domingo, junho 01, 2008

Pesquisas com células-tronco embrionárias


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João Cruzué - 07/03/2008

Aproveitando o calor do debate entre a Igreja, a comunidade científica, a imprensa e o governo, quero tecer minhas considerações e emitir opinião sob o ponto de vista tanto religioso quanto científico. Esta opinião é pessoal e não representa o pensamento religioso da Igreja a que pertenço. Sou favorável a pesquisa científica com células-tronco embrionárias, com ressalvas. João Cruzué.

Antes de emitir nossos comentários, alguns artigos publicados na WEB.

"CÉLULAS TRONCO"
Mayana Zatz é professora de Genética Humana e Médica do Departamento de Biologia, Instituto de Biociências da Universidade São Paulo, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano – IB -, presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular e membro da Academia Brasileira de Ciências.

O que são Células Tronco
Mayana Zatz - "São células que têm a capacidade de diferenciar-se em diferentes tecidos humanos. Existem as células-tronco totipotentes ou embrionárias, que conseguem dar origem a qualquer um dos 216 tecidos que formam o corpo humano; as pluripotentes, que conseguem diferenciar-se na maioria dos tecidos humanos, e as células-tronco multipotentes que conseguem diferenciar-se em alguns tecidos apenas. É preciso deixar o embrião chegar à fase de blastócisto, isto é, com 64 células, o que leva no máximo cinco dias. É fundamental deixar claro o processo para as pessoas entenderem o que pretendemos".

"O corpo humano,
porém, guarda um mistério que ainda não foi decifrado. Como se sabe, depois da fecundação, a célula se divide em duas, de duas em quatro, de quatro em oito e assim sucessivamente até atingir a fase de algumas centenas de células com o poder de diferenciar-se em qualquer tecido. No entanto, em determinado momento, elas recebem uma ordem e umas se diferenciam em fígado, outras em ossos, sangue ou músculo, por exemplo. Daí em diante, todas as suas descendentes, de acordo com essa mesma ordem, continuarão diferenciadas: a célula do fígado só vai dar origem a células do fígado; a do sangue, só a células do sangue. Não descobrimos, ainda, como funciona essa ordem que a célula recebe para diferenciar-se nos diferentes tecidos".

"A segunda hipótese refere-se aos casais que já implantaram os embriões, tiveram os filhos que queriam e não vão mais recorrer aos embriões de boa qualidade que permanecerão congelados por anos até serem definitivamente descartados".

"Acho que é uma coisa do outro mundo e que existe muito desentendimento e desinformação, porque a proposta é usar os embriões que sobram nas clínicas de fertilização e vão para o lixo. Veja o que acontece. O casal tem um problema de fertilidade, procura um centro de fertilidade assistida, juntam-se o óvulo e o espermatozóide e formam-se os embriões. Normalmente são dez, doze, quinze embriões, alguns de melhor qualidade, mas outros malformados que não teriam a capacidade de gerar uma vida se fossem implantados num útero e vão direto para o lixo. Esses embriões descartados serviriam como material de pesquisa para fazer a linhagem de células totipotentes".

Fonte: http://drauziovarella.ig.com.br/entrevistas/celulastronco1.asp


COMENTÁRIOS PESSOAIS

Antes de mais nada, além de religioso sou técnico de inseminação artificial, não de seres humanos, mas de animais; mamíferos do mesmo jeito. Conheço alguns conceitos como bases nitrogenadas, DNA, genes, cromossomos, divisão celular e reprodução - o mínimo para um entendimento básico do assunto.

O limite que a ética cristã impõe sobre a ciência, ao nosso ver, está calcado em João 10.10. Daí, passo a inferir que não se pode destruir ou prejudicar uma vida em benefício de outra. Um exemplo positivo: doar sangue. Não traz prejuízo a quem doa, todavia ajuda manter a vida de quem precisa. Um exemplo negativo: o mercado de órgãos vitais no submundo da WEB, como no texto publicado em 19/02/2008 pela blogueira Daniela Alves, em http://blogdanielaalves.wordpress.com :


"TRÁFICO DE ÓRGÃOS"

"Foi descoberta na Índia uma rede de tráfico e venda de órgãos humanos pela internet alimentada por milhares de pessoas através das páginas de [sites de] relacionamento Orkut e Facebook, bastante populares no país e entre indianos no exterior. As buscas partem de ambos os lados: aqueles que desejam comprar e aqueles que querem vender, principalmente, para resolver problemas financeiros e pessoais.

Através de uma investigação articulada pela Agência Indiana de Notícias - PTI, foram encontradas pelo menos 35 comunidades no Orkut, através das quais era possível procurar, negociar e comprar órgãos, sobretudo rins. Já no Facebook, milhares de pessoas encontram-se inscritas, mas ainda não foi possível fazer nenhuma estimativa de quantas o usam para o tráfico de órgãos.

A investigação, relacionada também com a polícia indiana, partiu primordialmente de um jovem estudante de informática, Santosh Kulkarni, que encontrou transações deste tipo pela internet.


Entre os investigados, por exemplo, está um homem, que para superar as despesas médicas relativas à doença da irmã, resolveu colocar o próprio rim à venda, através do Orkut, pelo preço de aproximadamente 12 mil euros. Outro homem estava negociando seu rim para pagar as despesas de uma inseminação artificial em sua mulher, já que ela não pode ter filhos naturalmente".


Então, conhecedor dos aspectos básicos tanto científico quanto da ética cristã, vamos aos fatos. É possível cientificamente através de um equipamento alemão chamado "micropartidor" dividir perfeitamente um embrião ao meio e gerar duas vidas - gêmeos idênticos. Há possibilidades de até quatro. Neste caso não haveria a destruição de um em benefício da saúde de outro.

Casais que não têm filhos, quando procuram por auxílio da medicina para conseguir tê-los, procuram por um especialista em reprodução assistida. Sem ater-se a detalhes técnicos dos eventuais problemas de ordem fisiológica esta concepção artificial nada mais é do que a fertilização do óvulo in-vitro ou em tubos de ensaio. O termo artificial, na verdade não seria adequado, pois a concepção continua sendo regida pela mesma lei, isto é, a união dos zigotos. O que é artificial é a maneira que o espermatozóide(s) adentra no óvulo, isto é, injetado(s) por uma agulha, daí a razão da freqüência gravidez múltipla.

Para que haja sucesso nesta fertilização vários óvulos da mesma mulher são coletados periodicamente para maiores possibilidades de sucesso. Então, a partir de uma quantidade de óvulos congelados em tubos dentro de botijões de nitrogênio líquido a -196º, parte deles é retirada, e após etapa de climatização (alguns segundos em água morna à temperatura de 36,5°), estão prontos para injeção artificial dos espermatozóides. Com certeza, após esta técnica científica, haverá mais de uma concepção, pois vários óvulos são utilizados. Após a fecundação inicia-se a divisão celular. apenas o embrião mais sadio será escolhido para ser "colado" ao útero da mulher em data apropriada. O Dr. Roger Abdelmassih, perito em reprodução assistida, já contabilizou em seu diário mais de 5.000 bebês nascidos sob seus cuidados.

Como neste processo não serão usados todos os embriões obtidos, nem existem fila de espera para aproveitamento de todos eles, o destino da sobra um dia será o lixo. Não se trata da retirada de um embrião vivo colado em um útero materno para massacrá-lo em pesquisas. Na realidade, esses embriões são as sobras de um processo artificial de fertilização em muitos casos positivos, congelados a -196º. Creio que neste sentido, ao concordar com a não utilização deles, estou automaticamente aceitando sua destinação ao lixo, mas cedo ou mais tarde.

Meus vizinhos esperaram 18 anos para ter seu primeiro filho biológico. Ele veio apenas pelo processo de fertilização in-vitro. Hoje deve ter 10 anos e é perfeito. Neste caso, a criação de uma vida em meio à esterilidade está plenamente de acordo com a ética cristã. Dois anos mais tarde, veio uma menina, hoje com oito anos, uma bênção. Nunca perguntei quantos embriões foram jogados no lixo nas muitas tentativas de fertilizações in-vitro que fizeram.

Então, estamos diante de caso polêmico. De um lado um ministro (STF) falando asneiras, de outro a ética cristã diluída em um pouco de hipocrisia e ainda de outro a ciência desejando não ter limite algum para suas pesquisas. Eu me pergunto o que eu faria se estivesse em uma situação onde minha esposa e eu não pudéssemos ter filhos e recorresse à medicina para conseguir este sonho através de uma fertização in-vitro.

Se o médico me perguntasse: "Qual deve ser o destino dos embriões que sobraram depois do sucesso da implantação do escolhido no útero - vocês querem que eu os jogue no lixo ou os doe para que produza a cura para pessoas com muitos tipos de males?"

Deixo a resposta por sua conta.

Caso você seja de opinião que deveria deixá-los seguir seu caminho normal até à morte, permita-me discordar e classificar tal atitude como omissão. O correto então seria promover uma fila de mulheres dispostas à implantá-los e conceder-lhes uma chance de vida, a começar pela sua parentela. Mas tenho minhas dúvidas se a família proprietária dos embriões quisesse dispor deles dessa forma.

Por isso, de acordo com as informações que disponho no momento, sou favorável ao uso de embriões com a ressalva de que sejam - remanescentes de fertilizações in-vitro - em pesquisas científicas voltadas para a cura de patologias humanas, porque isto é melhor que jogá-los no lixo ou deixá-los apodrecer até á morte.



João Cruzué

Para o Blog Olhar Cristão
Postado em 07/03/2008
cruzue@gmail.com


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2 comentários:

Cíntia Kaneshigue disse...

Caro irmão João!A paz!
Tenho dois filhos concebidos de maneira natural,então nunca tive conhecimento sobre as técnicas in vitro,pelo que entendi,são vários óvulos fertilizados,e um escolhido , o restante normalmente vai pro lixo??
é assim mesmo?se esse é o caso com certeza essa história "cristã"contra as pesquisas,são mesmo de uma hipocrisia sem tamanho!!

Joao Cruzue disse...

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Irmã Cíntia,

Tecnicamente tudo que escrevi acima é verdade. Não posso jugar com TOTAL hipocrisia o fato de uma liderança de igreja ser totalmente contra o uso de embriões em pesquisa. Como vivemos em uma democracia onde cada um é livre para expressar sua opinião, devo respeitar o contraditório.


Também não posso concordar com o descarte dos embriões não utilizados pelo casal que buscou o o caminho da reprodução assistida. O lixo não é o melhor destino.

Nesta situação creio que, dentro dos limites balizados pela lei, o melhor destino seria o uso em pesquisas científicas.


Obrigado pela sua participação.


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