de São Paulo. Recusamos o convite, mas ficamos muito honrados.

E tudo começou com um olhar e a constatação de que o chão frio não era o melhor lugar de apoio para se desenhar uma lição de Escola Dominical. Hoje, não estou mais no ministério pastoral. Mas, se algum dia o Senhor me quiser à frente de outra congregação, meu primeiro investimento sabe onde será? Na área infantil.

O desprezo a esta gente pequena e a rabugice contra o barulho e o corre-corre, não passa despercebido pelos olhos de uma criança, quando ela está na Igreja. Ela é pequena no tamanho, mas percebe muito bem quando não é bem recebida e nem aceita. Deveríamos tratá-las como príncipes, estender o tapete vermelho quando entrasse na Igreja, sob um mar de aplausos. É isto que estamos vendo? Eu creio que não.

Não estaria longe da verdade se dissesse que muitas famílias cristãs não sabem mais como fazer para levar seus filhos adolescentes aos cultos. Uma multidão deles estão amargos, tristes, deprimidos quando chega o domingo e não têm mais vontade de ir na Igreja. Eu sei que há muitas outras causas, mas quem é que deixaria de ir em um lugar onde sempre foi bem recebido e amado? Por que será que ambientes e músicas não cristãs estão atraindo tanto os filhos dos crentes? Pode ser que, quando pequenos, não eram bem recebidos nem tratados como gente - porque eram só "crianças".

O culto na Igreja não pode ser apenas um tempo e espaço exclusivo de adultos. Não sou favorável a que elas fiquem separadas durante o culto. Isto tem cheiro de segregação. Gueto!

Investir no Ministério Infantil traz altos retornos. Se os nossos filhos adolescentes têm mais prazer de ir a qualquer lugar, menos na Igreja, isto é sinal de que algo está errado e precisa ser corrigido. Em tempos tão difíceis em que os agentes do tráfico estão recrutando os filhos dos mais pobres para seguir "plano de carreira" no ramo do "pó", a Igreja evangélica precisa traçar uma estratégia nova e fazer planos e criar projetos, para transformar o tempo do culto e de outras atividades a coisa mais prazerosa da vida de uma criança.

Não podemos desprezar nem o dia nem os pequenos. Jesus não despreza.



cruzue@gmail.com
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6 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante o texto João. O que o senhor acha da idéia de as crianças terem um culto focado para elas? (se o espaço da igreja permitir, claro)
Ahhh, parabéns adiantado João, Deus te abençoe muuuuuito e toda a sua família. Não sei porque te consideram rabujento, mesmo não te conhecendo pessoalmente (hahaha).

Anônimo disse...

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Ao Felipe,

Obrigado, meu leitor assíduo. Eu não mereço, mas sempre agradeço.

É legal ter um culto para as crianças se houver espaço adequado.

Mas não é assim que pensam os pastores quem têm muito êxito no trabalho com crianças.

Precisa verificar direitinho se as crianças estão lá por causa do espaço ou para não torrar a paciência dos adultos na Igreja.

Eu acho que os ministros da Igreja podem até achar que é benéfico que elas tenham seu cantinho, mas a maioria dos membros da Igreja acharia incomondo a presença delas no Culto. Por causa do barulho, andanças e conversas.

Para ficar só por aqui.


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Leonardo Gonçalves disse...

Paz irmão João,

Muito obrigado por mencionar o Projeto Piura, e por divulgar a foto da nossa criançada. Tenho uma boa notícia: com apenas uma semana de blog já consegui a adoção de 2 crianças! Que ferramenta extraordinária são os blogs, rs.

Vou ficando por aqui, na escolinha da blogança, observando e aprendendo com os blogueiros experientes como você.

Jonara está mandando um abraço, e o Ravi - esse ainda não sabe falar, mas se soubesse ele também mandaria com certeza, eheh...

Que Deus te abençoe grandemente,

Leonardo Gonçalves.

Adriana Rangel disse...

Quero parabeniza-lo pela qualidade e conteudo do seu blog.
Deus o Abencoe ricamente!

Anônimo disse...

Parabens foi a unica palavra no meu pobre vocabulario para falar sobre o blog olhar cristao e tambem pulpito cristao e o projeto desses verdadieros apostolos (enviados) para desbravar o campo missionario onde nunca ouviram falar de jesus

claudio pimenta
crsmedeiros@hotmail.com

Anônimo disse...

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Irmão Cláudio,

Obrigado pelo comentário incentivador.

Repasso suas palavras ao Pr. Leonardo Gonçalves e a Missão da Igreja Batista no Peru, os verdadeiros responsáveis por este belo trabalho.

Quanto ao Blog Olhar Cristão, estamos aí na luta, tentando servir à comunidade evangélica

Muito Obrigado,


Irmão João